Nunca é fácil escrever uma crónica a seguir a uma derrota, pior quando se trata de uma derrota como a de ontem à noite, capaz de atingir-nos como uma paulada na nuca. É daquelas derrotas cujas marcas não saberemos quais são, mas que nos dão vários nós nos pensamentos e nos enchem de dúvidas.

Cheios de dúvidas parecem ter entrado os jogadores do Sporting. Depois de provarem, por três vezes, o quão superiores são ao seu adversário de ontem, os Leões pareceram acusar o peso do jogo e não foram capazes de catapultar a fantástica recepção que tiveram para dentro de campo. A bola parecia queimar, os passes saiam errados, as entradas fora de tempo. O benfica não fazia melhor e o resultado era um futebol aos repelões não espantando, por isso, que o golo surgisse de ressaltos e escorregadelas que deixaram Mitroglou isolado em frente a Patrício. Um pouco à imagem do que sucedera no jogo para a Taça de Portugal, os encarnados colocavam-se em vantagem e tinham margem para explorar a sua principal estratégia: bolas longas para o avançado, com a este a segurar o esférico para a subida dos médios que raramente acontecia, pois tanto Sanches como Samaris estavam preocupados em não perder posição em frente à defesa (Jonas estava entretido em atirar-se para o chão desde o primeiro minutos).

O Sporting demorou a reagir. Dominava, tinha bola, mas os movimentos de Slimani eram inconsequentes sem que os restantes homens (Ruiz, João Mário, Bruno César) o acompanhassem e aproveitassem o espaço que o argelino tentava criar arrastando os centrais. Nos entretantos, Adrien prega uma colherada em Eliseu e é claramente impedido de dar continuidade à jogada. Penalti sem margem para dúvidas, mas isso é coisa que continua a não acontecer quando tem lugar na área benfiquista. E foi à entrada dessa área, faltavam cinco ou sei minutos para o intervalo, que Jefferson sacou uma bomba que encontrou a barra da baliza adversária. E no que restou dessa primeira parte o Sporting pegou definitivamente no jogo, dando o mote para o segundo tempo.

É verdade que o primeiro remate dos segundos 45 minutos pertenceria a Renato Sanches, o jogador mais faltoso e mais protegido em campo, mas esse seria o único momento em que o benfica tentaria espreguiçar-se. As duas linhas de quatro homens fechavam-se cada vez mais lá atrás e estava dado o mote para mais uma daquelas partidas em que o Sporting tenta destravar autocarros. João Pereira ganhava a linha e cruzava para uma queda de Bruno César (não me parece penalti), depois voltaria a cruzar para Ruiz ter o primeiro grande falhanço da noite e para a recarga de Slimani encontrar as pernas de um defesa e ir para fora. Também da direita surgiria um balão para a área, no seguimento do qual Slimani seria agarrado pelo pescoço sem que o respectivo penalti fosse marcado.

Depois, o momento que deixou a nação leonina de mãos na cabeça: João Mário lança Slimani, o argelino ganha a linha e cruza para Ruiz encostar, mas o camisola 20, a um metro da baliza e sem guarda-redes, atira por cima. A história de Guimarães (e de outros jogos) repetia-se, com golos feitos a serem desperdiçados e, assim, é muito complicado. Mais complicado ficaria, ainda, quando Jorge Jesus resolve fazer duas substituições de uma assentada e quebra, definitivamente, a dinâmica da equipa (a própria entrada de Teo acabou por revelar-se pouco eficaz, com o colombiano a perder-se em toques de calcanhar que esgotam a paciência. Já agora, Adrien saiu por se ter ressentido da lesão?). Ruiz tentaria um chapéu, João Mário tentaria uma bomba de fora da área, Renato Sanches tentaria partir da perna a Bryan Ruiz e veria um amarelo em vez de um vermelho. O jogo acabaria aí, pois os restantes sete ou oito minutos foram queimados em simulações de lesões e retardares de reposições.

Na ressaca, por mais que olhemos para o jogo como uma derrota injusta da única equipa que pareceu querer ganhá-lo, o que fica é a perda da liderança e um desafio extra à nossa equipa e aos nossos adeptos. Os fantasmas estão todos a bailar, a descrença é o caminho mais fácil, a semana que se segue será muito difícil. O truque para enfrentar tudo isto é ainda mais retorcido: dizermos a nós mesmos «aguenta, Leão»!