1numero10Não é nova a ideia de que o futebol moderno está a destruir o conceito de 10 puro que todos nós endeusámos desde que nos tornámos adeptos do melhor desporto do mundo. E, no nosso caso, adeptos do melhor clube do mundo.

Em todos os campeonatos a solução é simples: se jogaste a 10 toda a tua formação, bem-vindo ao mundo do segundo avançado ou do ala interior. Não há tempo, nem táctica, nem modelo que resista a um buraco no centro do terreno, com pouca utilidade defensiva e com muito pouco espaço para pensar o jogo. Os adversários aprenderam a anulá-los, as equipas a encontrar outras formas de criatividade e o futebol avança tão ferozmente que são agora uma espécie em vias de extinção (e agora até se adaptam extremos a box-to-box, uma aberração que faço questão de ignorar).

Os mágicos, com total liberdade para criar estão a morrer. E no Sporting isso não é exceção. O nosso modelo é assente em dois avançados puros, dois centro-campistas todo o terreno e cheios de músculo, uma defesa subida e dois “extremos” que não o são, porque usam e abusam do jogo interior. É certo que o ano passado se tornava delicioso de assistir à nossa capacidade de inventar em toda a zona do terreno, com João Mário e Bryan Ruiz a serem um número 10, mas encostado a uma linha. E este ano Gelson copia o modelo ao navegar que nem um vagabundo por toda a frente de ataque, mas a quem o ADN diz que ele é bom é a fintá-los todos ao pé da bandeirola de canto. Quando aprender a usar o restante espaço, será imparável.

O fenómeno camisola 10 é então substituído pela capacidade de baralhar marcações, pela utilização do espaço, por um segundo avançado que cai na ala, desce para construir e se junta ao meio-campo e por dois extremos que pararam de ser uma cópia dos bonecos digitais do jogo Itália 90. Até aqui perfeito e mais que provado que dá espectáculo. Mas… e os jogadores que assim nasceram?

Se nem Leo Messi resiste ao mundo do futebol, quem serão Ryan Gauld, Rafael Barbosa, André Martins ou Chaby para o conseguir? Jogadores que jogavam ali, naquele terreno de ninguém e essencialmente de bola no pé. Que magicavam soltos e sem as amarras defensivas e tácticas de um 8?

São jogadores sem espaço no modelo do Sporting? São casos perdidos naquela que é a nossa forma de entrar em campo? Provavelmente sim. Enquanto o Sporting for isto, atletas como eles não terão qualquer chance de entrar e muito provavelmente a solução passará por descer alguns degraus na carreira para assumirem a sua criatividade. Porque um jogador como João Mário ou Bernardo Silva (que entretanto também já descaiu numa ala) têm a inteligência e a capacidade de compreender o que lhes é pedido numa posição que estão a aprender. O talento que possuem supera qualquer adversidade táctica e vingam em qualquer modelo. Mas quando o que nos distingue apenas é a nossa capacidade de bola no pé, sem conseguirmos dar o salto da visão de jogo, as dificuldades serão, à partida, insuperáveis.

Tudo isto para dizer: bem-vindo à ala Francisco Geraldes. Aprende o nome do Alan e do Bas Dost, porque provavelmente vais distinguir-te a servi-los como só tu sabes. Que tu e o Gelson se divirtam e um dia consigas fazer isto:
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*às quintas, a Maria Ribeiro mostra que há petiscos que ficam mais apurados quando preparados por uma Leoa