Se no processo defensivo a equipa vai resolvendo os problemas com garra e a genialidade de Mathieu e Patrício, já no processo ofensivo é bem visível a falta de harmonia.
Já o digo a algum tempo, tirando os dois centrais, todos os outros – e com maior destaque para os médios – têm medo e aparente falta de técnica para efectuarem passes longos. Nós construímos com futebol curto, mas falta, para além de outras questões, variar o nosso jogo com outras abordagens. O passe longo (não necessariamente alto) traria mais verticalidade a uma equipa que constrói muito organizada, mas continua muito previsível. Coates fez um passe longo, bem intencionado, para Ruben, e surgiu golo. Verticalidade.
Recuando ao timing de passe. Fica na retina que cada jogador tem o seu ritmo em campo, com Gelson a jogar claramente ao dobro da velocidade dos outros, e Ruben com timings completamente adversos a grande parte da equipa.
Dois lances espelham o que digo, depois dos colegas falharem completamente o tempo de passe. Montero avançou, Gelson não passou, Montero parou e nesse instante Gelson mete a bola em profundidade. Outra, Ruben na esquerda completamente livre e William não faz o passe como devia, invés decide jogar curto para Lumor que corre com a bola e passa quando Ruben já estava offside.
Os jogadores continuam a transportar muito a bola com receio de falharem passes de 20 metros, com a bola a rolar muito lentamente. Neste processo ofensivo organizado, esperaria-se que nos últimos 35 metros existissem velocidade em movimentações verticais onde passes pudessem perfurar a defesa contrária, mas nada acontece. Sem harmonia os jogadores não desfrutam e passam 90′ a jogar em esforço, e daí nasce a repetida situação dos passes falhados, futebol previsível e dificuldade em vencer os jogos.
Soluções?
Parece-me que a equipa do Sporting continua muito concentrada somente na bola e no seu portador. Raramente se vêm jogadores sem bola a consultarem o seu “radar” para ver onde estão os colegas, e PARA ONDE poderão correr na procura de espaço. Um dos problemas da equipa é que é EXTREMAMENTE ESTÁTICA. Jesus implementou uma espécie de equipa de hóquei, onde toda a gente joga de costas para a baliza, alternando da esquerda para a direita, sem que no mínimo, dois ou três jogadores tenham a inteligência de criar dinâmica.
Faltam triangulações, ou mesmo jogadas de involvência com quatro jogadores (médio interior, lateral, extremo e ponta a baixar). Tudo é feito com dois jogadores e isso é facilmente anulado a não ser que sejam Messi e Suarez. Tabelinhas usava o Brasil com Mané Garrincha há 60 anos atrás, agora raramente resulta porque os processos defensivos evoluíram até ao ponto científico.
O primeiro de Bas Dost resultou porque Ruben se manteve na sua posição. Sendo Jesus fanático pelo futebol total com origem na Hungria dos anos 30, sabe que muitas das vezes só se destrói uma defesa atraíndo o rival para um lado do campo e fazendo um movimento de rotura, vertical e rápido para a outra extremidade a fim de deixar o extremo criativo um-para-um com o defesa que será irremediavelmente comido. Foi o que aconteceu. Mais um pormenor para o facto de Ruben ser destro e ter conseguido criar aquele contexto na esquerda, certamente Acuna faria de outra forma.
Comentário feito por Trolha
*«eu ouvi o teu comentário» é servido sempre que o homem do balcão consiga distinguir uma boa posta por entre o barulho dos pratos
13 Março, 2018 at 19:19
Boa análise do Trolha, aliás, como é hábito qd decide fazê-lo.
Na minha opinião só temos 2 jogadores que na zona nuclear sabem trarar a redondinha por tu: William e BF.
William tem de ser 6 (é menos 1 perto da área adversária), é patrão, pauta o jogo e nessa posição coloca toda a equipa a mexer. É dos poucos que sabe fazer sem “medos” um passe em profundidade. BF pode ajudar a 8, mas gosto de vê-lo solto na frente a assistir o avançado e a mandar bombocas de longe (é o único).
