Gosto francamente do futebol deste jogador. Eis o que escrevi n’a A Bola sobre ele.
JESUS nem sempre tem razão, também se equivoca. Mas numa coisa tenho a certeza que ele acertou – no elogio que fez a Gelson Martins depois de o extremo ser convocado pela primeira vez por Fernando Santos. Disse Jesus que «Gelson traz [para a Selecção Nacional] aquilo que nenhum outro tem em Portugal neste momento: magia ofensiva». Parece-me que tem razão.

Não há actualmente nenhum futebolista em Portugal com as características de Gelson. Ele é o abre-latas mais excitante do campeonato. O puro sangue que fez a vida negra a Marcelo em Madrid. Gelson pertence àquela casta de jogadores que arrastam espectadores aos estádios e fazem estremecer as bancadas. É um futebolista electrizante que não tem medo de arriscar: força o 1×1, é corajoso nas bolas divididas, não «desliga», não se «esconde» e só conhece duas velocidades – rápido e rapidissimo. É claro que ainda estamos todos sob o efeito da exibição de Gelson no Santiago Bernabéu; e daquilo que sobre ele se escreveu na Imprensa espanhola e internacional – desde «tem Garrincha nos pés e Usain Bolt nas pernas» e «Gelson deslumbrou em Madrid» ao «último fenómeno do clube de Figo e Cristiano». Marcelo, que sofreu horrores com a acutilância do extremo, elogiou-o no final do jogo («fizeste-me passar mal»), assim como Cristiano, James e o conhecido jornalista Tomás Roncero, no AS: «Os portugueses encantaram-me. O tal Gelson Martins (21 anitos, a criatura) parecia o filho desse Figo que também deslumbrou na banda direita do Bernabéu num duelo da Taça Uefa de 1994»).

OK. Palavras, leva-as o vento e nem sempre o que parece é. Quantas estrelas já nasceram em fulgurantes primeiras páginas e definharam pouco depois por falta de confirmação no relvado? Tantas! Mas há algo que não deve ser levado à conta de exagero ou fogo fátuo: a opinião de Aurélio Pereira sobre a nova coqueluche leonina. Sendo o «Papa» indiscutível da formação em Portugal, Aurélio Pereira nunca usou a autoridade que tem e que toda a gente reconhece para, de alguma forma, exagerar ou exponenciar a cotação dos seus formandos. Pelo contrário. As suas declarações costumam pautar-se pela sobriedade e sensatez, o que não admira num homem capaz de elogiar jogadores feitos noutras paragens. Por isso, a maneira como ele se referiu a Gelson, sem o colocar nos píncaros… mas não disfarçando orgulho tanto no trajecto como na personalidade do jogador («fez uma formação à Sporting»… «soube responder às exigências»… «humilde e equilibrado»), é um sinal (para bom entendedor) que estamos perante um futebolista com magia suficiente para integrar a lista dos superjogadores fabricados em Alcochete – com tudo o que isso significa para o Sporting e para a Selecção Nacional, que anda há mais de duas décadas a viver do talento dos «Aurélios» – como bem se viu no último Europeu.

Fernando Santos não vai certamente apressar a estreia de Gelson na Selecção, mas não estou a ver como pode ignorar uma gazua com estas caracteristicas. Uma gazua-gazela que, no espaço de um ano passou, sem pestanejar, de «menino com potencial» (mas tapado por João Mário, André Carrillo – o Carrillo, lembram-se? – e Carlos Mané…) a titular indiscutível do Sporting. Alcochete é assim e Jesus reconheceu imediatamente o potencial do diamante. A dinastia iniciada há 36 anos por Paulo Futre e continuada por Luís Figo, Simão Sabrosa, Ricardo Quaresma, Cristiano Ronaldo, Nani e João Mário continua viva e recomenda-se. A Selecção de Portugal agradece.

André Pipa, in Facebook