Três em três meses, mas coisa menos coisa. Três vitórias sobre o benfica, três vitórias que não deixam margem para dúvidas. Mas havia quem tentasse vender a ideia que não era bem assim e que só com ajudinha dos árbitros (parece que vão bater na mesma tecla, logo num jogo onde, o golo que marcam começa numa falta não assinalada e, ainda nos 90 minutos, ficam dois penaltis por marcar a favor do Sporting, um sobre Slimani, outro sobre Ruiz) e com a sorte do jogo o Sporting tinha conseguido ganhar as duas primeiras partidas (1-0, na Supertaça e 0-3 para o campeonato). Este embate para a Taça, surgia, assim, como uma espécie de tira teimas.

Confesso-vos que lamento que aquela bola de Slimani, aos 4 minutos, não tenha entrado. O grito de golo que me ficou preso na garganta e esbarrou no poste, teria sido o início de um verdadeiro pesadelo para os encarnados. “Como é que sabes?!?”, poderão perguntar-me, nomeadamente benfiquistas sempre prontos a tentarem escamotear a realidade. Digo-o porque o que se seguiu, mesmo com um golo caído do céu e resultante de uma tentativa de finta que acaba por resultar em assistência para golo, mostrou o quão pequeno é o benfica neste momento. Pequeno em futebol, pequeno em estado de espírito, pequeno à imagem de um treinador à beira do colapso e de um presidente sem margem para continuar a vender a banha da cobra e tentando socorrer-se dos peões que colocou em programas televisivos. Se dúvidas existissem, o jogo de ontem confirmou que o benfica de Vieira é uma espécie de enorme companhia petrolífera: andou anos a vender aditivados que, agora, todos percebem que o que oferecem é gasóleo simples. Ou, se preferirem, mostra-se que o aditivo era, afinal, o gajo que agora treina o clube rival e que ia resolvendo todos os problemas que a “estrutura” afirmou ser capaz de resolver.

E, por tudo isso, o jogo de ontem foi, mesmo, um tira teimas. Ou um dissipa dúvidas. Ver Julio Cesar começar a queimar tempo aos 9 minutos de jogo é o espelho perfeito da mediocridade de um benfica que, arrumadinho lá atrás (33% das bolas recuperadas pelo Sporting foram recuperadas no meio-campo adversário, contra apenas 13% da equipa de Rui Vitória), acreditou ser possível agarrar-se ao tal golinho milagroso ou arrastar o jogo até aos penaltis. E, sim, confesso que, a dada altura, me passou pela cabeça a possibilidade dessa lotaria e de uma tremenda injustiça (a propósito, aquele flash interview do Guedes é dos momentos mais constrangedores de que me recordo nos últimos tempos). Ao longo de 120 minutos, o Sporting foi a única equipa a querer ganhar o jogo e foi a única equipa a fazer por isso. Quando o corpo pediu um abrandamento no ritmo, ali por volta dos 60 minutos, o benfica disfarçou o tão grande desnível que se viu à vista desarmada, mas, ainda assim, o momento de maior perigo terá sido quando o Gaitan se atirou para o chão e tentou cavar um penalti (nesta altura o traumatismo craniano ainda o deixava pensar, não era?). De resto, remates de fora de área e nada mais, naquele futebol directo à moda de uma equipa do mister Rui (o desespero do homem na flash e a forma como não falou do jogo na press quase que o tornam digno de compaixão).

Do outro lado, o Sporting soube ser uma equipa. Mais, uma grande equipa (ui, é verdade… ser ou não ser equipa). Contei pelos dedos de uma mão as vezes em que incorremos o erro de tentar o futebol directo. E já só sem Ewerton em campo passámos a cobrar pontapés de baliza sem sair a jogar (mesmo assim, querendo sempre vir de trás para a frente a jogar, tivemos apenas 4% de perdas de bola em zona defensiva, contra 13% do Benfica). Paciência, classe. E alma, muita alma. À medida que o tempo passava e que a bola não entrava, dei por mim a pensar o quão orgulhoso estava do que via no relvado. E fora dele, porque naqueles dez minutos finais do tempo regulamentar e na segunda parte do prolongamentos as nossas gargantas foram as pernas do jogadores. E já que neles falamos, torna-se complicado estar a fazer destaques. Porque Patrício esteve sempre onde devia estar, porque João Pereira conseguiu manter o ritmo quando as pernas já não respondiam, porque Paulo Oliveira é o toque de humildade que faz falta a qualquer equipa, porque Jefferson arriscou continuar a correr quando a lesão já lá estava, porque Tobias foi o puto que mandava em tudo nos dérbis das camadas jovens, porque Esgaio continua a contrariar o “estigma Pereirinha”, porque João Mário foi crescendo até ficar tão grande como o jogo pedia, porque Ruiz dá um toque de NBA ao nosso futebol, porque Montero insiste em fomentar aquela relação amor-ódio com os adeptos, porque Gelson, que ainda está longe de ser um jogador de futebol, mostrou que não há cubos mágicos que formem jogadores da bola como a nossa Academia e foi para cima deles todos como se estivesse na rua. Mas seria injusto não sublinhar o monstruoso jogo de Ewerton (se eu fosse o Sousa Cintra, diria que tinha acabado de ver uma mistura de Marco Aurélio e de André Cruz), o monstruoso jogo de William (o esforço que um gajo faz para não pingar a cueca a ver este gajo sair a jogar quando o metro está em hora de ponta), o monstruoso jogo do capitão (mesmo!) Adrien (diz que o Bruno César foi contratado só para ensinar o Adrien a chutar de todo o lado. E já começou a dar resultados) e a brutalidade de jogo de Slimani, o nosso Leão do deserto, o homem que esteve quase a dissipar todas as dúvidas logo aos quatro minutos, mas que soube esperar mais 110 para fazê-lo.