O futuro do Adrien é o Sporting?
Sim, é. Tenho mais dois anos de contrato, por isso não me vejo fora do Sporting.

Não pensou sequer na possibilidade de sair?
Não, por uma razão muito simples: não apareceu sequer nada que me permitisse pensar nisso. Por isso nem me passou pela cabeça essa hipótese.

Está bem no Sporting, é isso?
Sem dúvida, sim. Muito bem.

Saiu recentemente Cedric, um jogador com muitos anos de casa. Por que é que o Sporting não consegue os talentos formados no clube?
Essa é uma pergunta para fazer ao presidente. Ele é que gere essas situações. Não é minha função gerir um plantel.

Mas lamenta?
Claro que nós queremos sempre que os melhores fiquem para tornar o plantel mais forte. Mas se não for o caso, temos de ir à luta com o que temos.

Tem dois anos de contrato: é para ser campeão no espaço de dois anos?
Sem dúvida. É um título que ambiciono há muito tempo, desde que subi ao plantel sénior. Estabeleci três objetivos: ser titular, ser capitão e ser campeão. Dois já consegui, o terceiro continua de pé.

Com a chegada de Jorge Jesus, o Sporting surge mais disponível para investir no mercado. É uma boa notícia?
Claro. Quanto mais condições tivermos, mais fácil é para todo nós trabalharmos. Pode haver até uma certa rotatividade, como aconteceu no Benfica nos últimos anos nas várias competições. Isso, na minha opinião, pode ser importante.

Espera continuar a ser com Jorge Jesus imprescindível como foi com Leonardo Jardim e Marco Silva?
Cabe-me a mim mostrar as minhas capacidades ao treinador. Não vou falar teoricamente: se quero ser imprescindível, ou não, tenho de o provar diariamente, em todos os treinos. De certeza que vai haver uma competitividade muito grande no plantel, por isso é mais um ano para provar que mereço estar aqui e agarrar as oportunidades que tenho tido.

O Jorge Jesus no Benfica habituou-se a jogar só com dois médios: para o Adrien, que é um médio, menos um jogador da sua posição em campo é uma preocupação?
Não. Por acaso nem me tinha lembrado disso. Importante é que se essa estratégia tem dado frutos, é porque é boa. Mas penso que o treinador vai analisar as características dos jogadores que vai ter para depois aproveitar essas mesmas características.

Vai dar para todos, é isso?
Não, não vai. Mas há muitos jogos e pode haver rotatividade maior.

Conhece o Jorge Jesus?
Não, não conheço.

Nunca falou com ele?
Não.

Como viu este processo polémico de chegada de Jorge Jesus?
Vi como toda a gente, claro. Fiquei surpreendido, não há que escondê-lo. Foi uma escolha em prol do Sporting, seguramente, e se foi essa a escolha da direção, foi porque acharam que era o melhor para todos nós. Agora é pensar em ganhar, só ganhar.

O Sporting fica mais candidato ao título com o treinador bicampeão?
Acho que é um todo, não há ninguém que ganhe sozinho. Toda a gente tem de meter na cabeça que o Sporting vai ser no próximo ano mais candidato ao título, toda a gente tem de mudar a mentalidade e de certeza que as coisas vão correr bem.

Mas com Jesus as coisas não ficam mais…
Claro que não é por acaso que as coisas acontecem. Ganhar tantos títulos em pouco tempo não acontece por acaso, é fruto do bom trabalho que o mister faz. Esperamos que este ano volte a dar frutos.

Ficou triste com a maneira como Marco Silva saiu do Sporting?
É um assunto que não me diz respeito. Já há demasiada gente a opinar sobre isso e a criar polémicas, não quero ser mais uma.

Mas é normal que uma polémica destas provoque muitas opiniões…
Todas as opiniões são respeitáveis e claro que nem todos temos de pensar igual. Mas vi isso de uma maneira… não estou dentro do que se passou entre o presidente e o Marco, quando assim é mais vale ficar de fora e não me meter.

O grupo deixa-se afetar por uma polémica como esta?
Os jogadores têm de abstrair-se, não há outra hipótese.

E conseguem?
Durante todo o ano acontecem muitas coisas fabricadas de propósito para desestabilizar. Por isso grupo habitua-se a abstrair-se, porque é mesmo isso que tem de fazer. Mostrámos na forma como conseguimos acabar a época, a ganhar, que essas coisas não nos afetam.

Numa altura em que o Sporting anunciou que terminou o tempo das vacas magras e que tem disponibilidade para investir, para o Adrien que é um dos mais bem pagos do plantel é um alívio?
Não, acho que não. O que o nosso presidente pensa é melhorar o nível do plantel para chegarmos ao objetivo de sermos campeões. É apenas com esse intuito que ouvimos as palavras dele: na esperança de termos um Sporting cada vez mais forte.

