Olhando para as capas de qualquer jornal desportivo de hoje, somos levados a crer que estarão para breve novidades quanto ao futebol do Sporting. Uns dizem que JJ vai querer sair, outros afirmam que é BdC que quer pôr um ponto final à carreira leonina do actual “mister”, outros fazem uma aposta tripla (que é uma espécie de tiro-ao-pato total) narrando que um está amuado e que o outro vai amuar depois. Ora digam lá se isto não é uma cereja no topo do bolo para os lampiões. Um prémio antecipado para qualquer anti-sportinguista, um prémio para quem andou a antever este break-up desde que JJ assinou pelo Sporting?

Digamos que os ingredientes estavam todos na bancada, e bastou aos nossos amigos pasteleiros-jornaleiros meter a mão na massa. A época foi desastrosa, a culpa de JJ é óbvia (mas não única), o jogo com o Belenenses acabou com um profundo e sonoro desagrado dos adeptos no estádio e para finalizar em beleza, BdC veio dar nota institucional de total concordância com os assobios e revolta dos adeptos. Assim que surgiram as primeiras notícias das declarações do Presidente, imaginem imediatamente os fornos a serem pré-aquecidos e a imaginação fértil dos escribas a encher as formas com mais um capítulo da sempre açucarada novela “Jesus a caminho do Porto”.

Esta novela é como aqueles donuts duvidosos à beira da caixa dos supermercados. Ninguém aprecia especialmente, ninguém faz nenhuma festa por comprá-los, mas o que é certo é que eles saem todos da banca, seja noite ou dia, verão ou inverno. Porquê? Se pensarmos um pouco no assunto e tentarmos justificar a coisa, pode ser que no final existam algumas respostas curiosas.

A pergunta que se impõe é claramente esta: “Porque é tão interessante a saída de Jorge Jesus seja para onde for, mas especialmente para o Porto?”

A resposta é complexa e variada, mas resumo a explicação (a minha pelo menos a estas considerações):
1/ Jorge Jesus tornou-se numa figura um plano acima dos demais figurões desportivos em Portugal. Até certo ponto isso contribuiu para que fosse posto a andar do Benfica, onde claramente havia muitos “carolas” fartos de um foco sugador de crédito pelo sucesso, sobre o treinador. É o treinador mais premiado na nossa Liga e alguém a quem é inegável reconhecer mérito nessas conquistas.

2/ O fantasma dos “roubos” de Pinto da Costa assola o clube encarnado como uma psicose coletiva. Só isso fez com que Carrillo custasse os olhos da cara a Vieira, só isso fez com que Rafa custasse os olhos da cara e mais algum orifício disponível ao mesmo presidente. Jesus sair do Benfica para o Porto era uma espécie de “pesadelo que se podia concretizar” e no meio de tanta ânsia de evitar que fosse para o Norte, acabou por sair, debaixo das barbas para o “vizinho” de Lisboa.

3/ No recheio destes impasses, destas fantasmagóricas “traições” de JJ, venderam-se milhões de jornais, consumiram-se milhares de horas de tv, clicaram-se em milhões de hiperlinks. A imprensa descobria ano após ano, uma receita de sucesso garantido e fosse qual fosse a estratégia ou a vontade das partes, vislumbravam-se sinais da “profecia” em qualquer declaração do treinador, em qualquer movimento dos dirigentes.

4/ A tentação de ver cumprida uma espécie de “nós avisámos” benfiquista sobre o Sporting é tão grande, que os media, sabendo da “procura” por esse conteúdo já levaram a cabo, em dois anos, inúmeras encenações desta pequena “tragédia”. Duram pouco, são desmentidas, mas enquanto duram…

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A verdade é que JJ nunca foi para o Porto e no ano em que isso parecia mais viável, acabou no Sporting. A verdade é que mesmo com 2 épocas de Rui Vitória (com 2 títulos conquistados) os adeptos do Benfica perdem muito mais tempo a dar nota do desdém com JJ do que com a simpatia que o ultra-porreiro Vitória lhes devia merecer. A verdade é que JJ já manifestou a vontade de um dia treinar o Porto, mas ninguém sabe muito bem medir como casaria o actual clube nortenho com a personalidade autocrática do treinador lisboeta. A verdade é que ninguém sabe em que ponto está a relação de JJ com Jorge Mendes e o que pensam as várias “quintas” de poder no Dragão sobre a hipotética chegada de JJ. Aparentemente ninguém sabe e ninguém quer saber.

Sinceramente, a partir do momento em que sair do Sporting e dependendo do que ganhará no nosso clube, posso ficar mais feliz ou mais triste pela saída do nosso treinador. Mas podem ter a certeza de uma coisa: se for para o Porto, para o Mónaco ou para o Dubai, merecerá da minha parte as mesmas lágrimas que verti por Leonardo Jardim ou Marco Silva, ou seja, nenhumas. Há já muitos anos que não tenho medo de fantasmas e as vacas dos meus vizinhos não me costumam provocar invejas ao ponto de não cuidar das minhas. Se algum dia JJ estiver no Porto, isso é sinal que no Sporting há outro treinador e partir desse momento não há que confundir os tempos: um é passado, o outro é presente e desejavelmente futuro.

Acertem ou não os ponteiros, existam ou não horas por acertar, o que se passar entre BdC e JJ nos próximos dias ou anos é coisa que não me tira o sono. E se querem mesmo que vos diga, não acho que o tema tenha tanta preponderância nos adeptos sportinguistas como foi visível que teve no Benfica. Devemos deixar decidir quem decide e esperar que tenha acerto na decisão. Não há insubstituíveis, nem incontornáveis, há apenas profissionais. Um ser melhor que os outros é meramente circunstancial, mutável como tudo na vida.

*às quartas, o Leão de Plástico passa-se da marmita e vira do avesso a cozinha da Tasca