Não quero ser injusto (pela pouca utilização), mas Palhinha, Petrovic, Batta e Misic são jogadores que defendem. Só defendem. Por isso… falta mesmo ali o Adrien que em Guimarães demonstrou a importância que tinha.
E como não há Adrien, pq não uma oportunidade ao Wendell? Não estou nos treinos, verdade. Mas se é um 8 e remate bem… tendo já algum tempo de Sporting e tendo interessado ao PSG e Porto… porque não?
13 Março, 2018 at 19:27
O trolha caiu do andaime e bateu com a cabeça… 🙂 É um tasqueiro que gosta de fazer os outros pensar que ele é um simples trolha para depois os poder surpreender com análises dignas de um velho lobo da bola.
A leitura da ideia de jogo do Sporting é brilhante. Identifico-me com alguns pontos, nos outros nem sequer tinha reparado nas subscrevo. Três anos volvidos ainda estou à espera de ver aquele futebol fluido e empolgante que todas as equipas do jesus, do Amora ao venfique, sempre mostraram, e que a equipa atual estranhamente nunca mostrou.
13 Março, 2018 at 19:56
Nesta altura da época, sinceramente tou me a cagar se jogamos bem ou mal.Quero é Ganhar!
Agora uma coisa é certa futebol como eu gosto, só jogámos na primeira época do Jesus.
SL
Spooorting
13 Março, 2018 at 22:00
Eu já tinha dito no post anterior que não concordava.
Esse futebol de passe longo assenta bem com desmarcações, e tirando Gelson, não temos “velocistas” nesta equipa (nem malta com o “arranque” que se pede neste tipo de jogada).
Acho que o jogo paciente (termo que eu prefiro a “mastigado”), de passe curto com variação de flanco, à espera de criar desequilíbrios entre os actores, é a melhor estratégia, e só pontualmente (tipo William-Gelson ou BF-Gelson) deverá assentar nesse modelo acima defendido. Até na estratégia do finalizar com o centro para a área é complicado, já que em geral temos apenas um isolado Dost, e a percentagem de centros com qualidade parece-me insuficiente.
Eu gosto da estratégia, é sólida e fiável, ainda que por vezes menos “apelativa”. Percebo a teimosia do JJ na inflexibilidade e no rigor táctico, dadas as circunstâncias.
O que muitos aqui designam de “rigidez”, em sentido depreciativo, podia chamar-se auto-preservação em contexto de enorme volume de jogos (a equipa com mais jogos em Portugal), naquela equipa que entre os três tem o menor orçamento/valor investido, e a mais recente remodelação/jogadores menos rotinados.
Alguém acha crível que um modelo de jogo assente em alta rotação era possível neste contexto? Nem equipas inglesas com o quíntuplo de investimento na qualidade do plantel!
A questão é que cada um analisa o joguinho presente, e ninguém (excepto o Mestre, honra lhe seja feita) percebe todo o quadro, com o futuro em perspectiva. E todo o quadro é desgaste acumulado, e que só vai aumentar relativamente aos competidores, pois se nesta altura temos muitos mais minutos que quaisquer outros, essa diferença vai ainda continuar a evoluir em crescendo, salvo hecatombe na República Checa.
É o preço de termos Sporting de 4 em 4 dias: temos menos Sporting do que teríamos se jogássemos uma vez por semana, como as galinhas. Ou como tivemos na época do Jardim, em que preparávamos tranquilamente o jogo do Domingo seguinte, e era quando não havia selecções ou jogos de taça….
Mas tudo serve para repetir chavões da treta, como “ele não roda”, “ele desgasta”, “ele é rígido”, “os atletas estão presos”, “não há criatividade”, e por aí fora….
Eu cá gostava que a tónica, e repito-me a dizer isto, se pusesse na capacidade de superação, na competência competitiva, na solidez táctica, no pragmatismo contextualizado, e outras coisas bonitas que se poderiam dizer.
Mas para isso era preciso compreensão, e gratidão, e está visto que ninguém está para isso. Pelas nossas hostes é mais “exigência”….
13 Março, 2018 at 22:14
Placebo,
Passes longos como mais uma maneira de diversificar nos processos ofensivos. E não me refiro, como adiantei, a que sejam necessariamente passes altos.
