O que o futebol tem de melhor é, sem dúvida, a impossibilidade de transformá-lo em algo previsível. Quantas e quantas vezes, ao longo desta época, nos lamentámos da quantidade de golos falhados e da ineficácia que acabava por traduzir-se em segundas partes sofridas ou em empates capazes de nos levarem ao desespero? Muitas, muitas mesmo, algumas delas, como na recepção ao Wolfsburgo, verdadeiras sessões de desperdício de bom futebol.

Ora, ontem, o Sporting teve um início de jogo tudo menos interessante. Futebol lento, denunciado, com os palermas de serviço a começarem a assobiar Nani antes dos cinco minutos de jogo, permitindo ao Guimarães que, louve-se, deixou o autocarro na garagem, jogar mais vezes no nosso meio campo e conquistar alguns cantos. Quase ao chegar ao primeiro quarto de hora, Miguel Lopes recupera uma bola junto à área vimaranense, entrega a Carrillo e este saca mais um cruzamento perfeito. João Mário sobe ao segundo poste e estava feito o primeiro golo. Um grande golo, na primeira vez que o Sporting chegava junto da área adversária. Entretanto, Jorge Sousa iniciava o seu festival de cartões amarelos. Primeiro Miguel Lopes, depois Adrien, sendo que no caso do médio isso representa a ausência em Paços de Ferreira.

Entretanto, por volta da meia hora de jogo, Miguel Lopes volta a subir e a procurar a zona interior do campo (grande jogo do lateral direito, formando com Carrillo uma ala direita muito forte e sendo capaz de perceber os momentos em que o peruano corria por dentro ou procurava a linha). Saca uma verdadeira bomba que rebenta na trave. Recarga de Nani, grande defesa, nova recarga de Nani, com a bola a ser impedida de ir para a baliza por braço de um defesa do Guimarães. Penalti claro, convertido por Adrien Silva. Por esta altura, já o Sporting tinha o jogo completamente controlado e o carrossel William, Adrien, João Mário, várias vezes complementado por Nani ou Carrillo, ia fazendo as delícias de quem estava na bancada. Mesmo que isso não representasse grandes jogadas e perigo. Jefferson tentaria repetir uma jogada tantas vezes vista, colocando a bola na cabeça de Slimani, mas a tarde era mesmo de Miguel Lopes e, mesmo a terminar a primeira parte, o lateral arrancou decidido, ganhou a linha de fundo e cruzou a preceito para a cabeça do argelino. Três a zero, numa primeira parte de tremenda eficácia.

Ao intervalo, eram poucos os adeptos que não manifestavam o seu desejo de ver a equipa partir em busca de mais golos, mas o ritmo já não seria o mesmo. O Sporting controlava a partida, nem sempre bem, é verdade, permitindo aos vimaranenses criarem duas ou três situações de perigo. William, continuava a passear classe e Slimani enchia as medidas a qualquer adepto que aprecie jogadores que disputam cada lance até ao fim. O momento alto acabaria por chegar por volta dos 70 minutos, altura em que os adeptos visitantes resolveram interromper o seu voto de silêncio. Não para apoiar a sua equipa, apenas para insultar o adversário. O castigo dos tristes chegou logo a seguir: penalti sobre Mané (não é descarado, mas o lateral vimaranense não conseguiria ganhar posição sem fazer falta) e todo o topo norte e meia central a apontarem na direcção dos “facadas”. Golo e gozo, com os adeptos leoninos a gritarem “vitória, vitória…” e, depois, pedindo “só mais um” golo. Esse golo chegaria, mas para a equipa da cidade berço, com a turma leonina a juntar mais um golo estúpido aos vários golos estúpidos sofridos este ano. Pior, foi ver Paulo Oliveira levar o segundo amarelo (exagerado, parece-me, mas o super Jorge estava mortinho)  e ficar de fora do próximo jogo.

Um jogo, à partida, complicado, onde teremos que conseguir capitalizar os três pontos de ontem e o moral que os memos carregam. No fundo, como Marco Silva diria mais tarde, «as contas fazem-se no fim. Temos um atraso grande, mas também se falou muito do 4º classificado e esse agora também tem um atraso grande». Carapuça enterrada até às orelhas dos “salvadores desta vida”, goleada no rabinho do lampião Vitória e esperanças renovadas. Em quê? Logo se vê.