Sou do Sporting!
Não sou sportinguista por oposição a qualquer outro clube. Sou por educação. Tive a felicidade de o meu pai ser do Sporting e incutir esta militância nos filhos. Íamos à bola com alguma regularidade. Desde os meus 7, 8, anos que vou à maior parte dos jogos em casa. É um dos clubes da minha cidade, o que tornava esta relação fácil.

Vivi, intensamente, o pior Sporting, o dos anos 80 e 90. Não tinha ainda idade para estar presente no 7-1, mas já lá estava no 3-6 e no very light, e nos perús do Ivcovic, o mesmo que defendeu 2 penaltis do Maradona, contra o Porto. Mas também estava num 3-0 contra o Famalicão, ainda nos anos 80, acho eu, que me valeu uma bandeira! “Pai quero uma bandeira!”, “Se o Sporting ganhar 3-0, eu dou”, e deu!
Das castanhas e das queijadas, do primeiro jogo em que vi os sócios pagarem bilhete.

Só sou sócio desde os 12 anos, porque até lá não se pagava para ir à bola. Com o meu pai ficava sentado na superior sul, na bancada de pedra, um bocado por cima da Torcida Verde, a ver ao fundo, fascinado, a Juventude Leonina e todo o espetáculo que davam… Lembro-me do meu primeiro jogo com o Porto, perdemos 2-0, o tal do Ivkovic, e também um par de anos depois o meu primeiro jogo com o Benfica, 0-0.

A minha primeira tribo do futebol, o meu pai, o meu irmão, o meu primo mais velho (que comia sempre um magnum) e mais um par de primos. Nós éramos o Sporting! Íamos a todas! O meu primo enfurecia-se “Eu sou do tempo do Yazalde!” gritava para dentro de campo naqueles 0-0 medonhos, típicos dessa altura… Final e finalíssima, da taça contra o Porto, nos Super Dragões, no segundo jogo, havia uma faixa, que dizia qualquer coisa como “1200 quilómetros em uma semana, queremos a vitória”. E tiveram-na. Envolvidos em assobiadelas e o João Pinto agarrado à camisola enquanto nos insultava. E por falar em assobiadelas, os primeiros minutos dos derbys, cada vez que os encarnados tocavam na bola o coro de assobios era tão grande que nem dava para ouvir os pensamentos, era incrível. Um dia ganhámos a taça contra o Marítimo!!!! Golos do Yordanov! Fomos lançados para Alvalade comemorar, a quebra de 13 anos sem títulos no futebol, tinha eu quase 15 anos. O próprio Yordanov, em 2000, foi quem iniciou as comemorações no marquês, subindo e colocando o nosso cachecol no leão!

Quando tinha 16/ 17 anos, o meu pai comprou cativo e eu não quis juntar-me na Bancada Nova, passei a ir com amigos. E o Sporting foi tornando-se um modo de vida. Vidas planeadas sabendo que no fim de semana há alguma coisa diferente. Há uma família de pessoas que não conheço, mas conheço, estão de verde, como eu. O resultado passava para segundo plano, não que não tenha mau perder, porque tenho, mas porque aprendi que há três resultados possíveis no desporto e eu não controlo essa parte. Por isso aceito-a.

Ir à bola não era, então, o resultado. Era ir com o meu pai até ao estádio, separar-me dele a chegar a Alvalade e seguir com os meus amigos. Era, mais tarde, fazer o caminho a ouvir Pogues, no velhinho AX, com o Duarte, e um litro de cerveja para cada, e chegarmos à bancada a tempo dele abrir o seu pacote de queijadas quando a equipa entrasse para aquecer. Saltar para as redes assim que o Secretário passou a bola ao Acosta e ficar lá pendurado, perdido de felicidade, a querer que aquele momento fosse para sempre, pena que a polícia não tenha querido o mesmo. Os nossos dois campeonatos foram o delírio!

Depois o novo estádio, e um esfriar… Não sentia ali a minha casa. Demorei muito a gostar de lá ir. Tinha saudades do que conhecia, ainda tenho. Tinha dificuldades em criar memórias na nova casa. Mas ia… Sem a mesma regularidade religiosa, mas indo. Até que fui pai, primeiro, e, um par de anos depois, passei 7 meses no Porto. Quando voltei mudou tudo. As saudades do Sporting. Da proximidade do meu clube, trouxeram outro vigor. Além disso, era a minha vez de ensinar estes valores. De passar esta postura. De mostrar que um clube é muito mais que vitórias e derrotas, um clube é relação e relações.

O Sporting não é futebol, o Sporting sou eu. O Sporting é ir a Alcochete porque temos tempo para ver a equipa B, descontraídos.
É festejar os campeonatos de futsal e de qualquer outra modalidade, fazer a corrida do Sporting e aplaudir os leões que vão em primeiro lugar, saber o nome deles. No futebol, passa por chegar antes do jogo. Muito antes. Estar no meio da família leonina. Rir, conversar sobre o Sporting, pensar Sporting. Ver a bola, de pé, a cantar, a apoiar o nosso clube. No fim do jogo, se for preciso, também se reclama e assobia, mas enquanto os nossos rapazes estão a lutar, nós fazemos a nossa parte. Ouvir músicas do clube, ir para a varanda de casa, sem motivo, abanar a bandeira com os miúdos!

Quando saímos do carro no Restelo expliquei aos mais novos que estávamos a entrar em terreno adversário, tínhamos de respeitar e ficar unidos. No fim do jogo, depois de 90 minutos em pé a cantar até ao último segundo, “Grande primeira deslocação?” congratulo o mais novo, de lá recebo “Não! Já vi o Atlético fora e também o Vilafranquense no estádio do Estoril!”. É isso! Não há equipa A, nem B, nem jogos grandes e pequenos, há Sporting e ser do Sporting é viver o Sporting.

cronicas

 

in Crónicas do Sr. Ribeiro (Facebook)