O ano ainda não terminou, mas será o penúltimo texto que escrevo em 2014. Aproveito para agradecer ao Cherba, que me abriu a porta da cozinha uma vez por semana, para que possa dar um toque feminino a um tasco claramente dominado pela testosterona. É com um sentimento de serviço ao Sporting que preparo os meus pipis todas as terças, mas não seria possível sem o gerente consentir os meus emocionais cozinhados.
Numa altura de balanço e de retrospectiva, em relação ao nosso clube, existem muitos nomes e muitas caras que lideraram uma mudança profunda num clube de estruturas envelhecidas e num futebol dominado por estratégias escuras. Podia dizer Bruno de Carvalho. Podia dizer Leonardo Jardim, Slimani, João Benedito, Nuno Dias. Podia referir a Curva Sul, os 120 mil sócios ou a Sporting TV. Mas a minha verdadeira paixão, a que me encanta mais e que mais me faz esquecer os maus momentos, é o futebol. E quando penso em futebol, em talento e em Sporting, penso em William Carvalho.
Corria o Verão de 2014 quando um rapaz de bigode fino mas de alta envergadura renovava pelo clube até 2018. O jovem de 21 anos tinha vindo de empréstimo e, ao ser chamado para a pré-época, admitiu estar disposto a tudo para jogar no seu clube desde pequeno. O clube que era seu desde que Nani lhe fez a derradeira chamada. Na altura comentámos aqui, aquele Carvalho era menino para lutar por um lugar no onze, pela posição que pertencia ao Deus Fito Rinaudo. Quem de nós o viu no onze? Apenas um sportinguista, chamado Leonardo Jardim. Desde a primeira até à última jornada, William foi o melhor jogador do Sporting. Uma regularidade assustadora, um toque, uma classe e um posicionamento, tudo ou quase tudo perfeito.
Quando o mercado estava a fechar, os sportinguistas reuniram-se nas redes sociais e aqui na Tasca. Contávamos os minutos, pedíamos a todos os santos que ninguém batesse os 45 milhões expressos na cláusula de um dos maiores jogadores portugueses da actualidade. Meia noite, respirar de alívio e recordar o imenso talento que nos encheu os olhos de um ano que já mais poderemos esquecer. Fomos sportinguistas orgulhosos ao ver William assumir as rédeas de um meio-campo 100% português, 100% made in Alcochete. Depois, chegou ao topo ao representar Portugal num Mundial. Sempre teve da nossa parte um espectador atento, um defensor exímio e um reconhecimento de uma qualidade que não se vê todos os dias.
Aquele jogo contra o Porto, em Alvalade, foi possivelmente a melhor actuação de um futebolista de verde e branco em muitos muitos anos. De tal forma que a bancada lhe fez a devida vénia no final e foi elogiado por jogadores adversários. Hoje, é com tristeza que vejo sportinguistas afirmarem que deveríamos ter aceite as propostas dos ingleses, ainda que mais baixas do que o seu real valor, pois este ano não está a correr tão bem.
O William é um jovem, de apenas 22 anos, que tem muito tempo para conquistar a sua regularidade, que vai crescer a cada ano e que mostra uma maturidade incrível para um miúdo. Nada mais que um jovem, desses que insistentemente queremos subir à equipa principal mas a quem não admitimos um jogo menos conseguido sem lhe chamar “Djaló”. William ganha menos do que 90% do plantel, apesar de ser melhor que 90% do plantel. Ele foi o jogador que “não cuspiu” no prato, que respeitou a camisola, que tratou com carinho quem o fez jogador. Não merecerá mais da nossa parte do que o constante comentário de que não é o mesmo? Não merecerá aplausos quando acerta em vez do comum “finalmente, porra!”?
É para mim um orgulho contar com o Sir no nosso plantel e espero que esteja disposto a crescer por cá. Que nos dê alegrias e que as partilhe connosco. Se há um ano me dissessem que estaria a escrever este texto para o jovem que fez aquela primeira volta, diria para todos terem calma, que ele ainda se estava a fazer. Mas olhem para mim, a fazer exactamente isso. A questão aqui é que não fui eu a fazer nada. Foi o William. Ele é que nos conquistou os corações e as vozes. Ele é que arrancou os meus aplausos sentidos, quando fazia cortes impossíveis e passes geniais. Ele é que me preocupou com castigos, pretendentes e lesões. Por tudo isto e muito mais. 2014 foi o ano William Carvalho, um dos produtos mais talentosos da formação que nos orgulha e o melhor jogador da Liga Portuguesa na passada época.
Estaremos sempre à tua espera, Sir. Take your time.
23 Dezembro, 2014 at 12:57
Não gosto deste post, o William obrigou-me a ir para Itália!
A sério, o William é “o monstro”, já o tinha visto jogar há uns anos antes e não fiquei nada fã, era um pouco tosco e muito muito lento. Mas agora tornou-se um dos jogadores mais importantes do nosso clube, não é um Deus, porque será sempre Fito! 😉
23 Dezembro, 2014 at 13:14
Obrigado Maria por teres escrito este texto, tiraste-me as palavras da caneta. Continuo na saga de zero ídolos, mas este rapaz enche-me as medidas. Tem muito crédito para gastar, a época passada o meu conhecido Tó-Zé do sindicato fartou-se de ir ao nosso estádio entregar prémios ao William, foi para mim o melhor jogador do campeonato transacto. Quando estiver ao nível que nos habituou vai pôr o nosso meio campo blindado. Avanti William.
23 Dezembro, 2014 at 19:16
Feliz Natal para todos.