Não é fácil analisar o que se passou ontem. E não é fácil porque acredito que quase todos nós não quiséssemos que Bruno de Carvalho marcasse presença num programa cujo nível de um dos comentadores o transforma numa espécie de casa dos segredos dos programas de paineleiros. E todos percebemos onde é que aquilo ia parar, assim que o tal do Guerra, na sua primeira intervenção, resolveu elogiar a instituição Sporting e afirmar que o problema dele era o “Dr Bruno de Carvalho”.

Bruno de Carvalho não perdeu tempo e bastou uma provocação rápida para que aquele que já é carinhosamente apelidado de morsa, se descontrolar. Pouco depois, dava por mim a pensar “mas porque raio é que este gajo veio aqui? Temos mesmo que participar desta peixeirada?” e, confesso, estive para desligar a televisão. Mas fiquei e ainda bem, pois o que vi em seguida foi um movimento de estratégia (o homem bem disse que não tomava decisões a quente) que não só enxovalhou um dos mais invertebrados comentadores da praça (aquilo chegou a roçar o bullying, com a participação de todos, incluindo do Sousa Dias, perdão, do Sousa Martins), como mandou para o cone de vento tudo aquilo que nós vimos dizendo, vimos lendo, mas que quem tem responsabilidades neste país parece ignorar (nem a traveca Ana Gomes se safou). No fundo, Bruno de Carvalho fez o que, há meses/anos, nós pedimos que os nossos representantes neste tipo de programas televisivos façam. É pena é que o presidente do Sporting tenha que sujeitar-se a mexer na merda, face aos pruridos dos nossos representantes em deitar-lhe as mãos (mesmo tendo em conta o cheio inconfundível).

A determinada altura, dei por mim a rir como louco, sentindo estar a assistir a uma troca de galhardetes no secundário. O que o Guerra não esperava é que, desta vez, a sua táctica de subir o tom e baixar o nível complementada com o constante interromper do discurso alheio, fosse a arma utilizada contra si. E os papéis, não faltaram os papéis que o Guerra tanto gosta, deixados em cima da mesa do moderador como quem diz “e se falassem sobre isto?”. Depois, o grande final, o abrir da caixa negra que deixa a nu as tão faladas ligações do benfica e da arbitragem. Foi o momento em que a máxima “It ain’t over till the fat lady sings”, se tornou em “It ain’t over till the fat lady cries”.

Perguntam-me vocês, foi bonito? Não, não foi. Jamais vou gostar de ver um presidente do meu clube em situações daquelas. A questão é que foi tão mau… que se tornou bom. E se queriam meter a merda na ventoinha ela, ontem, voou direitinha em direcção à máquina de propaganda lampiã (esperto foi o Serrão em manter-se calado, principalmente quando ouviu falar em porrada para obrigar jogadores a renovar).