Deitei-me a pensar nisto. Acordei a pensar nisto. E só agora escrevo porque precisava de perceber se estava a ser leviano ou se seria algo natural. E o que é que tanto me dava que pensar? O facto de esta ser uma das crónicas mais simples de escrever de que tenho memória. Não porque não esteja profundamente fodido por ter sido eliminado, antes porque o jogo podia resumir-se facilmente: grande exibição, zero de eficácia.

Podia ser o título da crónica. E podia ser a crónica. Mas parece-me justo, muito justo, dizer algo mais. O Sporting, ontem, foi uma equipa adulta. E uma grande equipa. O bloco funcionou em 90% do tempo, tanto a defender como a atacar. Quando eu me lembro que vi o William, o Adrien e o João Mário a chegarem à área adversária em simultâneo, rodando a bola de pé para pé à espera dos movimentos interiores dos extremos e do espaço que podia abrir-se para a subida dos laterais e que, dez segundos depois, conseguíamos estar equilibrados defensivamente e recuperar as posições… E nem me apetece destacar jogadores. Porque, pelo menos para mim, o Patrício é sempre o Patrício, porque os dois laterais foram carros de F1 trocando de pulmeus para manter o ritmo até final, porque o Paulo e o Tobias são tão pequenos em idade e tão grandes em futebol, porque o William ensinou um campeão do mundo a jogar à bola, porque o João Mário e o Adrien foram artistas operários, porque o Carrillo é a vertigem do futebol de rua, porque o Nani é o Nani, porque o Tanaka esteve quase a ser o Tsubasa.

Isto tudo, manietando uma equipa que, coisa pouca, está em segundo na Liga alemã. Uma equipa que tem como ponto mais forte, precisamente, a capacidade de jogar em transição e explorar o balanço ofensivo dos adversários. Uma equipa que pressiona a sério, que tem verdadeiros cavalos e que quando recupera a bola a troca de forma a, em meia dúzia de passes, ter alguém desmarcado nas costas do lateral adversário mais avançado. A tudo isto o Sporting respondeu com alma, respondeu com classe, respondeu com futebol. Pelas alas, entre as linhas, nas diagonais, nos lançamentos longos. Tudo. Tentou-se tudo! E bem. Dizer que não termos entrado com dois avançados é próprio de quem sabe pouco de futebol. Ignorar que criámos sete ou oito oportunidades de golo claras, é ser intelectualmente desonesto! Entre o azar (aquela bola a terminar a primeira parte é inacreditável, batendo no cu do redes e no poste) e a falta de sangue frio (obviamente que temos que assumir a nossa culpa em muitos dos falhanços), desperdiçámos uma enorme oportunidade de voltar a fazer história e de ganhar um boost de motivação para domingo.

E, sim, daqui por três dias as pernas vão pesar um pouco mais, mas tudo o que temos que fazer é voltar a acreditar. Ontem, eu vi uma equipa que acredita em si mesma. E sabem o que mais me lixou? Foi ver Alvalade por metade. Um estádio cheio, teria aplaudido estes “leões gaiatos” como eles caíram. De pé!