Depois de uma entrada em falso, o Sporting equilibrou-se no sintético e encontrou o rumo certo durante o intervalo. No recomeço, os verde e brancos foram avassaladores, deixando bem vincadas as diferenças de qualidade em relação ao Astana e colocando um pé nos oitavos de final da Liga Europa

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Um frio do caraças na rua, com quase duas dezenas de graus negativos, e uns espectaculares 15 graus dentro da Astana Arena, estádio moderno, de quando vez arejado e de quando em vez tapado, como aconteceu na noite de lá que era tarde cá. Ainda assim, o técnico da equipa cazaque embrulhava-se em mantas, gorros e tudo o que pudesse para se aconchegar no cantinho do banco de suplentes, como se estivesse ali apenas para ver a bola.

Acontece que foi tudo ao contrário e quem entrou em modo soneca foi o Sporting. Talvez pelo fuso horário, talvez pela menor habituação ao sintético, talvez por achar que aquele mancos de amarelo mais cedo ou mais tarde iam levar umas bombocas e a coisa resolvia-se. E com uma entrada tão em falso, os Leões ficaram a ver o adversário cobrar uma falta antes do meio campo, com um lançamento longo, e um tal de Tomasov inaugurar o marcador. Estavam decorrido sete minutos e tocava o despertador para a equipa leonina.

A resposta veio à passagem dos 25, numa bomba de Bruno Fernandes que o guarda-redes defendeu a custo, mas apesar de ir pegando no jogo o Sporting continuava a passar por calafrios, muito por culpa de uma falta de equilíbrio entre as boas prestações de Piccini e Gelson, à direita, e a quase inexistência de Coentrão e Acuña, à esquerda. E foi por aí que o Astana esteve perto de aumentar a vantagem, com Patrício a dizer que era o que faltava voltarem a mandar outra dedada no seu bolo de 30º aniversário!

Veio depois aquele golo inexplicavelmente anulado a Doubia, pois nem há falta de Coates nem há fora de jogo do 88, e veio um livre directo do 8, Bruno Fernandes, a proporcionar defesa para a fotografia a um tal de Eric. Fechava-se a primeira parte e tudo seria diferente na segunda, até porque o Sporting entraria disposto a mostrar quem manda e um tal de Logvinenko regressaria empenhado em não esconder mais as suas limitações.

Logo a abrir, uma mão na bola dentro da área dava a Bruno Fernandes a possibilidade de empatar a partida da marca de grande penalidade. Não podia haver melhor tónico e Marcos “Conan” Acuña, que via pela primeira vez um sintético na sua vida, pregou um cabrito de calcanhar, depois enrolou mais outro defesa e cruzou para os pés de Gelson Martins que não pensou duas vezes e disparou forte para o fundo das redes. Diz que a ganhar em casa ao intervalo em provas europeias, o Astana nunca tinha perdido, diz que a perder fora ao intervalo em provas europeias, o Sporting nunca tinha ganho e também diz que estava dada uma sapatada em toda e qualquer tradição.

E bastaram mais 5 minutos para a coisa se resolver de vez, com um apertão do Astana pelo meio e sempre pelo lado de um inadaptado Coentrão: Acuña abriu a régua e esquadro para a correria de Bruno Fernandes, este meteu no meio da área, Gelson arrastou os centrais e Doumbia gritou “toma lá” enquanto fazia o terceiro. E antes que alguém voltasse a anular um golo ao costa marfinense, Jesus deu-lhe descanso e lançou Montero, já mais a pensar e ter pezinhos para segurar a bola do que propriamente para carregar sobre o adversário. E o colombiano não foi de modas: guardou-a tão bem que o Logvinenko quis saltar-lhe para as cavalitas e viu o segundo amarelo.

A meia hora do fim o Astana ficava reduzido a 10 e o Sporting ficava com o jogo na mão, só não matando a eliminatória porque Bryan Ruíz e Gelson Martins desperdiçaram as oportunidades claras que tiveram, antes dos cazaques começarem a mostrar mau feitio e a dar pau naqueles Leões que já tratavam o sintético por tu e que, em ano de festival da canção em Portugal, regressavam a 1989 e recuperavam uma pop manhoso-elástica de conquistas e sonhos, como aqueles que guiam os adeptos leoninos na Europa.