Sim, o título desta crónica encaixa no jogo de ontem, onde o Sporting entrou mal, mas encaixa, também, nesta época repleta de equívocos que, quanto mais do fim se aproxima mais nos mostra uma equipa a jogar como deveria ter jogado nos meses em que tudo deitou a perder.

Num Estádio complicado, com um árbitro complicado e face a um adversário que tem sido uma espécie de besta negra dos grandes, o Sporting arrancou três pontos inquestionáveis e construiu com paciência a sua oitava vitória nos últimos nove jogos, nos quais apresenta um bonito registo de 15 golos marcados e apenas dois sofridos. Mas o início não deixava antever uma vitória tão robusta, até porque nos primeiros seis ou sete minutos o Sporting não encontrava forma de passar do meio-campo e, diga-se em abono da verdade, ao longo de toda a primeira parte o futebol praticado deixou muito a desejar. Com Adrien à procura de ritmo e William a aumentá-lo à medida que os minutos passavam, não foi fácil aos Leões segurarem a partida. Bas Dost (que jogador) bem descia para ajudar na distribuição, Bruno César bem tentava inventar bolas de golo (mais um grande jogo), Gelson bem tentava levar a partida para ritmos frenéticos aos quais os defesas adversários não conseguissem responder, mas com a máquina a meio gás seria de um erro enorme da defesa sadina que surgiria o 0-1: redes e central a olharem para a bola e Gelson, mais rápido que a própria sombra, a metê-la lá dentro e a mostrar que gosta de marcar ao Setúbal (já lá vão três à equipa do sado).

Logo a seguir o jogo poderia ter ficado quase decidido: Gelson disparou em velocidade pela direita e foi travado em falta. Penalti que o árbitro transformou em livre directo, dando sequência a 20 minutos de apito miseráveis onde cada espirro de um jogador verde e branco era motivo para cartão amarelo (Marvin voltou a ver um cartão à primeira falta que fez; nos entretantos, um tal de Mikel ia-se rindo à medida que distribuída porrada por tudo o que mexia). E foi neste clima de paulada e resposta que se avançou para o intervalo, com um calafrio junto à baliza de Patrício (na sequência de um canto a bola percorre toda a boca da baliza) e com Alan Ruiz a falha o segundo golo após recuperação de bola de Gelson (vejam a simulação que parte Mikel ao meio antes do passe para o argentino. Uma delícia).

O intervalo foi bom conselheiro e o segundo tempo foi totalmente dominado pelo Sporting, que só tirou o pé do acelerador quando quis e que podia ter construído uma goleada maior se, por exemplo, Dost tivesse colocado a mira 30 cms mais abaixo depois de uma grande recuperação de Adrien e do belíssimo cruzamento de Bruno César (51′). Depois foi Schelotto a estar próximo de ampliar a vantagem, com a bola a ser defendida por instinto. Na sequência do canto, Bruno César mete com conta peso e medida para a entrada de William Carvalho que, de cabeça, colocou maior justiça no marcador. O Sporting estava empolgado e a nota artística deu um ar de sua graça: recuperação de Schelotto e enorme trivelada de Alan Ruiz para Dost encostar no poste contrário. Um golaço celebrado a preceito e o jogo metido no bolso, dando, já nos descontos, margem a que o Setúbal colocasse Rui Patrício à prova (grande estirada ao remate cruzado).

A cinco jornadas do final do campeonato, o Sporting parece ter estabilizado o seu futebol e vai acumulando vitórias convincentes. Dificilmente já irá a tempo de recuperar qualquer posição na tabela, mas terminar em crescendo deverá servir de mote para atacar a próxima época com o discernimento e as certezas que nos faltaram este ano. E será um erro não aproveitar esse “prémio de consolação”.