E agora? Esta é a única pergunta. Depois de ver mais uma emissão dessa saga, já consagrada, “Polvo na Grelha” no Porto Canal ontem há noite, fiquei a repetir-me a questão. E agora? Os mais realistas verão todas as movimentações típicas da máquina “de não fazer nada” arrastar o esclarecimento desta denúncia de tráfico de influências para nenhures. Tal como no Apito Dourado, será previsível que os “advogados” do situacionismo se esmerem em fazer destas provas, apenas casualidades, meras conversas entre agentes desportivos sem compromisso cabal com a factualidade.

A PJ saberá/conseguirá/quererá levar estas pontas soltas até ao fim que elas revelam? E obtendo essa confirmação óbvia (é que um décimo do que foi revelado, noutros países já deram descidas de divisão a grandes emblemas) saberá/conseguirá/quererá o Ministério Público levar a um tribunal, sem que existam os erros processuais do costume e aplicar a justiça cega ao clube do regime? Será que os Portugueses têm o direito de viver num país onde os criminosos que acumulem esse estatuto com o de poderosos e influentes, vejam a punição inscrita na Constituição e nas suas leis?

É que, sejamos claros, a pena por actos de tráfico de influência não é só um crime desportivo que acarreta a perda de pontos, descida de divisão e consequente retirar dos ganhos obtidos. É também um crime civil. Dá pena de prisão, efectiva. E agora? Não há qualquer dúvida, para quem lê aquela correspondência de que o Benfica arquitectou no tempo uma vasta operação de colocação de pessoas em lugares chave no futebol português. Controla alguns “agentes” próximos (demasiado próximos) dos árbitros. Controla as pessoas que realizam a observação e classificação dos árbitros e…detém um poder absoluto sobre as linhas de decisão dentro de todos os Conselhos e Direcção da Liga e FPF.

É até evidente os árbitros reconhecem os expedientes do Benfica e silenciam-se. Alguns devem ao clube da Luz a sua surpreendente ascensão na carreira e como tal, são voluntariamente “árbitros de confiança” para os encarnados e arrisco dizer ainda mais corrompidos que um árbitro corrupto. Os restantes tentam passar pelos pingos da chuva, validando a tremenda rendição ao tráfico da sua actividade, por favores, por dinheiro, por agrado a Luis Filipe Viera. E agora?

Como vão ser reunidas condições para que os conhecidos “árbitros de aviário” continuem a apitar jogos em Portugal? Como iremos escapar à vergonha e humilhação de ter pessoas claramente dentro de um esquema de favorecimento a decidir partidas de futebol? Como vamos conseguir acreditar no julgamento de árbitros que pactuaram com estes crimes, seja ativamente, seja passivamente? Em que buraco de cobardia absoluta se esconde a APAF por estes dias? Será que anda entretida a colocar processos a quem divulgou tudo isto? Será que não devem pedir a demissão, em bloco, já?!

Pessoalmente espero nos próximos dias aquilo que vi ontem com os meus próprios olhos. Logo depois de ouvir as últimas revelações no Porto Canal, fui parar à TVI24 e parei para escutar as avaliações do que tinha dito. Sinceramente fiquei nauseado e com vontade de me dirigir à estação em causa cuspir-lhe em cima e fazer-lhes uma única pergunta: “Não têm um pingo de honestidade dentro de vocês?”. Um painel recheado com confessos adeptos do Benfica (que conveniente…) classificou como…respirem bem…”irrelevantes”, “nada de novo”, “questiúnculas”, “tricas entre clubes”, “manobras de evasão do Porto”, “contra-informação”, enfim, não só não têm qualquer vontade de analisar a gravidade do momento, como se oferecem para enganar os espectadores, ignorando todo e qualquer princípio de decência humana.

Não nos deixemos levar por estes avençados de aviário. O que foi revelado até agora configura-se, tal como o que foi revelado nas escutas do Apito Dourado, em verdadeira e absoluta distorção da verdade desportiva. O Benfica gere os árbitros como bem quer e nem sequer precisa de os ter todos na mão. Os poucos que sobram, limitar-se-ão a “dançar” conforme a música que ouvem, sentindo e reconhecendo que só se manterão “vivos” neste regime se ajudarem a dar “colinho” ao Benfica e aos seus interesses. Mas, como ficam os adversários do Benfica? Como ficam os adversários dos clubes “protegidos” pelo Benfica? E agora?

