vitor_oliveira_foto_jose_coelho_lusa152706a8Desde há uns anos para cá, com foco nas últimas duas temporadas, que se nota bastante diferença no nível das equipas que acabam por subir à Primeira Liga, principalmente no que toca ao projecto desportivo. Equipas como Chaves, Portimonense, Aves e até o próprio Feirense demonstram um nível de organização muito superior a quase todos os seus antecessores e, como consequência, o futebol português só tem a ganhar. Os planteis são bem construídos, têm experiência, juventude e alguns empréstimos que de facto acrescentam valor, para além uma tranquilidade para o trabalho dos treinadores que facilita a tarefa complicada de manter o clube no principal escalão.

E se o Chaves foi a grande sensação do campeonato passado, a verdade é que prevejo um ano tranquilo para o Portimonense e Aves que, apesar de recém-chegados, demonstram mais argumentos e futebol que clubes como o Moreirense ou Tondela, que deveriam já ter atingido outros patamares desportivos.

O segredo dos homens de Portimão é simples: Vítor Oliveira. E não escondem que o objectivo é conseguir eventualmente chegar a lugares europeus, competindo com Guimarães, Marítimo ou Rio Ave. Uma ambição que poderia ser vista como loucura, mas que é assente numa ideia bem construída. Caso contrário seria Vítor Oliveira o primeiro a recusar permanecer no comando técnico.
Uma ideia de jogo que beneficia o futebol positivo, mas que não tem medo de chafurdar na lama quando o momento assim o exige. Um ataque temível, conseguido graças a descobertas em todos os cantos do mundo, mas uma defesa algo susceptível que precisará de ser melhorada caso queiram atingir outros patamares. E, mais que qualquer outra coisa, um treinador que é viciado em ganhar, que sabe como poucos quais os truques e manhas do futebol português e que conta com cinco títulos da Segunda Liga e 10 subidas de escalão (só nos últimos anos subiu o Arouca, Moreirense, União da Madeira, Chaves e Portimonense).

E depois, as estrelas. O irrequieto japonês Nakajima, que me parece ter qualidade para estar em qualquer plantel em Portugal, o interessante Hackman, que com apenas 22 anos demonstra uma margem de progressão brutal como defesa direito, e um elenco brasileiro que transita quase todo da Segunda Liga e demonstra qualidade semana após semana. Paulinho, o médio ofensivo que tem sido o grande destaque desta equipa, mas também Wellington (extremo), Dener (médio centro), Fabrício (avançado que já leva 6 golos esta temporada) e Lucas Possignolo (defesa central). Uma equipa que ganhou muito poucos reforços, mas que acredita conseguir valorizar os seus activos, vender bem na janela de transferências e continuar a sua subida pela tabela classificativa.

O Sporting não terá uma tarefa fácil no Domingo e o meio campo deverá prestar atenção a homens como Paulinho e Nakajima, que já provaram ser capazes de fazer mossa a qualquer equipa do campeonato e que saíram do Dragão com a sensação de que deveriam ter eliminado da Taça um dos maiores símbolos do futebol português.

O elogio maior vai naturalmente para Vítor Oliveira. Uma espécie de avô do futebol português, que ganhou uma aura lendária pela quantidade de vezes que recusou treinar na Primeira Liga, pelas subidas sucessivas, pela personalidade simples e simpática, que nos foi conquistando a todos. Um homem a quem se reconhece uma enorme paixão pelo futebol, que não altera as suas convicções nem por um milímetro e a quem desejo, sinceramente, todos os sucessos desportivos. Ele é o underdog de quem gostamos todos de vez em quando, esperemos que consiga fechar a sua carreira (um dia) com um dos títulos principais em Portugal.

*às quintas, a Maria Ribeiro mostra que há petiscos que ficam mais apurados quando preparados por uma Leoa