Dizem que não existem velocistas no Sporting. Existem tantos como no benfica ou porto. Os jogadores é que, muitas das vezes, andam a pastelar.
Brahimi, Marega, Ricardo, Hernani, Corona
Cervi, Jimenez, Salvio, Rafa, Grimaldo
Gelson, Acuna, Ristovski, Podence, Mathieu
13 Março, 2018 at 22:20
Continuo a achar que é uma estratégia mais fácil em contexto de frescura.
Gelson sim, Ristovski admito, Acuña não.
Mathieu é de facto muito veloz, mas não anda normalmente nessas paragens para esse tipo de jogadas.
Eo Podence tem alta rotação, só que a rodagem é baixa….
13 Março, 2018 at 22:25
Estratégia era entrar com tudo que nem uns malucos, em 80% dos jogos deste campeonato.
Depois sim… posse, chamar o adversário e no momento certo mudança de velocidade e 2-0.
Isto, pelo volume alto de jogos. É que se forem de semana a semana, então é dar tudo até aos 90m.
Mas isto sou eu, um treinador de bancada.
13 Março, 2018 at 23:55
Mathieu nao conta porque é defesa trolha, o único que faz frente a esses é o gelson.
O podence neste momento não conta
14 Março, 2018 at 10:01
Conta sim, até no último jogo ia marcando numa arrancada a que o cherba lhe chamou de TGV. Conta e muito.
13 Março, 2018 at 23:11
Isso é tudo muito bonito, mas… O Carnide, no primeiro ano de Jesus estava na nossa situação (jogo de 4 em 4 dias) e nos na deles (jogo ao fds) . O que acontecia é que eles jogavam de forma mais convincente.
Já disse e repito: o porco tem uma carga semelhante à nossa, mas o ritmo deles está 3 vezes superior ao nosso.
Isto para dizer que não aceito a treta do estar em todas para justificar o futebol indigente que apresentamos.
13 Março, 2018 at 22:08
Belos comentários por aí abaixo. Assim dá gosto ler a Tasca.
Alguém me ajuda a relembrar que jogo é que dinamitamos o flanco esquerdo adversário com incursões ultra fodidas do Ristovski? A jogada começava sempre na esquerda, ia ao meio e Coates fazia um passe rápido com Ristovski a estraçalhar o lateral esquerdo. Era mais disso que gostava de ver.
No Carnide existe uma jogada para tirar a bola da zona de pressão, em situação de lançamento lateral a meio do campo. O Jonas desce, o lateral lança a bola e o brasileiro dá um autêntico balão para a ponta contrária do campo onde o lateral oposto inicia o ataque. Algumas equipas atentas poderiam sacar um contra desta situação, mas estranhamente nunca ninguém tirou proveito deste lance a não ser o próprio Carnide.
13 Março, 2018 at 23:21
Foi com o Marítimo para o campeonato (5-0) salvo erro.
Quanto ao post concordo duma maneira geral. A equipa ser estática é bem visível quando se vê um jogo em Alvalade (percebe-se melhor ao vivo que na tv), quem tem a bola não tem linhas de passe porque ninguém se mexe.
Temos um jogador, do meio-campo para a frente, que é fora de série e joga quase sempre bem, Bruno Fernandes mas joga demasiado recuado quando deveria ser ele a jogar atrás do avançado. William tem dias e está longe de mostrar o que já mostrou, penso que ter alguém muito perto dele o limita como se diz. Gelson é o único jogador que consegue imprimir velocidade no jogo. No entanto, parece que estagnou e é limitado nas decisões sempre que chega ao último passe. Sinceramente, custa-me a vê-lo evoluir mais do que isto e parece que nunca passará dum bom jogador, às vezes muito bom, mas nunca chegará a ser um fora de série por essa limitação tão importante que tem e mesmo no capítulo do remate.
De qualquer forma, nesta altura do campeonato já nada disto vai mudar, é esperar que a vontade e os momentos individuais nos vão safando até ao fim da época.
13 Março, 2018 at 22:12
Já tinha visto.
Muito bom.
