praiense-equipa_006Apesar da bola ser redonda, de serem onze contra onze, de contar é lá dentro e todos os clichés futebolísticos que queiram adaptar sempre que uma equipa de menor dimensão enfrenta outra de dimensão enorme, o que temos de mais certo é que a partida de hoje termine com uma vitória do Sporting e a classificação para a fase seguinte da Taça de Portugal.

Ainda assim, o respeito que nos exige qualquer associação desportiva em Portugal e o facto do fantasma da “Festa da Taça” estar ainda hoje, na era do futebol moderno, presente, diz-nos que teremos de encarar o jogo com o Praiense com a seriedade de qualquer outra partida. A melhor homenagem que lhes podemos fazer, que de tão longe vieram para jogar um jogo que todos dizem estar perdido, é entrar com tal vontade e atitude que saiam daqui goleados. Porque significa que o Sporting os levou a sério e nem por um momento decidiu descansar.

O plantel do Praiense é constituído por 21 portugueses, um guineense, um cabo-verdeano e um costa marfinense. O treinador é Francisco Agatão e curiosamente tem uma passagem pelo nosso clube na época de 97/98, como adjunto. Teve por isso a oportunidade de trabalhar com o Pedrosa, o que é sempre uma medalha importante no futebol português. Esse ano terminámos em quarto lugar e apenas com 15 vitórias em 34 jogos da Liga Portuguesa. Tempos gloriosos do velhinho Alvalade, portanto. Agatão passou ainda pelo Braga, Campomaiorense, Santa Clara, Salgueiros, Operário Lagoa, Recreativo de Caála (oh diabo) e assumiu o cargo de treinador principal do Praiense esta temporada. Destacadíssimos na sua série, com apenas dois empates em 10 jogos, e a causar “surpresa” na Taça de Portugal.

A história de Agatão, e de muitos jogadores do Praiense, é a realidade do futebol fora desta bolha a que nos habituámos por ser adeptos do Sporting. Muitos deles recebem ordenados piadéticos comparados com os de qualquer outro jogador, muitos deles chegarão apenas à Segunda Liga e partilhar o relvado com ex-craques ou futuros craques, nada mais. Muitos deles pagam pelo seu equipamento e treinam quando podem, para aos 35/36 terem a carreira que escolheram acabada.

Encontramos no futebol muitos Praienses, que vão sobrevivendo no meio do futebol, nos cantos mais esquecidos do nosso país. Hoje, mais que golear e equilibrar a equipa com as vitórias, devemos ao Praiense pelo menos o esforço de decorar o seu nome e símbolo, a cor das suas camisolas, e se no fim conquistarmos a Taça, relembrar que tivemos de passar por eles para o fazer.

*às quintas, a Maria Ribeiro mostra que há petiscos que ficam mais apurados quando preparados por uma Leoa