Há 11 anos, durante 4 meses tive de passar períodos de vários dias internado no hospital. Quem já passou pelo mesmo sabe que o turno dos enfermeiros roda por volta das 8 horas e que antes disso (lá para 6 e tal, 7) acordam os pacientes para medir a tensão arterial e para ver se alguém patinou durante a noite. Quando voltava para casa vinha com relógio biológico programado para acordar às 7 – 7.30 e fizesse o que fizesse não conseguia voltar a adormecer. Para não ficar às voltas na cama passei a levantar-me e a ir tomar o pequeno-almoço ao café do bairro. Pelo caminho comprava 3 jornais, Público, A Bola e Record/O Jogo. Geralmente chegavam para me ocupar o tempo entre o pequeno-almoço e a hora de ir para a faculdade. Confesso que mantenho este hábito. Muito de vocês dirão que não devia estar a alimentar publicações queu parecem dedicadas em destruir o Sporting Clube de Portugal. Discordo.
Ler um jornal em papel obriga-nos a passar os olhos por coisas que não nos interessam. A nova contratação do benfica, uma lesão no Porto ou uma entrevista a um perna-de-pau que foi jogar para a Tailândia. Invariavelmente é preciso navegar pelo meio deste lixo até chegar à secção que nos interessa, a do Sporting. Pelo meio e quer queiramos quer não absorvemos informação nova que não procuraríamos activamente. Hoje a grande maioria de nós recebe as notícias através do Facebook ou do Twitter. Seja porque subescrevemos as páginas de órgãos de comunicão social ou porque alguém as partilha. A probabilidade de clicarmos numa notícia do Sporting é bem maior do que a de clicarmos numa qualquer outra notícia (independentemente do assunto). Isto funciona como um filtro e reduz a probabilidade de sermos confrontados com factos que nos podem fazer mudar de opinião.
A leitura de blogs e contas de apoio ao Sporting acaba por ter um efeito semelhante. Visitamos mais vezes blogs com opiniões alinhadas com a nossa. Eu leio sobretudo 3 blogs do Sporting, A Tasca do Cherba (O Leão de Plástico diz que é instituição e eu tendo a concordar), O Artista do Dia e o Leão de Plástico. Os autores destes blogs, de uma forma geral, 1) têm uma opinião genericamente favorável do mandato de Bruno de Carvalho, 2) entendem que Jorge Jesus deve continuar e que 3) os mandatos de Godinho Lopes, José Eduardo Bettencourt e de Filipe Soares Franco foram nocivos para o Sporting. Para tentar ir lendo opiniões diferentes e opostas vou (com esforço) abrindo de vez em quando o “A Norte de Alvalade” e o “Camarote Leonino” para ler qualquer coisa diferente. Também abro, confesso, um outro blog do porto e benfica para ver como param as modas do outro lado da barricada. Com frequência fico enjoado e enojado com o que leio mas tento encarar isto na desportiva.
Não sou religioso e detesto missas. Quando vou a casamentos ou baptizados assim que começa a missa ponho-me logo a milhas. Tudo aquilo me soa a lavagem cerebral e por isso evito. Tento aplicar este princípio ao resto da minha vida e faço por ir variando as fontes de informação que leio. Não é fácil, não o faço tanto quanto devia, mas penso que isso me permite ter uma perspectiva relativamente abrangente do estado de coisas no futebol em Portugal e do Sporting em particular.
Na minha opinião aquilo que o “establishment” (jornais, benfiquistas, portistas etc) está a tentar fazer ao Sporting é ressuscitar os fantasmas criados pelas eleições de 2011 e 2013. Em Março de 2011 aconteceu a tragédia de Godinho Lopes ser eleito Presidente. Quando me fui deitar na noite da eleição Bruno de Carvalho era dado com favorito em vários jornais. Na altura não estava muito convencido de que fosse ele a melhor escolha, mas achava que seria melhor do que Godinho Lopes. Por isso fui dormir descansado. Quando acordei começou o pesadelo. Godinho presidente. Adeptos em fúria. Ligo a TV e vejo aquela aventesma a ser arrastada por 20 seguranças, rua abaixo, sob ameaça de uma multidão imensa e ao som de “E Oh Godinho, vai pó caralho”. Na internet corriam boatos de que teriam havido irregularidades e outras pantominices. Quando vejo o então presidente da AG a dizer que os resultados tinham sofrido uma “afinação” passei-me. Acho que passei o dia a fazer refresh em sites e blogs à espera que Bruno de Carvalho disesse o que iria fazer, coisa que aconteceria só à noite. O resto da história já nós sabemos. A acção interposta por ele não foi aceite e Godinho ficou. Seguiu-se o descalabro.
