Há três coisas que são decisivas para ter sucesso no futebol: um bom treinador, um bom quadro de jogadores e uma direcção capaz de escolher e dar estabilidade a ambos. Vou deixar de fora factores externos como a arbitragem, a imprensa e as instâncias de poder regulador (FPF, Liga, Governo, etc), acima de tudo porque deveriam ser factores com os quais não nos deveríamos ter de preocupar e nada têm a ver com o jogo, com a competição e os fundamentos do espetáculo.

Na Trindade que apresentei, o Sporting tem feito alguns progressos, mas está longe da perfeição e a uns passos firmes de uma qualidade condizente com a nossa ambição. Explico porquê e deixarei o 2º e 3º pontos para vossa consulta noutros tachos passados que tenho servido ao longo dos últimos meses. Centro-me no 1º ponto, até porque, penso ter sido neste ponto que a época mais inclinou para o que vemos hoje, terem sido erros fundamentais de preparação. Os jogadores foram escolhidos por alguém e não acredito (especialmente esta época) que algum dos reforços, ou pelo menos a sua maioria, tenha sido escolhido por alguém que não ele. E ainda assim, se são bons, é modelo que não os favorece e isso também é da sua incumbência.

“O bom treinador”

Sim, Jorge Jesus é um excelente treinador. Vindo da raiz do jogo, subiu a pulso, educando-se como pôde, jogando mãos aos bons exemplos que conseguiu observar. Diz-se o próprio discípulo da escola Holandesa, com o foco na missão atacante, na movimentação coordenada da equipa em prejuízo do trabalho incisivo por sectores. Obsessivo homem de treino, burila o que os jogadores fazem dentro de campo até à exaustão (dos atletas, não dele) e é reconhecidamente um treinador com uma ideia muito “fechada” do que tecnicamente e taticamente impõe à equipa.

Infelizmente não é um “motivador” nato, confundindo muitas vezes confiança com desempenho e “alegria de jogar” com vencer. O bom desta faceta é que, normalmente obriga as equipas a chegar aos seus limites. O mau é que, não conseguindo um aproveitamento suficiente com a sua ambição pessoal, JJ tende a culpar os jogadores, isolando-os como problema e muitas vezes retirando-lhes confiança quando deveria ser o primeiro a tentar devolve-la. Este calcanhar de Aquiles tem sido disfarçado ao longo dos anos, mas não pode ser esquecido a quantidade de épocas (metade talvez) perdidas em “buracos negros” que não teve a capacidade de gerir.

A meu ver, e entendendo que nenhum treinador é perfeito, a solução para ele próprio e para o Sporting não passa por ignorar os problemas das épocas que “correm mal” e rezar para que a próxima seja “das tais”, mas sim atacando o problema de frente, quiça fazendo o que o seu clube anterior não quis ou não soube fazer.

Jorge Jesus tem de se concentrar naquilo que faz bem e delegar ou procurar apoio nas áreas onde não é “um bom treinador”. Só isso lhe trará mais eficiência nos resultados, só isso o tornará apto para chegar às tais equipas que podem vencer as Champions que (legitimamente) ambiciona. Isso não o diminuí, isso não lhe retirará poder, nem a holofotes. Bem pelo contrário. Partilhar é aprender, é valorizar outros e sairmos nós próprios valorizados. O “faz-tudo” no futebol tem os dias contados e toda a evolução do desporto-rei tornou-se demasiado complexa para ser “posto” para Rambos e MacGyvers todo-o-poderosos. Esse culto ao “homem só” está ultrapassado e JJ deveria querer pertencer aos treinadores que entendendo isso mesmo, criam equipas técnicas multidisciplinares, multitasking, com especial atenção à parametrização, informatização e…lá está…psicologia competitiva.

Na minha modesta opinião, o treinador leonino nem sequer tem aproveitado a sua posição no Sporting e uma direcção focadíssima em suplantar os seus rivais. Podia e devia ter interpretado o seu papel de “revolucionário” no modelo desportivo do clube, chamando gente (e há tantos) para criar no Sporting um verdadeiro modelo de exemplo, um espaço, não fechado e demasiado à parte como é hoje, mas sim aberto à ciência, à tecnologia, à psicologia desportiva e todos os demais eixos de estudo que inferem na metodologia de treino da equipa. JJ dispersou-se nas “guerras”, nas dicas aos jornais, nas polémica com outros dirigentes e treinadores. Errou. Se há coisa que JJ tem é uma direcção (principalmente um presidente e um director desportivo) que não deixa o papel de defender o clube e os seus interesses para mãos de terceiros e se é verdade que Octávio perdeu (por qualquer que seja o motivo) expressão e destaque nos media, a solução não deveria deixar o Director à margem, mas sim envolve-lo e dar-lhe a ele a missão que tinha a quando a sua contratação.

Ainda vai a tempo? Seguramente. Mas temo que as suas convicções sejam demasiado centradas nas suas capacidades e no seu próprio espaço de influência, continuando a preferir sempre o tempo e as vitórias como forma de concertar o que está mal, escapando-lhe todas as leis de Murphy, fugindo-lhe entre as mãos com que segura o poder a noção que o tempo nada resolve e as vitórias não são fruto de um rolar de dados num pano verde.

jotaaponta

*às quartas, o Leão de Plástico passa-se da marmita e vira do avesso a cozinha da Tasca