A pergunta “o Sporting está mais forte este ano?” paira pelas múltiplas análises pós-fecho do mercado e muitos já teceram a sua opinião. Fica aqui a minha. Antes de mais, é preciso dizer que é interessante passar este tipo de julgamentos, fazem sentido, mas são puramente teóricos e especulativos. Na minha opinião, nas últimas duas épocas (pelo menos) não ganhou a equipa que tinha o melhor plantel, tendo o Benfica mostrado outros argumentos, muitos deles envoltos em bastante polémica.

Portanto, estar ou não com um plantel mais forte, não quer dizer imediatamente que vamos ser campeões. Mas estaremos mais ou menos próximos?

Porto e Sporting acumularam erros (próprios e de terceiros) entre os quais se destacam o trabalho de scouting e instabilidade no plantel, com muitas (demasiadas) mudanças no quadro de atletas. Ambos procuram a fórmula que lhes permita subir patamares e superar o actual campeão e é preciso que se destaque que parecem ter aprendido algumas lições. Serão ambos os crescimentos suficientes? Os padres não vão rezar as missas do costume e excomungar as vantagens adquiridas? Veremos.

Centrando o julgamento no Sporting, o trabalho no mercado era grande e as verbas disponíveis limitadas. A incerteza de um acesso à Champions e um lote de jogadores mais que candidato a boas transferências condicionou toda a política de construção do plantel. Ainda assim, a equipa parece mais dotada de argumentos na hora de enfrentar a tão necessária rotatividade ao longo da época. Saíram muitos jogadores, entraram outros tantos:

Schelotto > Piccini (melhor defensor, vai precisar de tempo e das “aulas” de JJ para melhorar a função atacante. Ganhámos mais critério e técnica. O italiano parece ter ainda margem de progressão, e pode subir muitos patamares, especialmente se perder uma certa timidez na hora de subir e jogar com o ala).

Esgaio > Ristovsky (O macedónio é um sério candidato a colocar o seu rival (pela posição) italiano a dar o seu melhor. Embora ainda não testado, basta ver um resumo de qualquer partida onde tenha intervido para entender que está ali um defesa direito bastante aguerrido e que gosta de fazer constar o seu nome nos highlights das partidas, se vai conseguir fazê-lo no Sporting como fez na sua seleção ou no actual campeão croata Rijeka, aí residem as dúvidas e JJ parece tê-las, para já).

Zeegelar > Coentrão (A experiência num patamar competitivo muito superior traz muitas coisas à equipa quer em termos defensivos quer em termos atacantes. Assim as lesões lhe permitam e pode estar aqui um dos principais argumentos de melhoria deste ano. Coentrão já não é aquele lateral impetuoso e papa milhas que fazia quase de 2º ala e dava um pendor ofensivo ao seu corredor assinalável. Hoje é um atleta um pouco menos frenético, mais ponderado e sobretudo menos confiante nas disputas de bola. Os fantasmas das muitas lesões que sofreu “roubaram” muita alegria no jogo e até que venha a confiar mais no seu corpo, podemos ter de encarar com muita paciência futuros apagamentos de forma).

Jefferson > Jonathan Silva (A verdade é que seja o que o argentino render este ano, será difícil que não venha a ser melhor que as últimas épocas do brasileiro. Jonathan fez bastantes jogos no seu país natal e esperemos que isso tenha servido para retirar muita da impetuosidade inútil que empregava em algumas intervenções e alguma fragilidade táctica – coisa que cabe a JJ trabalhar. Enquanto Jefferson recupera o “velho” lateral que prometia ser ano após ano um dos melhores na nossa Liga, cabe ao argentino mostrar que consegue crescer e ganhar mais do que apenas muita garra e predisposição para correr a todas as bolas…é bom mas há muito mais).

P.Oliveira > A.Pinto ( A lesão no início da época não veio num bom momento e retirou ao ex-bracarense quase toda a fase de preparação (e sabemos como isso é um must com JJ). Ainda assim e olhando para os tempos em que capitaneava a equipa minhota, podemos ficar  descansados com a rectaguarda aos centrais titulares, não sei é se estaremos tão seguros como estaríamos com P.Oliveira nesse papel).

R.Semedo > Mathieu (Uma das melhores aquisições desta época. Parecem desfeitas as dúvidas quanto à sua condição física e o francês até dá nota em campo de querer mostrar que tem motor para aos 80m fazer sprints até ao meio do meio-campo. Dá ao onze o que o seu antecessor português só a espaços conseguia: rapidez, concentração e eficiência. A parceria com Coates, beneficia ambos, faltará só aproveitar melhor a sua veia “goleadora” nas bolas paradas – que a tem).

Adrien > Battaglia (Não é um jogador à imagem do ex-capitão. Embora box-to-box de enorme potencial, não tem ainda a capacidade de ligar defesa e ataque do português. Tem mais presença física (algo que JJ aprecia naquelas funções) e muito mais capacidade atlética…veremos como evolui na vertente técnica e táctica, um departamento onde dificilmente poderia ter melhor ajuda sendo JJ um “catedrático” nessas cadeiras. Espera-se de facto muita evolução e não será nem fácil nem rápido, mas para já, isso não parece incomodar ou amedrontar o atleta que certamente terá tido até agora tratamento exclusivo – e intensivo – por parte da equipa técnica).

