Antes de mais, penitencio-me por não poder servir-vos como antes. Hoje que tenho tempo, estive aqui a organizar umas ideias como terapia para a angústia que sinto.

Existem várias razões pela performance desta época. Cada um terá as suas, deixo aqui as minhas, que divido em dois tipos: razões internas e razões de contexto. Estão perfeitamente à vontade para berrarem aí atrás que estou a passar paninhos quentes ou a arranjar desculpas. É cagativo. O que posso garantir é que pouco ou nada tenho escrito, o que tem me dado para pensar, pensar muito porque o momento é delicado, imprevisível no início da época (no campeonato começámos muito bem) e merecedor de uma análise mais abrangente do que atribuir culpas a A ou a B.

Nas razões internas, que não são mais do que aspectos relacionados com os jogadores e a forma de jogar, segue abaixo, por ordem decrescente de impacto, aquilo que eu entendo serem os motivos deste momento:

1) PL. Slimani vs. Bas. Quem diz que estamos “iguais” no ataque só pode estar maluco. Isto não quer dizer que não goste de BD ou que não ache que tenha sido uma excelente contratação. Ponho este aspecto em primeiro lugar pq Sli marcou quase 30 golos, a maioria dos quais decisivos para o resultado e muitos deles em jogos de elevada dificuldade. E, por outro lado, Sli era o primeiro defesa da equipa, permitindo-nos condicionar o jogo do adversário logo à saída da sua área. Há quem despreze isto mas eu, não só não desprezo como lhe dou importância máxima. Jogar com Bas implica uma nova forma de jogar, obriga a maior desgaste dos médios e obriga a jogar quase exclusivamente por fora. Tudo diferente daquilo que eram os nossos princípios de jogo do ano passado. E depois, um pequeno grande pormenor: com Sli, se o jogo de posse e circulação não entrava, havia SEMPRE (mas mesmo sempre!) um maluco lá  à frente que, mesmo tendo a morfologia de um pilar de betão, atacava o espaço durante 90 min como vejo poucos avançados fazer, o que permitia que um pontapé longo, ou até mesmo um alívio, se transformasse numa potencial jogada de perigo. Isto, em futebol, vale ouro. Sobretudo quando não se joga bem ou não se concretiza em jogo apoiado (e ganhámos muitos jogos pela margem mínima no ano passado)

2) O segundo ponto mais importante tem a ver com a saida de João Mário. Quando no ano passado tínhamos um jogo interior fortissimo com Bryan e JM, este ano com Bryan em baixo e Gelson ainda a aprender como jogar por dentro, simplesmente não temos jogo interior. A consequência é a previsibilidade do nosso jogo. Ao mesmo tempo que o lateral adversário “sabe” que vai ser sempre comido pelo Gelson, os centrais tb já sabem que basta marcar Bas pq n há 2 avançado que ataque o espaço como Teo fazia.

3) O terceiro ponto tem a ver com os laterais. Nenhum tem qualidade para jogar no Sporting. Quem joga contra nós já sabe que basta insistir pelos flancos (sobretudo o esquerdo). Ou seja, defensivamente, embora colectivamente o processo não tenha sofrido alterações (defesa alta, pressão feita no meio campo adversário, condicionamento do jogo adversário em zonas altas), os intérpretes nas laterais são individualmente insuficientes. É isso provoca demasiadas quebras no nosso domínio e insegurança no nosso jogo.

4) O segundo avançado. Aqui as incoerências são tantas que não percebo o que JJ quer. Se a ideia era uma cópia de Teo, nem Alan Ruiz nem André o são. Muito menos Bryan e BC. Se a ideia era experimentar outro tipo diferente de segundo avançado (creio que era essa a ideia com Alan Ruiz), então tinha que ter insistido no mesmo, mesmo correndo o risco dele não render no imediato. Aqui acho que, por um lado, Jesus n teve a paciência para o seu plano A (Alan Ruiz) e a procura de outro plano está a desgastar ainda mais jogadores como BC e Bryan que são a primeira opção para todas as posições do meio-campo e como 2 avançado.

 

Estas são, para mim, as razões estratégicas/tácticas para a diferença do ano passado para este ano. Jesus quer que a equipa jogue da mesma forma….com jogadores totalmente diferentes. E este é o primeiro grande erro de JJ. Nem alterou a forma da equipa jogar e escolheu jogadores errados para a sua forma de jogar. Sli, Teo, JM….para Bas, Alan Ruiz, Gelson…acho que não poderiam ser mais diferentes.

Depois, há as razões de contexto, mais relacionadas com os jogos e o ambiente fora-de-campo.
Sempre disse que “aceitava” a derrota  de Vila do Conde pela ressaca da derrota em Madrid. Jogos de intensidade e competitividade máximas como o de Madrid provocam desgaste, sobretudo mental. Mais ainda se correrem da forma que correu esse jogo. Isso rebentou psicologicamente a equipa. A prova é que várias equipas, inclusive tubarões, claudicaram nos jogos a seguir à Champas. Com 4 jogos absolutamente decisivos deste tipo (Dortmund e Madrid) só uma super-equipa passaria incólume desse período, tanto na própria Champas como no campeonato.

