Todos os Sportinguistas querem ganhar. Tenham 4, 24 ou 84 anos. Vivam em Vila Real de Santo António ou em Vancouver. Bebam SuperBock ou outra marca qualquer. Todos queremos ganhar. Ser os primeiros, mais fortes e competentes que todos os outros. Queremos, aliás, ansiamos por glória. Por fazer a festa e celebrar o nosso amor pelo clube. Queremos sair à rua, na puta da maluqueira, pintados e embebedados de verde e branco. Queremos gritar a estranhos na estrada, agitar os cachecóis com uma nádega dentro e a outra fora do carro apinhado de “doentes” com a mesma febre.
Isso é o que todos queremos.

O mundo não é sempre grato com os sonhos. A realidade cria por vezes distâncias entre a suprema felicidade e o que vamos provavelmente viver na sua ausência. Disso os Sportinguistas não precisam que eu ou ninguém os elucide. Infelizmente esperamos décadas para viver os sonhos. Nos intervalos alimentamo-nos de esperança, desilusão, aperitivos que amargam no final. Os fantasmas não são exorcizados e vão crescendo, tiram mestrados nas paredes da SAD e pós-graduações no relvado cada vez mais “alcatifado” do estádio . Os presidentes chegam, mandam, falham e vão. Os treinadores são contratados e indemnizados. Os jogadores chegam, os YouTubes prometem e na maioria, só prometem. Os adeptos andam ao sabor das #Ondas, umas mais verdes que outras, enchem (cada vez com mais dificuldade) e esvaziam Alvalade, palmas e assobios, elogios e azedume. O que não nos tem faltado é desconfiança no que somos capazes de fazer. Na dúvida, não se gasta dinheiro, não se pagam cotas, não se cultivam as novas gerações de leões.
Isso é o que nós vivemos.

A direcção de BdC chegou com a vontade de inverter tudo isto. O problema é que são problemas demais para resolver. Alguns problemas para serem resolvidos geram novos problemas. Outros não dependem só da actuação do elenco directo. Plano? Valha a verdade BdC e seus pares atacaram todos. Nuns acertaram em cheio e o clube recupera a olhos vistos, noutros exageraram no remédio e a terapia está relevar-se  de choque. Ninguém é perfeito e não se apagam décadas de asneiras em cima de asneiras, não se reescreve em cima de letras mortas nem se restaura o vazio. O melhor que posso dizer aos meus pares que comandam o clube é que, venha o que vier, errem no que errarem, saibam sempre esperar pelo tempo certo da mudança. Por mais que queira colocar um telhado sobre uma casa, vou precisar das paredes primeiro. O Sporting não tem, ainda, paredes e faltará umas centenas de milhares de boas decisões  até que venha a poder escolher as telhas. Que isso não esmoreça ninguém.
Isso é o que combatemos.

Por mais desdém que o Carnide nos provoque, por mais nojo que os dragões bufentos nos causem, o nosso maior rival chama-se tempo. O tempo que não temos para recuperar o dinheiro, o prestígio, o respeito, o talento e tudo o mais que perdemos na arrogância de pensar sem critério que “no próximo ano é que é”. Penso que energia e ambição, garra e motivação não falta hoje em dia ao Sporting. O que falta é dinheiro e….tempo. Porque até esta direcção parece precipitar-se, como cega pela luz da esperança de resgatar o clube de ontem para hoje, como que ingenuamente crente que bastava talento e empenho. Não meus caros, o que falta é tempo.
Isso é o que precisamos.

Como não somos o ParisSG ou o City. Como não nos vendemos como o Carnide ou o Atl.Madrid. Como não temos milhões de compradores de camisolas no sudeste asiático. Como não temos uma economia sequer capaz de manter os jovens no seu próprio país.  Temos outras coisas. Às vezes parecem grandes e esmagadoras, por vezes são pequenos nadas, mas é o que temos. O Sporting tem mais do que muitos e menos que poucos. Tem história e tem o amor incondicional de muitos milhares de adeptos.  Sobre este amor, construir uma cultura, sim de exigência como BdC tanto se empenha por instituir, mas talvez fosse boa ideia temperar a exigência com uma certeza serena, própria de quem segue um rumo seguro. A serenidade nos maus momentos tranquiliza e une. Bater em quem está a “dormir” provoca mais gaguez que superação. Acordar o espécimen e depois sim afinfar-lhe com a bota nos beiços talvez produza mais efeitos. Já temos amor, cultura de exigência…que tal juntarmos uma estratégia de “ralações externas” (não há gralha). O frágil não se torna forte por artes mágicas. Sobretudo não será visto como sólido apenas num par de anos de governação de alguém que faz cara feia. É preciso ainda mais união, ainda mais comunicação, ainda mais partilha e construção de uma identidade. Nunca estarão todos satisfeitos, mas isso não é razão para criar autismos. Surda e cega, esta e qualquer direcção governa para si e confinando-se aos seus humores. Em meia dúzia de infelicidades entende que criou uma Coreia e que os Sportinguistas lhe decretaram todo o tipo de sanções “intra-emocionais”. Não. Abrir o clube aos Sócios não expõe, seduz. Não fragiliza, atrai. Não desintegra, solidifica. Lidar com os “terroristas” da má vontade e das certezas premonitórias é bem mais fácil do que parece. Experimentem. Deixem falar as comadres, bilhardem à vontade, bordem e costurem a Avenida da Liberdade…se há rumo e se somos Sportinguistas o trigo cairá sempre bem longe do joio.

Com a casa arrumada,  chamamos as visitas, servimos o chá. Quem não gosta, bardamerda. O Sporting só precisa dos aliados que o queiram ser. Putas de rua ou escorts de luxo são capazes de ser maus negócios para alinhavar estratégias de gestão do futebol português. Tempo e dinheiro…preciosos para outras aventuras.

O terceiro lugar deste ano não será trágico, tal como não o será no próximo ano e no seguinte. A questão não é quantos anos vamos demorar a ganhar a Liga. A questão sempre foi outra. Quantos anos vamos demorar a reconstruir o Sporting? Não tenho respostas. Apenas sei que terá de ser o tempo que tiver de ser. Fazendo o que tem de ser feito. Vivendo o que pode ser vivido. Realismo depressivo? Não. Construção paciente. Experimentem fazer um castelo de cartas em contra-relógio…certo? Além do mais, o futebol é rico em surpresas e acasos e saber esperar não significa parar de lutar ou fugir do sucesso. Significa construir paredes sólidas. Pedra sobre pedra e não pressa sobre pressa. Tem de ser. E o que tem de ser tem muita força. Tem de ter a nossa força.

 

*às quartas, o Leão de Plástico passa-se da marmita e vira do avesso a cozinha da Tasca