Depois de uma exibição esmagadora no Restelo, frente ao Belenenses, a pior defesa do campeonato, era grande a expectativa de ver repetido o vendaval ofensivo contra o Marítimo, a segunda pior defesa da nossa Liga. Mas cedo se percebeu que o ritmo não era o mesmo e aqueles que, vá lá saber-se porquê, ainda acham que Adrien Silva é um jogador facilmente substituível, lá tiveram que engolir a diminuição de intensidade pela ausência do capitão. William tinha a braçadeira, é verdade, e Aquilani trataa bola com requinte, mas as descargas eléctricas do 23 faziam falta a uma equipa que se mostrava vagarosa de processos, com a agravante de não ter laterais no processo ofensivo (até quando, Jesus?): Schelotto fez um jogo paupérrimo (miserável, na primeira parte), Bruno César não te rotinas de ir à linha e procura consecutivamente flectir para o miolo.

Ainda assim, houve algo que se repetiu da partida frente aos pastéis: a capacidade de falhar golos feitos. Ruiz, que tantas e tantas vezes viria a polvilhar o jogo com a sua magia, viu Teo meter-lhe a bola redondinha na cabeça e ficou com a missão de perguntar ao redes para que lado a queria. É verdade que conseguiu pregar Salin ao relvado, mas o desvio foi demasiado desviado e a bola saiu ao lado. Antes, já Slimani e Teo tinham sido incapazes de emendar um cruzamento rasteiro e o argelino viria a ter dois lances à sua medida que morreriam pela cerimónia em rematar.

Quem não se mostrava rogado em rematar era a equipa insular. Aproveitando a menor pressão leonina, o Marítimo ia chegando à área leonina e à entrada para os últimos dez minutos da primeira parte obrigou Rui Patrício a ir ao relvado por duas vezes, a segunda com elevado grau de dificuldade. “Ruuuui!”, ecoava da bancada, enquanto o guardião se mostrava descontente com o espaço concedido. Do outro lado, Teo, que ia sendo um dos melhores jogadores de verde e branco, achou por bem seguir a receita adversária: avançou naqueles seus passinhos pequeninos que chegam a enervar e disparou de fora da área. A carambola resultante do ressalto no pé do defesa transformaria a bomba numa chapelada monumental e Alvalade gritaria, finalmente, golo!

E esse golo faria com que a equipa regressasse do balneário com vontade de resolver a partida. O Marítimo aceitou recuar, o Sporting passou a tricotar o futebol no meio-campo adversário. João Mário disparou e Salin defendeu; a bola sobrou para a entrada da área onde apareceu William, embalado, a recolher e a fintar com o direito, puxando para o disparo com a canhota. Tudo em movimento, tudo com ritmo, tudo para um grande golo que o camisola 14 perseguia há alguma jornadas.

Teo continuava a mover-se entre linhas e a agitar o último terço de terreno e foi assim que rodopiou sobre Dirceu para oferecer de bandeja o golo a Aquilani. O italiano, que trata a bola como se estivesse a convidá-la para um Martini, preferiu rematar em estilo em vez de rematar em força permitindo a intervenção do guarda-redes. Salin voltaria a parar um remate, agora de João Mário (sempre a tentar fugir para o meio para pegar no jogo), mas a bola acabaria nos pés do homem golo leonino. Slimani só teve que encostar e confirmar o seu 23º golo no campeonato.

Faltavam 15 minutos para o final e estava dado o ponto final na partida. A equipa desligou completamente e os adeptos, mais de 44 mil nas bancadas, ensaiavam a “ola” para celebrar mais uma vitória. Aproveitou o Marítimo a sesta do Leão de barriga cheia para se chegar à frente e, depois de uma ameaça, chegou ao golo de honra (merecido, diga-se). A turma de Alvalade foi acordada à bruta e os centrais que tão boa conta do recado têm dado pareceram estremunhados durante cinco minutos. Juba sacudida, miúdos lá para dentro e Matheus Pereira a deixar-se contagiar pela sede de marcar: duas vezes o virtuoso teve o golo nos pés, duas vezes só viu baliza e esqueceu-se de Slimani completamente isolado ao seu lado. Perderam-se as oportunidades, perdeu-se um final ainda mais sorridente, embora o mais importante estivesse feito: vitória justa, três pontos sem espinhas e o convite para uma invasão da onda verde a Moreira de Cónegos.