Nós, Sportinguistas, gabamo-nos de ser diferentes. Eu não vejo as coisas assim. Ser “diferente” dá um ar um bocado apaneleirado à coisa. Eu prefiro pensar que somos inteligentes. Essa inteligência tem de ser demonstrada em tudo o que fazemos e dizemos em favor das causas que defendemos. Temos de saber contextualizar e, acima de tudo, saber separar as coisas nas análises que fazemos.

O primeiro tiro na inteligência que nos distingue é a velha mania de arranjar um único culpado para situações que têm vários. Ou, em sentido inverso, arranjar vários culpados para situações que só têm um. Ou, sendo mais objectivo, arranjar culpados para situações em que a culpa, per se, é o factor menos importante e que nos impede de analisar os factos com a frieza que eles exigem. Porque não somos nós, Sportinguistas, capazes de admitir que não estamos a render aquilo que se esperava? Porque é que não somos capazes de admitir que nos prejudicam sempre em alturas decisivas? Ou, mais importante, porque é que não somos capazes de separar estes dois factos cuja única ligação é o facto de acontecerem no mesmo rectângulo de jogo?

Sinceramente, não sei. Talvez seja por causa da nossa paixão exacerbada, ou da nossa forma quase obsessiva que vivemos tudo o que se passa no nosso clube. Não me interpretem mal! Isto é maravilhoso! É isto que nos faz viajar de Norte a Sul para acompanhar o nosso amor. Mas também é isto que nos trai quando escrevemos comentários, falamos com amigos ou discutimos com outras pessoas. A inteligência tem de estar sempre presente senão corremos o risco de passarmos por “calimeros”, “brunistas”, “croquetes”, “chorões” e demais ordinários adjectivos que nos queiram colocar, uns por adeptos rivais e outros por nós próprios. Se for para nos colocarem algum desses epítetos, que seja por falta de argumentos. Nunca por alinharmos no mesmo raciocínio limitado e bacoco que os define!

Esta direcção fez, no ano passado, algo que sublinha essa forma inteligente de estar no desporto quando, numa conferência de imprensa inédita, fomos capazes de colocar a nú os erros de arbitragem que nos beneficiaram juntamente com os erros que nos prejudicaram e, no fim, fazer o somatório final. Claro, que desde essa altura para cá, outros actos e outras declarações da mesma direcção poderão ter sido tiros nessa mesma inteligência. Mas, bem ou mal, a separação foi feita aí. Dissemos ao futebol português que não estamos aqui para “chorar”, para “colher benefícios” ou para “mamar mais tarde”. Estamos aqui para denunciar factos indo até ao limite de admitir aqueles que, na altura, nos beneficiaram. Como é óbvio, ninguém foi capaz de refutar essa conferência de imprensa porque não havia refutação possível à conclusão clara, comprovada e devidamente fundamentada de que tínhamos menos 7 pontos do que aqueles que devíamos ter na altura consequente de erros claros de arbitragem. E, juntamente com o Movimento Basta, os erros abrandaram. Não é que eles tenham tido vergonha na cara (isso já se perdeu há muito) mas, provavelmente, sentiram que estavam a “forçar em demasia”.

Ora, é com factos que se demonstra a inteligência como esse episódio tão bem evidenciou. E é com factos que eu quero acabar este texto.
Facto 1: Nos jogos do Carnide, acontecem tantas incidências como em todos os outros jogos.
Facto 2: Nos jogos do Carnide, a tendência do juízo dessas incidências é sempre de proteger a equipa mais forte.
Facto 3: Grande parte dos árbitros da Primeira Liga são simpatizantes, adeptos ou associados do Carnide. Há facebooks que confirmam isto.
Facto 4: É exactamente essa grande parte do conjunto de árbitros que é, normalmente, nomeada para os jogos do Carnide e/ou dos seus adversários directos.
Facto 5: Nos jogos do Carnide, até agora temos 4 expulsões para os adversários, 3 golos limpos anulados aos adversários, e duas expulsões perdoadas ao Carnide. Em 10 jornadas. (Isto não é colo. É cólon esburacado de quem quer competir com eles)

E como o Mundo não começa nem acaba em Carnide, há outros factos relacionados com o Sporting que têm de ser referidos em nome da tal inteligência (ou diferença) que tanto apregoamos:
Facto 6: Há jogadores do Sporting em claro sub-rendimento desde o início do campeonato e isso influencia a irregularidade exibicional da equipa.
Facto 7: O árbitro teve influência decisiva no resultado contra o Paços. Marcámos 2 golos e empatámos 1-1.
Facto 8: A nossa fraca primeira parte também teve grande influência no resultado contra o Paços porque foi nela que sofremos o golo que nos obrigou a correr atrás do prejuízo.
Facto 9: 13 pontos perdidos em cerca de 30 disputados é fruto de incompetência própria, sobretudo da equipa técnica e dos jogadores
Facto 10: 8 pontos de distância em relação ao primeiro classificado é fruto de incompetência dos árbitros.

Resta-nos a nós sermos inteligentes e apreciarmos estes factos em separado admitindo a influência que todos eles têm ou sermos broncos e branquearmos uns com outros. Na verdade, alguém pode dizer, com exactidão, qual deles tem mais peso? Não existe um “medidor de influência”. Existem factos que, com maior ou menor peso, explicam as razões da classificação estar como está. E no final, vão ser todos estes factos (e outros que ainda estão para vir) que vão explicar a classificação final. E já agora, desmentindo a velha teoria de que no fim, os prejuízos e benefícios vão ser “ela por ela”, não acredito que daqui para a frente, o Carnide seja expoliado de forma infame (era isso que teria de acontecer para “compensar” a vergonha deste início de campeonato).

A grande conclusão que, para já, eu tiro destes factos é que o Sporting, ao contrário dos seus rivais em especial o Carnide, não vai ganhar jogos por 1-0, 2-1 ou 3-2. Ou vamos cilindrar todos até ao fim e somos campeões ou então, quando a coisa estiver curta, não vão deixar. Isso obriga-nos a ser…perfeitos. Porra, passar de mediocridade para perfeição é um ganda upgrade na nossa cultura de exigência! Ou então, um delírio de quem não percebe que esta merda é jogada e, acima de tudo, ajuizada por pessoas. Portanto, tirem daí o sentido. Não vamos cilindrar todos nem vamos ser perfeitos. A única coisa que podemos exigir é sermos competentes (e mesmo essa não vai acontecer sempre, como temos visto) e esperar a mesma competência de quem interfere de forma directa ou indirecta no futebol. Ora, se a primeira é obrigatória, a segunda é uma utopia. A única forma de tentar equilibrar as coisas é:
A) APOIAR INCONDICIONALMENTE A EQUIPA
B) ENTRAR EM MODO FIGHT & RESIST
C) RETOMAR O MOVIMENTO BASTA

 

* todas as sextas, directamente de Angola, Sá abandona o seu lugar cativo à mesa da Tasca e toma conta da cozinha!