Discordo que o processo defensivo seja mérito (quase exclusivo) do Patrocío e centrais. Este ano tb melhoramos muito defensivamente, porque temos dois laterais (muito) competentes. E a equipa defende em bloco. Os alas recuam até a linha de canto. Tivéssemos nos Slimani…. E não sofriamos golo!
Na frente partilho das preocupações. Pouco jogo sem bola e verticalidade do jogo, mas foi o perfil dos jogadores escolhidos. Só temos um extremo explosivo. Sorte a nossa de termos um goleador de um, dois toques na bola. É quase certo que marca um por jogo. E também acho que JJ formata em demasia os jogadores. No último terço deve poder haver (alguma) liberdade criativa.
13 Março, 2018 at 22:28
É exatamente por esta mecanização dos movimentos e da falta de tolerância para com o risco e o erro nesse risco que o Matheus, Iuri e Geraldes não estão na equipa. Para este Sporting (para o JJ) nada é pior que perder a bola…
Todos eles o que têm de melhor é exatamente isso (imprevisibilidade e capacidade de correr riscos porque quando acertam é meio golo) e nenhum deles seria lateral a defender para permitir ao dito lateral fechar no meio. Que é outra curiosidade… No 1 ano do JJ os alas fechavam ao meio fazendo a superioridade no meio, este ano os alas fecham a ala e os laterais ao meio… O que tira toda a capacidade da equipa de sair como deve ser…
13 Março, 2018 at 23:21
Yep…. Também prefiro os alas a fechar ao meio.
Gosto do 4-4-2 losango, em que um dos vértices é extremo. Com o Pedreiro jogávamos assim. Com os alas a recuarem até ao lateral ficamos muito lá atrás, ficamos sem contra ataque, pior ainda quando o ponta de lança é pouco móvel e rápido.
13 Março, 2018 at 23:22
Fdx. Peseiro.
13 Março, 2018 at 23:57
Também foi um bocado pedreiro lol
14 Março, 2018 at 0:24
Fantastico este cachimbo da paz
14 Março, 2018 at 10:00
Antes de mais, bem visto pelo Trolha e bem destacado pelo Cherba!
Não tive tempo de ler todos os comentários, portanto mesmo correndo o risco de estar a plagiar alguém aqui vão os meus 2cents:
1. Concordo com o Trolha na análise, mas acho que não estamos assim tão condenados a ter de jogar assim!
2. A imprevisibilidade, verticalidade e velocidade estão essencialmente associadas à capacidade de ler o jogo e à inteligência.
3. Temos 1 jogador que tem todas as condições necessárias – Bruno Fernandes – e que por isso é e será o nosso motor. Gelson é rápido e tem técnica mas falta-lhe ainda discernimento (tenho esperança que venha com a experiência e maturidade). No lado esquerdo falta-nos alguém mais rápido e/ou imprevisível, talvez Rafael Leão ou Matheus Pereira para o ano. Os nossos laterais sabem subir com qualidade falta apenas a equipa jogar mais com isso.
4. É no entanto no miolo onde tem de haver uma maior alteração. WC é fantástico a guardar a bola e depois a fazer passes de roptura. Mas não pode jogar com outro tinco ao lado; precisa de um box-to-box intenso à frente. Contra equipas pequenas temos solução: jogava num triangulo invertido com Bruno Fernandes no vértic direito e Brian Ruiz no vértice esquerdo revesando-se no apoio ao PL ou preenchendo o centro consoante o lado em que atacávamos. BF e BR são os 2 jogadores mais inteligentes e com mais técnica do nosso plantel, com treino jogariam de olhos fechados um com o outro e seriam capazes de baralhar qq tipo de marcação. Para além de libertarem o espaço a WC para varrer e dominar as suas costas.
5. Contra equipas grandes já seria mais arriscado ter apenas WC a controlar sozinho as costas de BF e BR sobretudo devido à falta de intensidade deste último. Aí penso que Wendel se fôr tão bom como o pintam pode ser a solução mas ainda é uma incógnita.
Concluindo, temos a matéria prima necessária: é uma questão de JJ mudar ligeiramente o esquema e querer arriscar um pouco mais!