Cheguei a Londres na terça-feira à noite. Tinha combinado com uns amigos e eles já tinham chegado no mesmo dia no voo da manhã. À minha espera no aeroporto estava uma ex-namorada minha que vive nessa bela cidade. “Ehehehehe! Já vou ter festa hoje!’ Pensei eu, no alto da minha ingenuidade. Mal nós encontrámos….”tenho uma notícia! Vou-me casar!”. Catrapum! Portanto, aquilo que devia começar em grande começou com uma valente desilusão. Claro que durante o jantar com ela já pensava mais na bubadeira que os meus amigos já deviam levar na carroça do que propriamente na valente foda que tinha contado mandar. Ainda tentei por outra via, perguntando lhe se gostava msm dele, etc. “É o tal!” Diz-me ela. Ao que eu respondo, levantando o braço: “Excuse me! Check, please!” E foi desta forma meio atabalhoada que me despedi dela, com a promessa de que brevemente lá voltaria. “Precisamente quando aquilo tiver tremido”, pensei eu.

Já um bocado fodido, ligo para os meus amigos. Nada. Telefones desligados. E agr? Continuo a tentar, finalmente atendem! “Já chegaste? Olha estamos aqui num bar ao pé do estádio! Vem cá ter!” Assim mesmo, sem nome nem localização específica. E isso leva-me a pensar que malta que consegue chegar ao destino com indicações dadas por bêbados, provavelmente, são os mais qualificados para serem exploradores da NASA. E lá vou eu, em plena Fulham Road, à procura do tal bar. Não era longe. Mal entro no bar, aquilo parecia um ensaio da JL para o jogo de amanhã. Era tudo nosso e os bifes estavam nas nuvens. Pudera! Dia de semana e bar quase cheio não é todos os dias que acontece. E no fim da noite lá estava o dono do bar a cantar conosco. Escusado será dizer que saímos de lá cuma cadela do caralho.

No dia seguinte, matchday, saímos cedo do hotel para visitar o centro. Entramos no metro e fomos em direcção a Picadilly Circus. Um aparte para a viagem de metro. Nesses minutos dentro do train apaixonei-me, pelo menos, umas 10 vezes. Aquilo é quase uma passagem de modelos a entrarem e a saírem do comboio!Fomos fazer umas pequenas compras e acabámos num pub a beber pints até quase a hora do jogo. No caminho para Fulham Broadway (onde fica Stamford Bridge) um pequeno incidente com um polícia que me viu a beber a minha jola na rua e obrigou-me a mamar de penalty ou a deitar fora. Depois de beber lá mandei um “Fuck off, Chelsea!” já meio embriagado. Entramos no metro e esta foi a parte que me impressionou em toda a viagem, jogo incluído. Na nossa carruagem estava alguma malta da JL e aquilo é que foi cantar a viagem toda. Quando saímos do train para mudar de linha, aquilo que estávamos a cantar…ecoava em todas as carruagens! Imaginem um comboio inteiro a cantar “Onde tu fores jogar,..” perfeitamente sincronizado, afinado. Mágico! Pelo meio ainda actualizei o meu repertório de cânticos. “Spooooorting! Por ti sou um eterno apaixonadoooo, é contigo que eu quero estar casadoooo, o grande amor da minha vidaaaaa!” foi um dos que me ficou na cabeça.

Chegamos ao estádio e aquilo era tudo nosso. Como já era de esperar. Lá dentro, a curva deu festival e o jogo correu como tinha de correr. Ganhar pontos ali não é nada fácil. Mas pênaltis daqueles aos 5 min também não ajudam. Enfim, saímos de lá frustrados, até porque já sabíamos como estava o Schalke e enfiamo-nos no bar do hotel, que na altura estava repleto de adeptos do Chelsea. Estivemos a conversa com eles e gostei do fairplay que demonstraram. Adoraram a nossa curva (já desde o jogo de Alvalade) e disseram que com estes dois “wingers” (Nani e Carrillo) o Sporting era uma equipa muito forte. Estamos a falar de malta que está habituada a ver Hazards, Schurrles e Willians. Isto é só um aparte para quem se atrever a assobiar o Carrillo nós próximos 10 anos. Perguntaram-me: “Who is that guy, the 23?” “Adrien Silva, the best portuguese midfielder!”, respondo eu. Entre outras opiniões sempre elogiosas em relação ao Sporting. E é isto que eu gosto de Inglaterra. Aqui pode-se falar de futebol. Sem clubismos e com conhecimento de causa. Com propriedade.

No dia seguinte, a viagem de avião e o tempo de espera no aeroporto foram sempre em amena cavaqueira com sportinguistas. No voo de regresso, vejo o Costinha na porta de embarque. Sem fato (o que me intrigou) e a comentar que estivemos em grande.

Chego a Lisboa cansado, triste com a eliminação mas feliz por ter assistido ao vivo e a cores mais uma grande demonstração de fidelidade por parte dos sportinguistas. Nós não falhamos. A verdade é essa. Vi de tudo! Famílias de sportinguistas que aproveitaram a viagem para um escapezito, ultras que vão sempre a todas, pequenos grupos de jovens que, provavelmente terão feito a sua primeira deslocação ao estrangeiro, pequenos grupos doe gente mais velha, claques, simpatizantes, tudo! E, apesar da eliminação, a conversa mais ouvida no avião era: “Espero que a gente apanhe o Liverpool, para voltarmos a Inglaterra e ir a Anfield!” Isto depois de uma dolorosa eliminação.

É isto que nos define. Perdemos, somos eliminados….e já estamos a planear a próxima viagem! E é por isso que “Sporting…tu nunca vais acabar!”

 

* todas as sextas, directamente de Angola, Sá abandona o seu lugar cativo à mesa da Tasca e toma conta da cozinha!