 

Já tinha ganho uma Taça de Portugal…
Não, já tinha ganho duas Taças de Portugal. Numa delas só não joguei na final.

Sim, verdade, já tinha ganho duas Taças de Portugal. Qual a mais saborosa?
Foi esta, sem dúvida. O Sporting é o clube a que pertenço desde os 12 anos, tanto eu como a minha família passamos muitos sacrifícios durante este tempo todo, por isso chegar ao nível mais alto do Sporting e conquistar esta Taça dentro do relvado é uma coisa que só sentida é que se entende. Foi uma vitória carregada de emoção. No fim festejei muito. Tanto eu como a minha família. Foi merecido para todos nós.

E agora já conhece o sabor de um troféu com a camisola do Sporting…
É muito bom. Infelizmente não tem sido muito regular, mas espero que a partir daqui apareçam cada vez mais troféus.

Tinha dito que o Sporting precisava de ganhar títulos. Agora precisa de se viciar neles?
Sem dúvida. Dá mais vontade de começar já a lutar por mais. Faz falta ao clube ganhar títulos e é para isso que estamos todos no Sporting. Para ganhar.

Já sentem como poderá ser viciante ganhar?
Desde pequeno que no Sporting me habituei a ganhar. Fui campeão em todos os escalões. Até ganhar esta Taça de Portugal, custou muito chegar ao final das épocas em branco.

Feitas as contas, o Nani sempre trouxe tudo o que prometeu ao Sporting esta época?
Sim, sem dúvida. Trouxe qualidade, acima de tudo. Obrigou-nos a estar ao nível dele, que é um nível muito elevado, até mesmo nos treinos. Foi bom para o grupo se superar em cada momento e até para os treinos serem sempre feitos com uma exigência enorme.

E como é que o Sporting vai superar uma ausência dessas este ano?
Veremos o que vai acontecer neste período de transferências. Acredito que a direção vai tentar compensar esta saída, como outras que poderão acontecer, e que não vamos estar menos fortes na próxima temporada.

A esta distância, ficou aborrecido por o Nani insistir em marcar o primeiro penálti quando chegou?
Não, honestamente não fiquei. Percebi o momento do Nani, queria chegar bem, queria ajudar, foi também para isso que ele veio para o Sporting e eu entendi essa situação.

Está no Sporting desde os 12 anos. Fez muitos sacrifícios para chegar onde chegou?
Sem dúvida. Muitos. Não há facilidades para singrar no futebol, ao contrário do que as pessoas pensam. Muito suor, muito trabalho e algumas lágrimas.

Foi difícil em que aspeto?
Em todos os aspetos: desportivos, sociais e familiares. Chegar a este patamar é um orgulho enorme. Durante estes anos todos na Academia vi muitos rapazes a passar e muito pouca gente conseguiu furar. Felizmente consegui e estou muito orgulhoso por isso. É um orgulho enorme fazer parte desta grande família que é o Sporting.

Custou muito deixar a família aos 12 anos em Arcos de Valdevez e vir para tão longe sozinho?
Foi um dos pontos mais difíceis. Um ano antes tinha acabado de deixar a família e os amigos em França e oito meses depois o Sporting foi buscar-me, mudar-me de cidade, não propriamente para perto. Foi mais um sacrifício para fazer, mas a vida é assim.

Nesse processo todo chegou a pensar em desistir?
Sim, com 12 anos não temos a mentalidade que temos aos 15 ou 16. Não somos tão fortes psicologicamente e muitas vezes fui-me abaixo. Nesse aspeto tenho de agradecer muito à minha família: foram eles que me agarraram quando estava a cair.

Foi pela família que nunca desistiu?
Sem dúvida. Houve momentos difíceis, momentos muito difíceis. Sozinho, com 12 anos, cheio de saudades da família. Via os outros miúdos da minha idade a ter uma vida normal, acabavam o treino iam para casa, com os pais, podiam estar com os amigos, podiam festejar os anos dos familiares, que para mim, naquela altura, não era possível. Foi difícil.

O Adrien vivia onde, na Academia?
Sim, sim. Desde os 12 anos, que é quando se pode entrar, que integrei a Academia em Alcochete. Foi o primeiro ano em que abriu.

Quando sentiu que era realmente um miúdo especial na Academia?
Com 15 ou 16 anos, apenas. Até lá via que era titular, era capitão de equipa, sentia que era importante, mas não pensava em chegar aos seniores. Era o presente: era o gosto de jogar futebol todos os dias, de treinar todos os dias. Mesmo quando não havia treinos, íamos para os campos da Academia brincar e era sempre bola, bola, bola.

Aos 12 anos jogar futebol deixa um miúdo feliz, não é?
Claro. Por isso é que também nunca desisti.

