Um gajo acorda, espreita as capas dos jornais numa banca virtual e pensa para si mesmo: «já estava a estranhar». Faltam dois dias para o clássico e começam os ataques do costume, mas a mente volta a ser assaltada por algo que me tem incomodado nos últimos dias. Falo, obviamente, do extremar de posições entre Manuel Fernandes e Bruno de Carvalho, situação à qual, por mais que tente, sou incapaz de passar ao lado.

Posto isto, começo por um pormenor que te escapado a muito boa gente: a uns porque interessa, a outros porque preferem emprenhar pelos ouvidos do que darem-se ao trabalho de esclarecer possíveis dúvidas. Bruno de Carvalho não afirmou que Manuel Fernandes era o pior funcionário da história do Sporting. Afirmou, isso sim, que dizer que o Maribor era a pior equipa da Champions era uma inverdade tão grande como afirmar que o Manuel Fernandes era o pior funcionário da história do Sporting. E o que é que aconteceu? Ora bem, onde há um Leão haverá sempre hienas e abutres por perto, portanto a corja (chamam-lhe painel, em linguagem fina) que, semanalmente, partilha um programa televisivo com Manuel Fernandes, foi capaz de meter na cabeça do eterno capitão que o presidente o tinha apelidado de pior funcionário da história do clube, facto que o deixou à beira das lágrimas. Eu, que abomino este tipo de programas (não sei se terminava um, sem mandar uma “à cais de sodré” na cana do nariz de certas figuras), tive que fazer rw na programação para confirmar tudo o que ia lendo. E, lá estava: de um momento para o outro, os melhores amigos do Manel, do nosso Manel, eram aquelas hienas e aqueles abutres (não sei o que chamar à pessoa que conduz o programa e que ignorou o seu dever de trazer a debate a verdade dos factos), que lhe davam palmadinhas enquanto sorriam. Sorriam muito. E carregavam na vitimização do pobre Manel e na diabolização do sacana do Bruno.

O prato estava servido à medida dos desejos de terceiros e quase todos nós, Leões, fomos céleres a assumir uma das trincheiras. Alto! Vou repetir: «quase todos nós, Leões, fomos céleres a assumir uma das trincheiras». Magoa os ouvidos, não magoa? Toma lá, novamente: «quase todos nós, Leões, fomos céleres a assumir uma das trincheiras». Eu tenho o estômago às voltas, e tu? Não que, nomeadamente na nossa história recente, não tenhamos tido que extremar posições para tirar o Leão dos cuidados intensivos. O que magoa é que, neste caso, estamos a falar de dois Sportingaholics, entretanto já apelidados de «velho lambuças» e de «presidente lampião». Se foi o Correio da Manhã que assim os apelidou? Nada disso, pá! Foram Sportinguistas! (pergunto-te novamente: magoa, não magoa?)

Estamos, portanto, perante um banquete para hienas e abutres, no qual marcam presença várias réplicas do Scar (ver O Rei Leão, sff). Um banquete no qual se festeja a divisão dos Sportinguistas, num momento do qual nem o Manel nem o Bruno saem sem culpas.
Começo pelo Manel. Olha lá, Manel, antes de mais queria dizer-te que, mesmo tendo menos de quarenta anos, sei perfeitamente quem tu és. O meu Sportinguismo começou a crescer ao ritmo dos teus golos e dos golos do Jordão e estou-te grato por teres recusado jogar com as cores dos rivais. Mas já chateia estares, constantemente, a fazer o papel do coitadinho que tudo deu ao Sporting e que pouco recebeu em troca. Creio que ao nível do carinho dos adeptos deves ter a alma e o coração cheios; a nível monetário não sei como correu. Sei que não se esqueceram de ti em diversas ocasiões – foste treinador adjunto, foste treinador principal, foste director – sendo que, na última, como que te ofereceram uma belíssima reforma antecipada. Mas, no meio de tudo isto, sabes qual é a imagem que tens passado: a de alguém que ficou com uma azia do caraças por terem-lhe roubado o pote de mel. E, aziado, esqueces-te, frequentemente, do papel que devias desempenhar nesse programa que te equilibra as contas: defender o Sporting. Tu não estás aí para dar razão a essa gentalha que se aproveita tua propalada ingenuidade e pureza, caraças! Mete isso na cabeça, pode ser?
Bruno, agora é contigo. Eu sei que não gostas de não dar troco, quando o assunto é o Sporting, mas a verdade é que tens responsabilidades acrescidas. E uma dessas responsabilidades é, precisamente, tentar unir, o mais possível, os Sportinguistas. Nós viemos de uma guerra civil, porra! Esqueceste-te disso? Duvido, até porque os escombros dessa mesma guerra continuam visíveis e à espera que se apurem responsabilidades. Nessa tua vontade de defender o Sporting e por muito que te irritem certos comentários, tens que ser capaz de separar os teus alvos e, mais ainda, de perceber quando é que estás a extremar posições e, consequentemente, a dividir os Sportinguistas. Acho óptimo que uses a Sporting TV para esclarecer o universo leonino; não concordo que a utilizes como veículo de divisão desse mesmo universo.

Creio que (ou espero, pelo menos), neste momento, ambos já perceberam que quem ficou a sorrir com toda esta situação foram os abutres, as hienas e os Scars desta vida. Os mesmos que já iniciaram a habitual campanha de desestabilização, típica do aproximar de jogos importantes. Se eu pudesse, sentava-vos a uma mesa da Tasca, enchia-vos o copo e jogávamos um quizz leonino. Talvez assim percebessem, que tão importante é o Sportinguismo do passado como o do presente. Não há velhos nem miúdos. Há uma história, centenária, da qual deviam orgulhar-se de fazer parte. Há uma paixão em comum, que sexta-feira volta a precisar de todos nós. Brindem a essa história e, mais ainda, brindem a nunca mais se esquecerem do mais importante: o Sporting!