Os boicotes e blackouts dos grandes emblemas portugueses aos órgãos de comunicação social fizeram parte de uma era do nosso futebol. Nunca foi um expediente com impacto nos próprios visados, mas serviu como recurso para focar as equipas, muito mais que os clubes, nos seus objectivos desportivos.
Depois dos anos 90, caíram em desuso. Primeiro porque o desporto e a media mudaram, depois porque os tais ganhos referidos no foco das equipas esbatia-se à medida que os agentes dos jogadores foram ganhando protagonismo e sabendo ultrapassar as barreiras de um impedimento no acesso ao espaço mediático.
De alguma forma, o antagonismo entre clubes e a imprensa era uma figura abstracta, queixas avulsas que se encaixavam numa teoria de conspiração bastante genérica, um pretexto megalómano para defrontar um microcosmo essencialmente efémero. Os clubes, mais do que acreditarem piamente no “inimigo” imprensa, acreditavam no “amigo” de não ter imprensa – leia-se “ter um inimigo intangível que culpar pelo insucesso”.
Esta semana, o Presidente do Sporting, fez saber ao Universo Leonino, que por tempo indeterminado, cessará o acesso do jornal CM e da sua tv a Alvalade e Pavilhão João Rocha. No entender deste Conselho Directivo, não estão reunidas as condições de segurança essenciais para que os profissionais deste órgão possam desempenhar as suas funções, nos referidos espaços.
Vou ser curto e grosso quanto à minha opinião sobre esta tomada de posição: Até que enfim, fod***-se!
Quem acompanha o tipo de jornalismo que o CM faz, saberá que ter esse jornal e tv como inimigos ou não (não nos chamando Benfica) vai dar exactamente ao mesmo. Banindo ou não, o Sporting e o seu presidente vão ser tratados como costume, ou seja, vamos assistir às mesmas invenções delirantes, aos mesmos juízos de valor inquinados, às mesmas pazadas de carvão sem sentido, às mesmas novelas de JJ vs BdC, BdC vs Sócios, JJ vs Atletas, Atletas vs BdC, etc.
Porque é isto que é o CM e a CMtv, um tabloide sensacionalista que não tem qualquer intenção de informar com precisão os seus consumidores, mas apenas ganhar dinheiro, dando-lhes o que querem ver, seja lá isso o que tiver de ser. Um largo espectro que vai desde a exposição da vida alheia, às acusações especulativas, à marginalização de instituições e aproveitamento vampiresco da desgraça ou da tragédia, tudo o que o sentido voyeurista do povão quiser, o CM dá. A chegada do CM às lides desportivas é mais recente. Nunca foi um “foco” essencial do jornal e se bem me lembro de folhear o jornal no café, raramente todo o desporto, ultrapassava as duas páginas. Mas eis que chega o Apito Dourado e, cheirando o sangue da polémica, não mais o jornal haveria de deixar um “caso” ou uma “guerra de palavras” futeboleira passar despercebida.
Com a chegada do canal CMtv e com a pobreza de conteúdos revelada desde cedo, os responsáveis encontraram no futebol, perdão, no que o futebol tem de pior – a “paineleiragem”, a forma mais barata e com mais audiência para ocupar o seu “prime time”. Inteligente solução em termos financeiros, mas um pobre espetáculo protagonizado por pessoas que gravitam à volta da “bola” e também querem ganhar o seu. A fórmula é tão simples como eficaz. Convidam-se pessoas mais ou menos conhecidas de várias cores clubísticas e atiçam-se as polémicas, tudo ao melhor género de uma arena de luta de cães. Quem nunca viu os pivots dessa estação a “picar” os seus convidados para manter o debate (ou uma coisa semelhante) no nível da gritaria e histerismo absoluto, nunca vai entender o objectivo real desses programas.
