A reviravolta no futsal e a remontada épica no hóquei haviam dado o mote. Alvalade agitava-se, no regresso do futebol após a pausa de inverno e, para lá das boas notícias nas modalidades, tinha como aperitivo uma reconfortante declaração do presidente, Bruno de Carvalho, dando voto de confiança ao treinador e promovendo a união.

Entretanto, o Braga perdia na Madeira e deixava em aberto a possibilidade de mais um pequeno salto na tabela classificativa e a resposta foi pronta: Carrillo, Mané, Nani e Slimani de início, com Adrien e William a funcionarem várias vezes como um duplo pivot em que o primeiro tinha liberdade para aparecer em zonas de finalização e o segundo era dono e senhor da zona defensiva. E que belíssimo jogo fizeram ambos. Mas seria Nani o primeiro protagonista da tarde: arrancada parada em falta, à entrada da área, como Soares Dias a ignorar ostensivamente uma falta feita a poucos passos de si. Contra-ataque e, à primeira paragem, Nani vê amarelo por protestar, ficando excluído da visita à cidade dos arcebispos.

Segue a bola, que a camisola é pra suar e esta merda é pra granhar. Pressão alta, altíssima, com Slimani e Carrillo em destaque, bem secundados por Mané, Nani e Adrien. Estoril espartilhado, La Culebra inspirado. Recebe, rodopia com classe, deixa o adversário pelo caminho, bomba… que golo seria. Percebe-se que será assim: equipa concentrada ao máximo e menos sôfrega na ânsia de chegar às redes adversárias. Equipa adulta? Oh, não vou escrever isso senão dizem que eu sou um lírico. Olha, lá vai o Jefferson, que já tinha cruzado para o Slimani e agora faz mira à tola do Carrillo. Assistência para a cabeça da área, falha do defesa, «Adrien Silva tira la bomba», grita o comentador da RAI que existe na minha cabeça. Ou pimba e depois pumba, como escreveu um honrado – e sóbrio – tasqueiro no instagram do Sporting, candidatando-se a legenda fotográfica do ano (tenho que arranjar mais uma categoria para os prémios).

Festa em Alvalade, equipa compacta e cada vez mais segura. A teia sempre montada, a pressão sempre alta, as mudanças de velocidade quase sempre nas pernas de um peruano feliz. Últimos cinco minutos. Slimani ameaça. Depois Adrien. Depois Slimani, novamente, numa cabeçada que não vai para a baliza porque há mão do jogador do Estoril. Soares Dias manda seguir, obviamente, e recolhe às cabines com parte da missão cumprida. Recomeço, pernas a precisarem de voltar a aquecer, cinco minutos a ritmo baixo. Mané é figura menor no filme do jogo quinze e dá o seu lugar a João Mário. Menos explosão, mais cérebro. Mas é Jefferson, o senhor assistências, quem o usa primeiro, recebendo de Slimani e devolvendo ao argelino para o segundo golo. Pelo chão, não pelo ar, que isto tem que ensaiar-se para a titularidade de Montero.

O Estoril tenta espreguiçar-se no campo, aproveitando algum afrouxamento da pressão. As tentativas esbarram no famalicense tranquilo, Paulo Oliveira, ou no Rui Homem de Gelo Patrício. Ok, vamos lá animar a malta, pena Carrillo. Pensa Nani. Pensa Adrien e João Mário, que já tem as pernas quentes. William ri-se lá atrás, que isto de chegar ao final dos jogos pronto para continuar a correr deve ter a sua piada. Montero já por lá anda, juntando perfume ao veneno da cobra, numa fusão que nos embala para belíssimos vinte minutos finais. Primeiro um cruzamento, cortado ao segundo poste; depois outro, com o defesa a roubar o golo a Nani. Agora Nani troca com Carrillo e conduz pela direita, entra na área, classe, defesas à procura da bola quando esta já está nos pés do peruano, cabrão do redes um, cabrão do redes dois, agora a cabeçada de Montero, antes da jogada terminar com golo bem anulado a Carrillo.

Lá vai ele outra vez, o número 18, entra na área, troca os olhos ao defesa, penalti (confesso que fico com dúvidas). O redes gesticula de raiva, Adrien acalma-o com mais uma batata. Lá vai ele outra vez, o número 18, entra na área, troca os olhos ao defesa, penalti! Não?!? Mas este foi mais claro do que o outro, ó Soares Dias! Olha o Nani, a isolar-se pela direita! Mete no meio, tens três gajos livres! Ná… bomba. Malha lateral. Canto. Nani não marca. Ameaça uma, ameaça duas, ameaça três. Os canarinhos pedem amarelo e o árbitro mostra. É o segundo. Nani é expulso e pode jogar em braga, oferecendo-nos a todos um sorriso pela forma como se encavou quem nos quis encavar.

Apito final, gelo quebrado, Marco Silva apelando à união. «Todos em prol do Sporting», é a frase que ecoa ao quarto dia do ano. O dia em que o Leão regressou e que todos os Sportinguistas só podem desejar que seja o primeiro do resto da nossa vida.