O ano passado, por esta altura, o Sporting praticava um futebol invejável, tinha uma defesa segura e um ataque bem organizado, e ainda assim muitos de nós tínhamos a sensação de que a equipa poderia ir rendendo muito mais ao longo da temporada. Com efeito, acabaríamos de bater o recorde de pontos do clube, bater o recorde de pontos em Portugal, praticar um futebol de grande nível europeu e marcar muitos muitos golos, ainda que nada disso tenho resultado em títulos.

E, na realidade, esta campanha relativamente bem sucedida, que nos elevou imenso em termos competitivos e nos permitiu ser a equipa mais temível em Portugal, deu-nos a sensação de que este ano teríamos uma transição pacífica. O treinador era o mesmo, parte da base da equipa mantinha-se ou pelo menos faríamos o esforço para isso, com a vantagem de termos já duas ou três pérolas, lançadas por Jesus, a despertar na equipa principal e que nos davam alguma segurança.

Isto tudo ainda mais ampliado pela rápida adaptação que testemunhámos o ano passado, com a maioria dos reforços escolhidos por Jorge Jesus. Naldo, que acabaria por perder a titularidade, fez 6 meses de alto nível. João Pereira, Gelson Martins, Bryan Ruiz, Teo Gutierrez, Bruno César, Coates ou Schelotto foram todos caso de sucesso imediato assim que chamados ao onze titular, que pareciam jogar juntos há anos e ter assimilado os processos do treinador no espaço de dias.

Isso não acontece este ano. Não porque os jogadores são piores ou melhores que o citados, mas sim porque têm características diferentes dos que nos deixaram, porque a equipa se foi perdendo e encontrando no pragmatismo exagerado do seu treinador, porque fomos sofrendo alguns desaires que nos abalaram animicamente. Na realidade, a ausência de João Mário está a ser bem compensada com o melhor assistente da Liga. Slimani foi substituído pelo fantástico Bas Dost, que coitado não pode inventar qualidades que não tem, mas que sabe o que é meter a bola lá dentro.

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Demorámos uma eternidade até encontrar o segundo avançado que metesse aquilo a mexer, que contribuisse com golos de assistências. Confiámos demasiado em contratações excluindo do nosso plantel miúdos que nos teriam sido mais úteis nestes primeiros meses, mas talvez não tanto a longo prazo. Fomos preguiçosos a recompor a defesa, que precisava de retalhos e deveriam ter sido acautelados, mas comprámos avançados para esta e a próxima Liga, alguns dos quais vindos de clubes como Liverpool e Arsenal.

Confiámos que seria uma transição pacífica, que quase nem se notaria a diferença, mas o nosso treinador, queimado por ter perdido a Liga da forma que perdeu, deu lugar a cautelas chocantes e à vontade de vencer em vez do espetáculo que marcou a última temporada.

O Sporting marca e automaticamente troca a bola de forma a arrefecer o jogo. O Sporting tem dificuldades em encontrar recursos para atacar os últimos minutos quando tem de marcar. O Sporting depende de forma assustadora daquilo que William, Adrien, Bruno César e Gelson fazem. E basta apenas uma destas peças estar em dia não para termos de escalar uma montanha.

O Sporting atacou muito bem o mercado, mas esqueceu-se que tinha soluções mais comprometidas dentro de casa. O Sporting confia no crescimento dos seus atletas e fechou os olhos a atletas que já estavam prontos, adaptados, confiantes (o que lhe quiserem chamar).

Traçámos objectivos claros para este ano: conquistar o título nacional, ganhar a Taça de Portugal e jogar a Liga Europa (única perspectiva real depois do grupo que nos calhou). Um deles já falhámos, de forma vergonhosa, o primeiro, e mais importante, estivemos já muito perto de perder definitivamente.

Vamos ainda muito a tempo de emendar o que de mal tem sido feito. Podemos levantar ainda três canecos e acabar o ano de forma incrível. Mas o balanço do primeiro terço da temporada é negativo e nem o primeiro lugar no domingo poderá mascarar isso. Porque a realidade é que, face aos pontos perdidos pelos rivais, o Sporting no ano passado já estaria em primeiro lugar isolado, não fosse por incompetência própria e uma espécie de histeria colectiva que se instalou no nosso balneário naquele terrível mês.

Acredito que Joel Campbell, André, Douglas, Alan Ruiz ou Markovic ainda venham a ter uma contribuição extremamente positiva na nossa caminhada para o título. Mas o campeonato ganha-se desde Setembro até Maio e uma equipa faz-se a pensar nas vitórias assim que começa o mesmo.

Não farei afirmações definitivas como “se perdermos domingo acabou o sonho”, como tantos sportinguistas gostam de fazer, e sei que mesmo a cinco pontos continuarei a acreditar até me ser impossível fazê-lo. Já estivemos a 7 pontos, podemos ganhar 8 pontos aos rivais no espaço de umas semanas. Nada me diz que não o faremos outra vez.

*às quintas, a Maria Ribeiro mostra que há petiscos que ficam mais apurados quando preparados por uma Leoa