Ah! O defeso! Esses maravilhosos 2 meses em que os adeptos do futebol vivem no limbo entre ir nú para o Marquês e enfiar um balázio nos cornos. Um corropio de sentimentos que variam entre a euforia e a depressão, a bipolaridade em força, um constante refresh nos computadores e nos nossos cérebros. A puta da loucura.

Não é fácil ser adepto neste período. A produtividade no trabalho diminui drasticamente, as relações conjugais sofrem um distanciamento, o computador é o nosso melhor amigo. Todos esperamos ansiosamente pela confirmação dos craques e pela desistência dos cepos. E tudo pode mudar a qualquer momento! O craque que está cada vez mais perto de repente cai e o cepo que apenas tinha sido sondado, de repente assina. É a época parva, senhoras e senhores! Feita por parvos e para alimentar parvos.

Já vivi demasiados defesos para saber que o melhor que temos a fazer é reforçar o stock de comprimidos, álcool e outros anti-depressivos. Aliás, o melhor mesmo é tirar férias na ilha paradisíaca mais longínqua que encontrarmos, fazer das tripas coração para não utilizar a internet durante essas férias e no regresso, entrar no avião, pedir o jornal à hospedeira e ver o Jardel com o cachecol do Sporting. Isto, sim, é que é fixe! Não saber se está mais perto ou mais longe, ignorar se foi sondado ou raptado, desconhecer todo o processo que envolveu uma contratação e, como por magia, ligar o botão (da TV e da nossa curiosidade) e ver a imagem do craque a dar o bacalhau presidencial.

Já todos perceberam que este vai ser um defeso animado. Não para nós, os parvos, mas para os pasquins. A silly season vende muito e eles sabem disso não se limitando apenas a publicar o que qualquer rouxinol lhes segreda ao ouvido mas também criando eles próprios a notícia que acham que os adeptos querem ler ou ouvir. E assim se enganam papalvos e aumenta-se as vendas. Ora neste defeso, sabemos que a estratégia do clube mudou. Como metemos boa parte das fichas no treinador, não será expectável que o Sporting contrate camiões de jogadores. Parece consensual que os reforços serão para o plantel principal e em menor número que o habitual, os tais 3/4 craques que sempre quisemos, a tal cirurgia anunciada e que chega com um ano de atraso. Portanto, o mais provável é que poucos saibam quem é que realmente queremos. Não obstante dos Ruizes que por aí andam, os nomes dos restantes alvos deverão mesmo estar nos segredos dos deuses. Porém, nesta era da tecnologia e da informação, até os deuses se bufam. E é aqui que entra em campo a capacidade de persuasão, o dinheiro disponível para as operações e a celeridade em fechar os processos. Se existe uma altura em que precisamos da competência de quem nos dirige, é esta. Os abutres andam aí, à espera de saber os nossos alvos, para poderem atacar.

Depois, há outro pormenor que li por aí e que faz todo o sentido. Devido ao fairplay financeiro e às restrições que temos, é muito provável que apenas se efectivem transferências após o dia 1 de Julho, de forma a que as mesmas figurem no R&C do exercício seguinte. Portanto, não é de estranhar que logo após a apresentação do treinador, um ou outro nome possam ser anunciados. Isto pode querer dizer que, não será pelo facto das águas estarem calmas neste momento, que o trabalho não esteja a ser feito.

Porém, há uma coisa que não podemos negar. Entrámos oficialmente no campeonato do defeso, o que não sendo propriamente porreiro (nunca almejei ser campeão de verão) também não é mau porque demonstra que estamos vivos no mercado. Já não andamos aqui às apalpadelas ou a meter o pezinho a medo na água fria. No mar gelado do defeso há que mergulhar de cabeça nem que seja para especular. Já demos a bicada no carnide com Jesus, podemos levar a bicada dos fruteiros com Danilo, os fruteiros poderão dar as habituais bicadas no carnide (dizem que o Mitrovic vai ser a próxima). Já não estamos naquela posição submissa em que os rivais levam o caviar e nós ficamos com o tremoço. Isto tem as suas vantagens (o nível da qualidade poderá subir) e as suas desvantagens (poderemos ter que entrar em leilão por alguns jogadores).

No fim, após todo o corropio, só desejo que o presidente não entre em loucuras, que o treinador tenha mais ou menos aquilo que pediu e que os jogadores encarem a próxima etapa com o entusiasmo natural que algumas aquisições geram. Quanto a mim, só posso prometer que manter-me-ei firme na minha parvoíce e esperarei com os olhos a brilhar por um qualquer Jardel de cachecol no pescoço. Mesmo que ele se chame Alan Mahon.

 

* todas as sextas, directamente de Angola, abandona o seu lugar cativo à mesa da Tasca e toma conta da cozinha!