Tenho para mim que a ideia de que “só ganhámos 1-0 a estes marrecos da segunda liga” é uma forma muito redutora de olhar para a partida de ontem. Ok, é um facto que “só ganhámos 1-0 a estes marrecos da segunda liga”, mas, porra, isso não é sinónimo de termos feto um jogo de merda e de não termos criado oportunidades suficientes para um resultado diferente. Um 3-0, ou coisa que o valha, porque mais do que isso a rapaziada poveira a quem o Eusébio João deu o capilé para correr que o deixou com aquele olhar esquisito, também não merecia.

O que aconteceu, ontem, e que tem acontecido semana após semana na maioria das semanas que se contam desde que arrancou o campeonato 16-17, é que continuamos a ser os reis do desperdício; que continuamos a entregar toda a despesa de decidir a um miúdo (que golaço, Gelson!); que esse miúdo, pese ser um dos cinco melhores do mundo no 1×1, ainda finaliza mal e apressadamente a brutalidade de boas jogadas que cria; que continuamos sem ser os monstros do futebol interior que fomos na época anterior e isso nos torna uma equipa mais fácil de anular; que continuamos sem saber resolver o problema do parceiro certo para o Bas Dost, o que nos agrava essa incapacidade de jogar entre linhas e de evitar canalizar todas as bolas e mais algumas para as alas (não sei quantos desejos estão, aqui, mas se eu fosse o JJ canalizava todas as passas futebolísticas para pedir capacidade de resolvê-los).

gelson-varzim

E o mais curioso de tudo isto é que, quando Adrien se lesionou na segunda parte e Jorge Jesus resolveu transformar o 4-2-4 que deixavam William e Adrien completamente à deriva num raio de 40 metros, o Sporting pareceu perder intensidade e domínio, mas, bem vistas as coisas, foi nesse período que as jogadas se vieram a tornar mais envolventes. Elias entrou muito bem, Campbell foi vertical, Bryan trouxe outras soluções interiores, Gelson teve oportunidade de aparecer metido mais para dentro e seria assim, inclusivamente, que falharia o 2-0 no mais belo carrossel ofensivo de toda a partida. Quero isto dizer que eu acho que Castaignos não deve jogar? Bem pelo contrário. Acho-o um parceiro bem válido para Bas Dost (aposto que o trovão holandês anda cansado de não ter o mesmo parceiro dois jogos seguidos).

O que eu quero dizer, é que existem soluções para tornarmos o nosso futebol menos previsível. E que esta é a última oportunidade para dar o safanão que precisamos para agarrar com as duas patas tudo o que ainda podemos celebrar. Há jogadores esquecidos, há outros que são para esquecer (espero que o Petrovic não perceba um charuto de português, senão acaba o ano a chorar com o “o Palhinha vem para o William poder descansar“). E há uma massa adepta que apesar de só termos ganho 1-0 a estes marrecos da segunda liga que correram que nem desalmados e que não chegaram a fazer um remate enquadrado com a baliza, fez questão de se despedir de 2016 dizendo a todo o grupo Nós Acreditamos em Vocês (agora venha de lá um 2017 carregado de vitórias, para tornar esta massa adepta ainda mais unida)!