Bastaram três dias para ficar tudo às claras. Não que esta fosse uma história de gangsters impossível de descortinar, antes porque o decoro mínimo ia impedindo de mostrá-la ao público tal e qual ela é. Comecemos, então, por quinta-feira.

Vieira e Pinto da Costa reúnem com Luís Duque, o homem que colocaram à frente da Liga. Vou repetir, para que fique explícito: o homem que colocaram à frente da Liga. Fala-se de centralizar direitos televisivos, fala-se da queda da PT, da morte do BES, fala-se do futuro do futebol nacional. Há muito de costas voltadas, o Jorge e o Luís mostram-se dialogantes e empenhados em resolver uma situação que, mais do que ao futebol português, os faz tremer a eles (basta atentar no dinheiro esturricado em jogadores e na forma como estão agarrados aos fundos). E já que falamos de fundos, ficamos a saber que os novos siameses deverão ser fazer parte do rol de testemunhas que a Doyen Sports utilizará no processo que resulta da ida de Rojo para o ManU.

Esta estreita relação com os fundos, ganha contornos curiosos quando, da tal reunião entre as nádegas e su traque, resulta a indicação de que o Benfica estaria disposto a canalizar cinco por cento das transferências de um ano ou igual percentagem do lucro gerado pelo canal televisivo encarnado, para garantir a sustentabilidade da Liga. Conta-se, nos corredores, que o fcPorto terá aplaudido a iniciativa, sem garantir estar disponível para fazer o mesmo, o que pode ser claro indício de que, sem fundo de maneio, Pinto da Costa aceitará migalhas nos próximos tempos, ou seja, engolirá o sapo de ver o Benfica campeão, desde que o seu clube termine em segundo e garanta a Liga dos Campeões. Aliás, é meio caminho andado para perceber o porquê do líder azul e branco manter o completo silêncio face ao colinho que vai sendo dado aos encarnados por parte dos senhores do apito.

Estes são, obviamente, parte incontornável do processo. Aliás, se estamos a falar de medidas salvadoras, não deixa de ser extremamente curioso o facto da nossa imprensa (e comunicação social no geral), ter remetido para páginas pouco vistas esta pequena maravilha:

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Ora, entre o empréstimo bancário, que não se percebe se é um terço do valor ou o valor total, levantam-se algumas questões: quem é que vai pagar o empréstimo, tendo em conta a ausência de liquidez por parte da Liga? Terá sido a disponibilidade de Benfica e fcPorto para “salvarem financeiramente” o nosso campeonato, a servir de garantia bancária? Haverá dedo dos fundos metido nesta aparição milagrosa de dinheiro? E, no actual cenário, que entidade bancária aceitou participar deste circo?

Era bom que a nossa comunicação social se dedicasse a tentar perceber o que se passa, ao invés de continuar a fazer capas vergonhosas como se nada se passasse. Ou, então, que assumisse que não faz sentido queimar recursos numa reportagem a sério, porque os episódios semanais explicam esta dança da roda onde benfica, fcporto, liga e apaf se divertem à vista de todos. O último, teve lugar ontem, com o Moreirense a ser novamente gozado em pleno estádio da luz.

limpinho

 

Por tudo isto, começo a concordar com o que Daniel Oliveira escreveu na sexta-feira: «a ausência de Bruno de Carvalho nas reuniões da Liga parece-me fazer pouco sentido para quem se propõe liderar uma mudança profunda no futebol profissional. Como não pretende usar formas mais extremas de acção, é dentro das instituições, por piores que elas sejam, que pode encontrar os aliados para as mudanças que defende».
Efectivamente, deve ser de dar a volta ao estômago ter que partilhar a sala com determinadas pessoas. Deve ser pior que meter os dedos à goela, assistir a como a maioria dos clubes aceita viver de caridade e assume o seu papel de capacho. Mas só estando lá dentro se pode gritar, apontar o dedo, discordar. Só estando lá dentro se pode perceber, na totalidade, quais os ingredientes usados nesta asquerosa receita que “salvará” o nosso futebol. Só estando lá dentro, estaremos mais próximos de pôr em prática uma expressão que, parece-me aqui encaixa que nem uma luva: as cobras matam-se à paulada e a única forma de acertar-lhes é estando perto delas!