Não podemos negar que, o campeonato português, é a prova viva de que o talento, as boas escolas de formação, bons olheiros e as grandes vendas conseguem aquilo que seria impossível para muitos, no mundo do futebol. Esta nossa competição, num país em que a grande maioria dos clubes paga ordenados mínimos para o desporto em questão, chegou com todo o mérito ao sexto lugar do ranking da UEFA, batendo-se lado a lado com locais onde o dinheiro abunda, como Itália ou França.

Aqui, não colaboraram apenas os clubes que compõem o eixo dos três grandes, secundados por um Braga que tem dominado o quarto lugar nos últimos dez anos. Muitos são os clubes, como o Rio Ave, Estoril, Nacional, Marítimo, Guimarães, Paços ou Belenenses, que com orçamentos perto de zero, têm conseguido descobrir excelentes jogadores e feito vendas muito interessantes, bem como desenvolvido treinadores de tarimba internacional.
Verificamos cada vez mais jogadores de classe nestes clubes, verificamos que os treinadores conseguem muitas vezes dar o salto para outros voos. Justiça seja feita, apesar do longo caminho, da corrupção, dos jogos de bastidores e de algum apoio de investidores, no mínimo, suspeitos, o futebol português não é melhor nem pior que a grande maioria do futebol europeu, conseguindo, no campo jogado, dar todos os dias provas da sua capacidade de inovação e qualidades.

Mas (e aqui é que está o grande mas) a qualidade dos jogos que são apresentados todos os fins-de-semana, ao contrário do que seria de esperar, cada vez diminui mais. E, para comprovar o que digo, basta ligarem a um Sábado um jogo como o Rio Ave – Paços de Ferreira, duas equipas que lutam pela Europa e que têm conseguido boas prestações, mas que se apresentam em campo sempre mais com o espírito de empate do que de vitória.

Se, nos jogos contra os grandes, se limitam a tentar o contra ataque, defendendo com tudo o que podem, entre eles o estado das coisas não muda muito. Existe pouco futebol corrido, muitas batalhas a meio campo, muitas queixas para com a arbitragem e, aproximadamente, 45 minutos de futebol. O resto, são perdas de tempo, biqueirada para a frente e bolas paradas.
O jogo de ontem, Sporting-Belenenses, foi mais um aborrecimento para o espétaculo do futebol. Uma equipa que ataca, outra que defende com 11 jogadores, adeptos nervosos, treinadores em estado de sítio. Mas o Belenenses não o fará apenas contra o líder do campeonato. Vai fazê-lo em Vila do Conde, na Amoreira e, quem sabe, até em Moreira de Cónegos.

Uma preocupação que deveria crescer em todos nós e nos nossos dirigentes. E não o digo apenas porque o nosso clube teve dificuldades em ganhar. Digo-o porque ver um FC Porto-Marítimo ou um Benfica-Paços, por exemplo (equipas históricas) se tornou penoso e demasiado enfadonho para quem realmente gosta de futebol. Digo-o porque não gosto de ver os jogos do Sporting, gosto de ver jogos, e em Portugal poucos apresentam duas horas de qualidade.

Que podemos fazer para obrigar a que exista mais futebol espectáculo? Provavelmente muito pouco. Este problema começa desde os escalões mais baixos e chega até ao mais alto. Todos os anos, existe uma equipa que prova que jogar olhos nos olhos, na grande maioria das vezes, trás os mesmos benefícios do que o excesso de zelo na defesa. Porque podem levar cabazadas contra as equipas de topo, mas vão ganhar muito mais jogos às equipas de baixo. Passará por atribuir mais pontos à vitória? Por não se atribuir nenhum ponto em jogos sem golos? Por aumentar os orçamentos dos clubes, permitindo-lhes a compra de melhores jogadores e mais opções? Ou temos nas nossas mãos um problema de mentalidade, de falta de cultura no Desporto, de uma desculpabilização por erros próprios muito vincada?

Não faço ideia. Mas ontem, se não fosse o Grande a jogar, tinha desligado a televisão aos 60 minutos de jogo e tinha procurado algo mais interessante para fazer do que assistir a uma espécie de jogo de futebol.

*às terças, a Maria Ribeiro mostra que há petiscos que ficam mais apurados quando preparados por uma Leoa