Fastforward e chegamos a 2013 com o clube (novamente) em estado de sítio e semi-destruido do ponto de vista desportivo e financeiro. À semelhança do que aconteceu em 2011, o nosso director desportivo Jesualdo Ferreira tinha sido convertido em treinador (antes tinha sido Couceiro) e viviam-se tempos de crise. Receava-se que o clube pudesse acabar. Lembro-me de ouvir um sócio dizer na TV “não deixem o Sporting acabar, porque ele faz parte de nós”. Felizmente houve aquela moção a solicitar uma AG extraordinária para destituir Godinho Lopes. Lembro-me bem da guerra de pareceres jurídicos que se seguiu entre o Sporting/Godinho Lopes e a oposição. “O meu parecer jurídico é maior que o teu” gritava-se dos dois lado da barricada. Por fim prevaleceu a vontade dos sócios e a AG foi marcada para o Estádio de Alvalade. Infelizmente Godinho Lopes demitiu-se e avançou-se para eleições. Novamente em Março. Confesso que teria gostado de ter a oportunidade de correr com Godinho do Sporting em pleno estádio. De preferência ao som de “E Oh Godinho vai pó caralho”. Mas o óptimo é inimigo do bom.
A oposição cRoquette em 2013 desta vez apresentava-se em versão light, vestida na pele de José Couceiro mas tinhamos Bruno de Carvalho novamente como opção (e apresentado outra vez como papão-Vale-e-Azevedo-que-vai-acabar-com-o-Sporting). Confesso que só fiquei convencido de que ele era a pessoa indicada durante esta campanha. Vi vários vídeos de discursos dele em Núcleos e fui ganhando confiança. Também ajudou o facto de ter conhecido brevemente Carlos Vieira (o nosso financial wizard) antes da eleição e de ter ficado com óptima impressão dele. Passei o dia das eleições num estado de alguma inquietação e a com a sensação de que seria um momento decisivo e definitivo para o clube. Finalmente, quase às três da manhã, Eduardo Barroso comunica os resultados e BdC vence e grita “O Sporting é nosso outra vez.” O fantasma do croquettismo e do godinhismo parecia definitivamente afastado. Seguem-se tempos difíceis para o nosso presidente que consegue, com muita dificuldade salvar o Sporting, depois estabilizá-lo e finalmente começar a melhorá-lo. Li, assim que foi publicado, “O Presidente sem Medo” que retracta os primeiros tempos de BdC no Sporting e fiquei com a sensação de que ele não disse nem 20% das coisas terríveis que encontrou no Sporting quando assumiu a presidência.
Chegamos a 2017 com um clube totalmente diferente, estabilizado financeiramente, com um dos melhores treinadores do mundo à frente da equipa, com um plantel de jogadores de qualidade e cheio jovens promessas. A época está abaixo das expectativas devido a más escolhas de jogadores (40%) e devido a uma campanha de ladroagem promovida pela colectividade de carnide (60%), que conseguiu povoar a arbitragem em Portugal de adeptos fanáticos do benfica e que se pelam todos para 1) beneficiar o benfica e 2) prejudicar o Sporting. Seja o Sporting A, B, juniores ou iniciados. Seja no hóquei, no andebol ou no futsal. E em face disto o que é que acontece na comunicação social vermelha e nos blogs anti-Sporting? Agita-se o pano da “crise no Sporting” e começa-se uma campanha contra o clube.
Em que é que esta campanha assenta? Em tentar tornar a crise de resultados de 2017 numa crise de clube igual às de 2011 e 2013. Vejamos as “semelhanças”. Tal como em 2011 e 2013 temos 1) maus resultados desportivos, 2) eleições em Março, 3) candidatos croquette (e benfiquistas) que tentam convencer os sócios de que Bruno de Carvalho é um vale e azevedo que vai acabar com o Sporting, 4) insinuações de que a crise financeira é tal que o clube pode acabar se os “sócios não escolherem bem”, 5) especiais “Crise no Sporting” em todos os canais, 6) Candidatos e putativas candidatos, críticos de Bruno de Carvalho sempre com tempo de antena a qualquer hora do dia ou da noite.
Compete-nos a nós, sportinguistas, não nos deixarmos levar por esta campanha. Sabemos perfeitamente que a situação actual não tem nada a ver com a de 2011 e 2013. Por isso vamos todos, de uma vez por todas, pegar nos fantasmas criados por Godinho Lopes, dar-lhes uma tareia, cuspir-lhes em cima e enfiá-los no contentor do lixo orgânico. Estes montes de merda semi-analfabetos do benfica andam excitadíssimos porque vêem em 2017 uma oportunidade de tirar ao Sporting o seu melhor presidente e o seu melhor treinador de uma assentada. Mas estão muitíssimos enganados…
LFV, Delgado, Seabra, Ventura, Aguilar, Rui Pedro Brás, Pedro Guerra, Hugo Gil e Benfica…you quit school, but you still got some learning to do….
Não ignoro que este cavalheiro, Rick Sanchez de seu nome, é muito parecido com Jorge Jesus. You know what I mean…
TEXTO ESCRITO POR Shark
*às quartas, a cozinha da Tasca abre-se a todos os que a frequentam. Para te candidatares a servir estes Leões, basta estares preparado para as palmas ou para as cuspidelas. E enviares um e-mail com o teu texto para [email protected]
26 Janeiro, 2017 at 11:59
O lixo orgânico onde depositaram o fantasma do Godinho terá sido reciclado e dali saíu o candidato PMR?