Existem poucas coisas certas ou científicas no futebol. Porque o mesmo se define, e a magia do mesmo define-se, nos centímetros que separam um poste das redes, dos milésimos de segundo que o guarda-redes vê a bola partir, no segundo de recepção que estraga um golo cantado, no defesa que não chega lá a tempo ou no médio que não pára um contra-ataque. Tudo o que um treinador faz é, como melhor puder, eliminar os segundos, os centímetros, as falhas no plano colectivo, e os momentos individuais dos seus atletas que eliminem o seu adversário.

E aqui não importa mesmo se a táctica é o 4x4x2 ou o 4x3x3, mas sim qual o modelo que melhor potencie os atletas disponíveis. Não importa o desenho, importa o posicionamento. Não importa a velocidade, mas quando utilizar a velocidade, não importa ter tipos altos, importa saber colocá-los para marcar golos ou defender golos. Por isso é que um treinador é tudo num plantel, por isso é que os jogadores estudam os seus movimentos, onde devem estar e se vão compensando como uma máquina oleada.
E, tal como quando tudo corre na perfeição, o treinador é sempre o maior responsável, quando corre mal… também.

Temos passado horas do nosso dia, principalmente na frustação do pós-jogo, a discutir ponto por ponto onde falharam os nossos atletas. Neste momento temos 5 laterais disponíveis, nenhum deles agrada a bancada sportinguista. Temos opções para a posição 8, todas elas muito moles quando comparadas com Adrien Silva. Temos avançados em barda, que mandámos vir com o dinheiro fresquinho da venda do Slimani, mas não fazemos a mínima ideia de quem é o nosso segundo avançado. Temos alternativas a William sem estofo ou preparação. E, como se tudo isto não fosse já preocupante, apenas um extremo no seu topo de forma, sem companhia quando é necessário agitar às águas adversárias.

Se, friamente analisarmos esta compilação de reparos, percebemos rapidamente o que afinal se passa no Sporting: uma equipa em sub-rendimento. Porque em todos os sectores existem problemas (menos na abençoada baliza e nos homens que lhe fazem guarda de honra). Não é possível que achemos sinceramente que se trata apenas de um problema de atletas escolhidos, quando todo o modelo dá sinais de colapso.

O Sporting continua a depender dos movimentos interiores de um Bryan Ruiz ainda a recuperar a forma. O Sporting continua à espera de que o ponta-de-lança e o segundo avançado sejam os primeiros a pressionar e a criar perigo, mas as opções disponíveis têm todas metada da velocidade da dupla do ano passado. O Sporting continua a mandar os laterais subir de forma desenfreada, numa altura em que nenhum dos 4 habituais corresponde ao que se lhe pede. O Sporting não se resguarda, nem se modifica, porque a ideia do seu treinador é imutável. A equipa está menos confiante do que temporada passada, apesar das múltiplas opções que conseguiu garantir no mercado. A equipa tem uma quota mais baixa de formação presente, apesar de no passado muito recente terem sido jogadores de Alcochete os verdadeiros pilares desta geração.

A equipa está em sub-rendimento porque não se foi adaptando. Porque desde a derrota em Madrid, em que todos se sentiram no apogeu durante 88 minutos, tudo tem sido pesado, demasiado emocional e demasiado stressante.
Porque o Jesus insiste no mesmo erro um e duas e três vezes só para provar quem quer que seja que estava errado. Já o sabíamos assim, foi isto que aceitámos e foi por isso que nos pôs a jogar o melhor futebol que muitos de nós já viram.

Mas, agora, é altura de alterar algumas ideias, alguns posicionamentos, alguns centímetros, milímetros ou segundos, em função dos atletas que temos disponíveis. Não mudar os atletas, muitos deles responsáveis por grandes jogatanas dos homens de Alvalade. É altura de seguir uma rotina vitoriosa, aumentar os níveis de confiança de um onze que se vê perdido demasiados períodos de cada jogo, e recuperar aquela raça que tantos pontos nos deu nos últimos minutos do ano passado.

*às quintas, a Maria Ribeiro mostra que há petiscos que ficam mais apurados quando preparados por uma Leoa