B.Ruiz > B.Fernandes (Na verdade o português não vem substituir o costa-riquenho na equipa, mas sim Adrien para o caso de William também sair e obrigar Battaglia a recuar para a posição 6. E se não foi este o plano…foi pelo menos o que pareceu. O problema (e dos bons) é que ficando WC e Battaglia assumindo a função de médio de ligação, B.Fernandes solta-se para papéis mais ofensivos…e não tenho palavras para descrever o bem que se ajustou nessa qualidade, fazendo parecer A.Ruiz um suplente pouco credível. Verei a custo que se retire este jogador do lugar de pivot do nosso ataque, pois que o tem desempenhado na perfeição, tanto a conduzir o jogo, como a assistir para golos ou marcá-los ele próprio…e é aqui que penso que substitui…Bryan Ruiz. Sem dúvida alguma a melhor aquisição e, para já, faz parecer o valor da compra, uma pechincha).

Campbell/Markovic > Acuña ( Assim à primeira vista não é fácil reconhecer o argentino como um “virtuoso”, um ala driblador e fantasista – como é Gelson por exemplo. Mas isso é só à primeira vista, a partir da segunda em diante conseguimos entender o quão bem trata a bola “El Huevo” e não sendo de facto um “artista”, é capaz de se soltar do opositor com bola controlada e melhor do que isso, é capaz de perder a bola no drible e recuperá-la de seguida. É até, de certa forma, a antítese de um ala. Não espera por bola e muitas vezes prefere vir buscá-la ao lateral, fazendo questão de ao longo das partidas ajudar imenso o seu colega de corredor. Além do mais dá algo mais do que já tínhamos em termos de bolas paradas, tendo ainda de trabalhar os cantos…que não estão a encontrar as nossas torres de serviço. Quando se fala em reforços é difícil não reparar que este, justifica completamente esse título).

Castaignos > Dumbia (Não é o típico ponta de lança. É demasiado rápido e baixo para ser um clone de Dost e o jogo de cruzamentos para a área não será o estilo de jogo mais aconselhável para fazer brilhar este avançado. Mas lá que o plantel ganha diversidade…isso é indesmentível. O que também não dá para enganos é que será mesmo aposta para entrar muitas vezes no onze titular e saltar do banco, o que já é uma vantagem muito considerável face ao seu antecessor holandês. Para já entrou com confiança e nota-se que quer confirmar muita coisa durante as partidas, o que só o pode favorecer, mesmo que o esquema de um avançado fixo com um médio atrás o atire para fora das opções iniciais. Num esquema com dois avançados, sendo muito mais móvel que Dost pode oferecer bastantes desequilíbrios…coisa que até agora ainda não resultou bem, mas pode e deve ser aposta de JJ frente a adversários com as linhas mais recuadas).

Como é óbvio existiram mais alterações no plantel para esta época. Matheus Oliveira, Salin, Gelson Dala, Iuri, Petrovic, Palhinha entraram ou regressaram e no sentido inverso, Francisco Geraldes, Spalvis, Beto e Matheus Pereira saíram da equipa. Nem nós, nem JJ saberá dizer o peso que estes atletas terão ao longo da época, mas é expectável que venham a ter algumas oportunidades. Só para que tenhamos um exemplo concreto: Acuna jogou já nesta madrugada pela selecção das pampas, 90 minutos de enorme desgaste (para quem viu o jogo, saberá do que me refiro) e a próxima partida do Sporting é já na Sexta às 19h00. O mais razoável é que o jogador venha a estar no banco, mas outra solução terá de ser encontrada e todos pensarão imediatamente em B.Cesár ou Iuri e este tipo de gestão terá de ser natural, quer para JJ, quer para os adeptos, quer para os próprios jogadores. E é aqui, nestas “rotatividades” que penso estar um dos maiores saltos qualitativos e quantitativos deste grupo. Mesmo que à custa da confiança ou não confiança de JJ em jogadores como Matheus Pereira ou Geraldes, a verdade é que não parecem existir tantos “enteados” na equipa. E prefiro olhar para a parte positiva, já que a negativa há muito que a expressei nestes meus posts.

Espero acima de tudo que esta equipa técnica saiba trabalhar melhor a vertente motivacional dos jogadores, sabendo gerir o plantel como um todo e não à custa de um 11 excepcional que marginaliza a contribuição dos tais que têm de nascer mais de uma vez. Os novos partos deveriam ser naturais, acabando de vez com as cesarianas que têm provocado mais abortos que soluções. O substituto de Coentrão, Mathieu ou Acuna terá de sentir que é tão válido como o titular e que a sua prestação pode mesmo garantir-lhe um lugar ao sol, não sendo forçado a aceitar o papel de “suplente” como um karma definitivo. O resto “é bola” – como diz o outro – e ninguém pode prever (com Nhaga ou sem ele) o que faremos de diferente em relação ao anos anteriores.

brunofiorentina

*às quartas, o Leão de Plástico passa-se da marmita e vira do avesso a cozinha da Tasca