Gostaria de vos dizer que esta forma de estar e (des)promover o desporto era altamente censurada pela Liga, FPF, IPJD, sindicatos de árbitros e jogadores, ERC e que tudo fizeram para acabar com este foco exploratório do tal “ódio” que tanto preocupa Fernando Gomes…mas para “azar dos Távoras” nem sequer uma posição frontal existe na identificação destes e de outros programas semelhantes. A Liga teve um espasmo de uma coisa qualquer de censurar os “paineleiros” que tivessem cargos nos clubes, mas a ideia era tão tonta como criada para o parecer e como era óbvio e intencional desde a sua criação, caiu por terra por não estar de acordo com os direitos fundamentais garantidos pela nossa Constituição. E assim foi assegurado mais um “salvo conduto” para se continuar a poluir a mente dos adeptos, informando zero, cultivando e promovendo a discórdia e a difamação.
É ao abrigo desta impunidade total que o CM não tem qualquer nojo em meter a cabeça no esgoto dos rumores e trazer à praça pública toda e qualquer falsidade. Seja qual for a extensão de mentira, só tem de ter uma qualidade para ser “explorável”: o interesse mediático. Ora aqui chegando, existem duas personagens no nosso futebol que merecem o “ódio” da maior base de adeptos de um clube em Portugal. Eles são: Pinto da Costa e Bruno de Carvalho. O problema é que o decano da presidência de clubes europeus está na fase de declínio, quer das suas capacidades pessoais, quer da sua relevância desportiva…sobra BdC, num ciclo de vida e acção completamente oposto. Insultar, difamar, especular sobre tudo o que o presidente do Sporting diz e faz, não só é garantia de audiência, como se torna numa fonte inesgotável de conteúdo. Um filão de intermináveis polémicas que pouco interessa que sejam mentiras ou meias mentiras.
Ora isso, como é óbvio, mina a imagem e reputação de BdC e tudo o que o rodeia no Sporting. As polémicas vivem da exploração dos “defeitos” perceptíveis do presidente e como tal partem do pressuposto que os mesmos afectam o desempenho do clube e o seu sucesso e é aqui que tem de entrar em ação a capacidade dos adeptos em entender que, mesmo que achem que BdC possui esses “defeitos”, a sobrevalorização dos mesmos e a criação de factos falsos em cima dessa atitude gera problemas e obstáculos evidentes dentro ou fora do clube. De facto, esta posição por parte do CM, mesmo que não tenha como objectivo afrontar os adeptos do Sporting, vive e explora (até à náusea) um possível fosso entre o líder do clube e a sua base de apoio.
É grave que não entendamos isto e nos refugiemos nas “culpas” ou erros de comunicação cometidos por BdC. É grave que não tiremos de letra que o CM não se importa de denegrir o Sporting, para agradar aos adeptos benfiquistas ou BdC “haters”. É grave que não nos demos ao respeito de entender que estão a lucrar à custa da nossa imagem. Como tal, não só aplaudo a medida de “combater” este tipo de jornalismo como sou contra censuras ou proibições de qualquer outro. Há que separar o que não pode estar junto. Temos assegurar os mesmos direitos, a quem cumpre os mesmos deveres. O CM não sente qualquer compromisso com o código deontológico do jornalismo e faz questão de o atropelar em busca da audiência e lucro. Devem ser protegidos nessa acção, porquê? Porque deve o Sporting servir de vítima e de tapete a um circo de falsidades e fomento de ódios que o fere e prejudica?
*às quartas, o Leão de Plástico passa-se da marmita e vira do avesso a cozinha da Tasca
19 Outubro, 2017 at 19:30
Concordo em absoluto com esta proibição que vem tarde.
E digo, sobretudo, que vem tarde porque infelizmente, a sensação com que fico é a de que a gota de água não foi tanto pelos ataques ao Sporting mas sim pelos ataques pessoais ao nosso Presidente (sim alguns são ataques também aos Sporting mas nem todos).
Penso que, inclusivamente, poderá esta proibição servir de exemplo ao resto dos órgãos de CS para a gritante dualidade de tratamento que dão ao Sporting. Não sei se terá impacto mas é um bom começo.
SL