E quando sentiu que podia chegar ao nível que chegou?
Acho que todos nós temos de ter confiança que podemos chegar lá, mas também temos de criar as condições para que isso aconteça. Esse foi sempre o meu pensamento. Eu repito isto muitas vezes, mas é a verdade: o meu pai incutiu-me sempre a mentalidade de nunca relaxar, nunca estar satisfeito com o que já conquistámos. Mesmo sendo capitão em todos os escalões, obrigou-me a pensar que havia sempre coisas para melhorar.

Esta foi a sua melhor época de sempre?
Evoluí em muitos aspetos, isso é verdade. Se foi a melhor… não sei.

Mas ficou contente…?
Sim, estou contente com o que fiz. Este ano havia uma competitividade maior no meio campo do Sporting, isso obrigou-me a dar ainda mais e a superar-me a todos os níveis.

Fez 42 jogos e 10 golos: são números que genericamente o satisfazem?
Faz parte da minha família, o meu pai incutiu-me isso, nunca estar satisfeito. Tinha o objetivo de fazer mais golos, tinha o objetivo de aguentar mais jogos, carregar nas pernas mais minutos consecutivos, e isso foi conseguido. Estou feliz nesse aspeto, mas quero ainda melhor, porque há sempre coisas para melhorar.

O que sente que lhe falta para subir ao próximo nível?
Há sempre coisas que temos a melhorar. Nunca está perfeito. Técnica e taticamente há sempre espaço para crescer. É uma questão de encaixar o momento.

Subir ao próximo nível é, por exemplo, estabelecer-se na seleção?
Sim, também. Tenho vindo a aparecer cada vez mais na seleção, tenho merecido a confiança do selecionador, a partir daí tenho que mostrar nos treinos que mereço uma oportunidade e tenho que retribuir da melhor forma.

Sente que está cada vez mais dentro do grupo da seleção nacional?
Tenho vindo a trabalhar no duro para isso. A seleção tem grandes jogadores na minha posição, jogadores que atuam nas melhores equipas da Europa, mas o que faço é tentar aprender com eles e tenho vindo a encontrar o meu espaço no grupo.

Está bem naquele grupo?
Muito. Muito bem.

Sente que aquele é o seu grupo?
Sem dúvida. É gente trabalhadora, humilde, que ajudam os companheiros e quando é assim, tudo se torna mais fácil.

O próprio Adrien sente que cresce como jogador na seleção?
Sim, claro. Todos crescemos a jogar com os melhores e contra os melhores. É aí que se aprende mais. Há jogadores que têm dez anos a mais de futebol do que eu, recordo-me do Ricardo Carvalho, do Tiago, são homens dos quais se bebe experiência.

 

Por que vai fazer um jogo em Bordéus com os amigos?
Porque Bordéus é a minha terra natal, foi onde cresci, é uma cidade importante para toda a minha família, da qual tenho muito boas recordações. Esse convite surgiu e aceitei-o com muito gosto.

É uma equipa de amigos seus contra uma equipa francesa, não é?
Sim, é isso. São luso-descendentes com quem cresci e reuni também alguns jogadores para poderem participar nesta festa.

Também organiza todos os anos um torneio em Arcos de Valdevez. Porquê essa ligação às terras?
Porque é importantíssimo. Todas estas cidades deixaram-me grandes recordações, fizeram-me crescer e por isso só lhe posso retribuir desta forma: ao ver as pessoas fazerem o que mais gostam e o que eu adoro, que é jogar futebol.

Para além disso todos os anos leva alunos da escola de Arcos de Valdevez a uma cidade europeia, não é?
Sim. Quando eu cheguei a Portugal não falava uma palavra de português. Há uma amiga, que é professora nessa escola, que me ajudou muito, deu-me explicações particulares fora do horário escolar. Foi muito importante. Se não fosse ela teria tido muito mais dificuldades. Por isso o que faço é um agradecimento a essa amiga. Ajudo os miúdos nas viagens de fim de ano para que possam conhecer outros países.

Deve ter sido difícil para um miúdo que não falava a língua habituar-se a um novo país…
Foi difícil para mim, para o meu irmão e para a minha mãe. Nenhum de nós falava português. Apoiámo-nos muito um ao outro, estávamos na mesma escola e só queríamos que o intervalo chegasse para podermos estar juntos.

Quando começou a dominar o português?
A perceber português, foi ainda em Arcos de Valdevez. No fim de um ano já percebia. A falar, embora ainda com algumas dificuldades, foi no segundo ano em Portugal. Nessa altura já me desenrascava.

Hoje sente-se mais português do que francês?
Agora sim, muito mais. Claro que a França é a minha terra natal e é especial para mim, mas a minha pátria é Portugal.