Nunca como nesta época os sportinguistas debateram tanto sobre o que nos falta como clube para sermos, de facto um emblema que não é só grande em história, quantidade e qualidade de adeptos, mas também grande pelos troféus que conquista numa época.

As razões pelo debate informal que mencionei são óbvias. O mandato de BdC vinha a obedecer a um progressivo e sólido crescimento desportivo. Se Marco Silva havia conquistado uma Taça de Portugal, Jesus “cheirou” o título e uma Supertaça, além de uma supremacia clara de qualidade de jogo sobre os rivais. A expectativa para a segunda época de JJ (e a primeira vez que neste mandato um treinador cumpria mais de um ano do seu contrato) era óbvia: conquistar o campeonato, mantendo ou até superando o equilíbrio para os principais candidatos ao mesmo troféu. Mais se reforçaram as esperanças, direi mesmo a convicção, quando é anunciada a intenção de reforçar o orçamento no custo global do plantel.

O mercado haveria de desferir dois golpes tardios num 11 que acabou a época a roçar a perfeição. Dois bons negócios retirariam o matador e um dos municiadores de jogo ao nosso conjunto verde e branco. E se é verdade que Bas Dost não nos deixa a carpir lágrimas de saudade por Slimani, a qualidade que João Mário dava ao tridente que fazia com William e Adrien deixou de existir. Sinceramente, ao olhar hoje para o que jogamos e ao relembrar o que fazíamos na temporada passada, fico de coração partido e nem sequer a certeza que não houve má fé ou desleixo nas contratações me apazigua a dor de corno que me fica na ressaca dos imensos e repetidos desaires que já engolimos esta temporada.

Tenho como certo que a poucos custará mais este tombo atrás do que ao Presidente Bruno de Carvalho e ao treinador Jorge Jesus. Também eles devem assistir incrédulos ao pesadelo que é ver os erros (a que já não estávamos habituados) de Rui Patrício, às hesitações e pânico de uma defesa outrora sólida e elogiada por todos, um meio-campo com 10% da criatividade e agilidade da versão anterior e um ataque que vive absolutamente dependente das (raras) bolas que chegam redondas a Dost.

O futebol do Sporting viveu (espero que o tempo do verbo esteja correcto) num verdadeiro downhill, com todos os atletas a perder confiança, testículos e sobretudo a arte do que fazem como equipa. Adrien continua ser um enorme lutador, Coates mantém-se como o “tal patrão” que tanto procurámos, Patrício não perdeu nenhuma das gigantes qualidades com que defende a nossa baliza, mas embora estes tenham perdido produtividade, o pior foram mesmo os outros.

Schelotto acumulou lesões com uma dificuldade enorme em fechar o seu flanco. Marvin e Jefferson continuam a desempenhar brilhantemente o papel de garotinhas em filmes de terror, Semedo esqueceu-se das promessas que nos deu em campo e voltou aos erros comprometedores, William perdeu algures um dos motores com que “cortava” geometricamente a relva aos adversários, Bruno Cesar serve mais de rolha esquerda do que outra coisa (e podem ser tantas) e Bryan Ruiz parece ter sofrido uma lobotomia durante o Verão, sendo praticamente absurda a sua ineficiência em campo.

É claro que há a magnifica confirmação de Gelson (que talento épico temos ali), o ressuscitar das cinzas de Paulo Oliveira (oi! Jota Jota…! o rapaz vai ter que fazer quantos pinos..?), o acerto na chegada de Beto e a intrépida arte de fazer o inesperado de Campbell, mas estas notas boas são apenas gotas num copo cheio de equívocos, que agora são fáceis de apontar, mas que não eram previsíveis. Acima de tudo o que saltou e ainda salta à vista é a perda contínua de confiança, motivação e acerto que assolou o plantel desde esse marco (tão elogiado como trágico) que foi a deslocação a Madrid.