Vamos exigir o quê a BdC? Que ganhe títulos? Que escapemos impunes a este plantão de “padres” e acólitos, derrotando quem tem o apito e a lei completamente na mão? Seremos realistas em achar que há mais candidatos a títulos, quando quem decide as partidas tem de obrigatoriamente favorecer o Benfica? Como? Como vamos fazer esse passo de mágica e acreditar no que estamos a ver a partir das bancadas? Como vamos confiar num árbitro que se calou perante esta merda toda, durante anos? Não. Não e não! Isto para mim chegou ao fim! Não tenho nada escrito na testa. Muito menos otário.

A Liga não tem qualquer legitimidade para organizar a próxima competição. A FPF idem. A APAF vale muito menos que zero nesta altura. O Conselho de Arbitragem é apenas um nome, nada mais. Se formos honestos e dignos de nos chamarmos cidadãos, adultos e conscientes, sabemos perfeitamente que nada mais interessa nesta altura que colocar tudo, mas mesmo tudo em causa. Tudo e principalmente todos. É que não há futebol e muito menos espetáculo sem a concepção de verdade. Não há paixão por algo que se desconfia distorcido e desequilibrado. Não há sequer respeito por algo que nos engana, ano após ano, sem qualquer tipo de arrependimento.

Tudo está nas mãos dos nossos governantes, dos nossos políticos, partidos, polícias, ministérios. A eles cabe agora a palavra e o dever de agir. De procurar corrigir a impunidade e minorizar os estragos provocados. Investigando, julgando e condenando quem que tenha de ser condenado. Porque desta vez meus caros, ninguém aguentará engolir e esquecer. Ninguém conseguirá fechar os olhos e fingir que nada se passou. Depois de um Apito Dourado, o futebol português está numa encruzilhada simples: ou escolhe a via da justiça e verdade pela primeira vez, implodindo parte do edifício. Ou escolhe a via do costume, implodindo o todo. Acabando de vez.

Imaginemos todos, daqui a 3 meses o Sporting ou o Porto a perder um jogo com algumas culpas nesse resultado a poderem ser assacadas a qualquer que seja o árbitro? Estão a ver? Estão mesmo a imaginar…então digam-me: é isto que vai ser o nosso futebol? Quantos mais morrerão? Quantos mais “cães de fila” vão andar a ameaçar todos os que suspirarem um desagrado sequer? Quantos mais benfiquistas vão ser postos a marchar ao longo da muralha, dispostos a piorar e a estragar, para proteger a imagem e a reputação desse bandido, que pelos vistos mete Pinto da Costa no bolso, chamado Luis Filipe Vieira.

Quem conseguirá travar uma escalada épica de violência, corrupção e degradação total se nada se fizer? Quem terá a lata de pedir ao Porto ou ao Sporting mais do que têm feito? Haverá sim quem exija (isto já acontece na verdade) que os seus clubes façam o mesmo ou pior do que o clube encarnado. Quanto tempo aguentará, por exemplo BdC ou qualquer outro presidente em posição semelhante, sem que ceda a que também nós saltemos para estes mafiosos esquemas? E quem lhes conseguirá apontar o dedo, quando tudo à volta é semelhante ou pior? Que autoridade sobrará às autoridades? Que governo terá o Governo?

Não. Não e não! Quem é o verdadeiro Primeiro-Ministro deste país?! Quem manda?! Não quero meias respostas, meias verdades, sorrisos e pedidos de calma e serenidade. O momento é de revolta. Chega! Como adepto, exijo medidas. Exijo acção. Exijo punição. Exijo Verdade. Sem isso recuso-me a der adepto e a continuar a bater palmas enquanto me esfregam merda pelos olhos a dentro, enquanto se riem da minha patética fé do desporto e no que promove, enquanto cospem na minha cidadania, colocando-se bandidos e corruptos no altar a dar apertos de mão e a gozarem com a minha sujeição às leis do meu país.

Recuso-me!

*às quartas, o Leão de Plástico passa-se da marmita e vira do avesso a cozinha da Tasca