Dentro do contexto, temos a arbitragem. Não falo sequer no impacto que tem tido, falo apenas no factor em si e nas consequências. Não conheço outro clube com tanta percentagem de lances duvidosos decididos contra si. Recentemente estamos a acabar os jogos com o dobro ou o triplo(!!!) das faltas do adversário. Mãos claras que depois dão origem a golos não são marcadas. Mãos involuntárias são imediatamente assinaladas consoante a cor do equipamento., tudo isto no espaço de uma semana. Parece-me claro que existe uma estratégia concertada para empurrar o Sporting para baixo. Tanto na avaliação dos lances decisivos como na dualidade de critérios.

Posto isto, acho que despedir Jesus (ou mesmo trocá-lo no final da época) será um retrocesso. Ninguém, em Portugal, é melhor que ele. E ninguém, emPortugal, é capaz de encarnar o espírito de combate que precisamos de ter para fazer face à corrupção reinante. Hoje, é difícil ver isto mas 86 pontos no Sporting (sublinho, no Sporting) valem muito, pelo menos para mim. Se queremos regularidade, para mim não faz sentido despedir aquele que melhores garantias dá para essa mesma regularidade. Ou então achamos que estes 8 pontos de atraso e o actual 4 lugar é o “normal” para Jesus. Por incrível que pareça, mesmo os gajos que custam 6M (ou mais) ao ano não são infalíveis e podem sempre ter uma época destas. Só em Manchester há 2. A questão está em perceber se isto é o “normal” de JJ (e se fosse era correr com ele já), mas se não for, seria bom pensarmos duas vezes antes de lhe fazer a cama.

Não despedir Jesus não significa que tenha de ficar tudo como está. Jesus pode ser teimoso mas com a equipa nesta posição terá de, forçosamente, ouvir outras ideias das pessoas que o rodeiam. Terá de assumir as más contratações e, em face deste rendimento das mesmas, trazer outros, sejam eles da Academia ou contratados. Recusar-se a isto será a morte dele como treinador.

O que eu sei é o seguinte: existem 2 áreas distintas: contratações e treino. Se a primeira foi completamente ao lado, mandar às malvas a segunda só pq a primeira falhou é uma estupidez. Porque Jesus, ao nível do treino e da exigência é e vai continuar a ser top, seja em Alvalade ou noutro sítio. Basta ver a evolução de JM, Gelson, Semedo e do próprio Adrien em apenas 1 ano com JJ. É tirar-lhe (ou limitar) o pelouro das contratações e seguir em frente. O risco de contratar alguém pior está aí ao virar da esquina. E não é com Rui Jorges e Fonsecas (de quem gosto) que vamos combater o Sistema. Porque é disso que se trata. nós não estamos simplesmente a disputar jogos e campeonatos, estamos a tentar por fim a um Sistema corrupto dominado pelo Carnide e o regresso à bipolarização que tanto nos custou a quebrar.

Termino com 2 ideias: A primeira é que um treinador razoável é campeão no Carnide ou no Porco mas no Sporting fica em sétimo. A segunda é que o Sporting, para ganhar tranquilamente os seus jogos tem de ser constantemente dominador. Existe uma máxima que diz: “quem joga melhor está mais perto de ganhar”. No Sporting, jogar melhor não é suficiente. Temos de jogar muito melhor, roçar a perfeição tanto a defender como a atacar. Não vejo pessoa mais capaz disto do que JJ. Porque já o fez no ano passado. E mesmo assim não ganhou.

PS: Sobre o presidente, não vou escrever nada, para já, porque não creio que tenha tido grande impacto no percurso da equipa. O pelouro das contratações não foi entregue a Jesus este ano, foi entregue no ano passado e o ano passado foi impressionante, tanto em termos pontuais como exibicionais. Qualquer pessoa sensata manteria tudo como está. Foi o que BdC fez. Tem responsabilidades? Tem. Mas mudar o que correu bem é o primeiro passo para estragar. Mas também o elegemos para ler os sinais, prever os acontecimentos e antecipar acções. E isso não foi feito, ou, para ser mais justo, conseguido.

PS2: Neste momento, tudo se resume à resposta dos adeptos a (mais) um mau momento. Estamos em controlo de danos. Tudo isto pode inverter para um rumo positivo (mesmo que não atinjamos os objectivos) ou continuar nesta maré que, invariavelmente, levará a uma crise bem mais profunda. Eu já fiz a minha escolha: estive no Restelo como estive há 2 anos com Marco Silva num momento em tudo similar (e só Deus, o Moura e a Maria sabem como saí de lá). Sabem como terminou esse ano? Com um caneco no museu. Não aquele que ansiamos há muito mas, ainda assim, foi um desfecho fantástico, tendo em conta o momento em que estávamos. E acabámos todos num enorme momento de comunhão em pleno Jamor. É a prova que mesmo uma má época pode sempre acabar em união.

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* às sextas, abandona o seu lugar cativo à mesa da Tasca e toma conta da cozinha!