Sem colocar paninhos onde não devem ser postos. Não houve estrutura para contrapor ou tapar alguns “buracos” abertos na confiança dos jogadores e seja por falta de empatia, cumplicidade ou solidariedade dos responsáveis, o que foi evidente foi que as soluções que foram adoptadas, falharam e agravaram os sintomas e os problemas. Interrogo-me se os que deveriam enfiar esta carapuça alguma vez o assumirão e isso deixa-me descrente quanto à não repetição de fenómenos semelhantes noutras épocas.

Muitos de vocês partilham comigo que existiram outras lições importantes a aprender esta época, mas não tenho tantas certezas se me acompanharão na absoluta certeza de que o pecado esteve sobretudo no parágrafo acima e não no que seguirá a este.

Não convém esquecer a saga das más decisões de arbitragem e as curvas perfeitas do zero que se revelaram as apostas em Douglas, Petrovic, Meli, Elias, Castaignos, André, Spalvis e sobretudo Markovic. E façamos aqui uma pausa insuspeita. Talvez nenhum deles seja mau jogador, talvez sejam bem melhores do que mostraram e talvez mesmo noutras circunstâncias tivessem acrescentado coisas muito mais positivas. Este pensamento ou dúvida são legítimos e isso leva-me a uma nova série de perguntas que se somam a todas as outras que persistem neste post e na minha cabeça. A culpa foi, mais uma vez, só dos jogadores?

jjpalhinha

Um dia escrevi isto num outro, remoto e até aqui, esquecido post. Na altura falava de Jorge Jesus como adversário e no meio de outras considerações, há uma que talvez não tenha ganho assim tanto pó e teias de aranha:

“…vejo uma qualidade de pensar os jogadores e o que fazem em campo acima da média, mas há…uma profunda incapacidade de entender os jogadores quando estes não são ou não fazem o que idealizou que fariam. É como se em pleno relvado passassem de válidos a inválidos e sem qualquer tipo de remédio ou reconversão…ele que tanto se arroga de “descobrir” e esculpir grandes craques é por vezes o treinador mais desastrado em aproveitar o que o jogador tem para dar ou do que é capaz de vir a dar com o apoio e a paciência adequadas. O pior que Vieira pode fazer (e parece que ainda não entendeu) é dar a Jesus um jogador à procura de uma confiança perdida ou um atleta que não encaixe à partida no dogma indiscutível do seu sistema de jogo. É simplesmente dinheiro jogado ao lixo…algo que entendo não incomodar, olhando para os rios de euros já despendidos na mestria do “fazedor” de estrelas…”.

Não pensem que faço de Jesus (o nome presta-se) o espiador de todos os pecados do futebol do Sporting. Não é. Há mais e alguns até maiores responsáveis, mas será inegável que todos, até ele, devem aprender com os erros e fazer exactamente o que pede de certeza aos seus jogadores: mais trabalho, mais foco, mais empenho, mais “moral”, mais persistência e que naquele momento…aquele momento onde o céu parece desabar em cima da tromba, nesse momento, não cuspir responsabilidades para baixo, não sacudir os erros e incapacidades para quem está ao lado, mas sim olhar para um conjunto de homens e ver tudo o que pode extrair de bom para melhorar, sabendo que (muitas vezes) apenas se disfarça o borrão, não conseguindo pintar Picassos.

É que se todos os treinadores tivessem Ronaldos, Messis, Ibrahimovics e afins…todos seriam supra sumos. Os meus treinadores favoritos são os que fazem muito com pouco e não os que se limitam a escolher com o dedo os melhores jogadores, seja qual for o preço que isso custar ao clube. E nem todos sabem escolher os tais que parecendo pouco, poderão fazer muito mais. Não se pode ter todos os talentos e por isso mesmo é que existem coisas chamadas “departamentos”, que ao contrário do que JJ muitas vezes deve pensar, não é um conjunto de pessoas que o podem desafiar, mas sim ajudar e em que pode e devia aprender a confiar.

*às quartas, o Leão de Plástico passa-se da marmita e vira do avesso a cozinha da Tasca