Estes simples números estatísticos de Fábio Coentrão fizeram-me recuar a 1999 e a uma entrevista de Rui Jorge, no final do seu primeiro ano de verde e branco.

[…] Nunca me senti tão prejudicado pelas arbitragens como me senti este ano, no Sporting. Nunca! Foi um ano excessivamente mau para o Sporting, nesse particular. Inegavelmente. E sabe o que me doeu mais? A maneira como os árbitros lidavam connosco. Má, de mais. Existe uma falta de respeito muito grande dos árbitros em relação aos jogadores do Sporting ou ao Sporting-instituição, se quiser. Prepotência essa que sistematicamente nos prejudicou. Senti isso. Vivi isso como jogador. Uma grande prepotência dos árbitros e, de alguns deles, tinha excelente imagem, muita consideração! Posso dizer-lhe que, esta época, fui admoestado com o cartão amarelo por oito vezes e, destas, sete resultaram de meras conversas que tive. Digo – eles sabem isso – conversas, não insultos! Normal perguntar ao árbitro o porquê de tais decisões. No Sporting éramos dois ou três a perguntar, no FC Porto, sete ou oito! Se calhar essa é uma das diferenças e é capaz de ser mais fácil ao árbitro admoestar um ou dois que cinco ou seis! Não pense que estou a defender-me. Vi os amarelos sem saber porquê! Depois “veio a prepotência! Não aceito. É inadmissível. Noutro sítio, não fariam isso. Não fariam, nem fazem!

Isso marcou-o?
Bastante. Acima de tudo porque o Sporting foi uma equipa extremamente correcta. Quem se der ao trabalho de ver as estatísticas dos jogos, o número de faltas cometidas pelos jogadores do Sporting é infinitamente inferior às dos adversários e os cartões amarelos “caíam” só para o nosso lado! Num jogo o Sporting fez sete faltas, o adversário trinta e nos cartões, ficámos com uma expulsão e não sei quantos amarelos e o nosso adversário só com dois amarelos. É um absurdo!

Porém, a gravidade das faltas não se mede pela sua quantidade…
É um facto. Então, se formos por aí, mais visível se torna a dualidade de critérios usada! Volto a dizer-lhe que isto não serve de desculpa, mas é uma realidade que não pode ser ignorada e terá, rapidamente, de mudar!

Espírito marcado?
Muito! E não pense que me refiro a este ou aquele “penalty” que ficou por assinalar. Não. Refiro-me à forma como conduziam os jogos, como eram tolerantes para uns e extremamente rigorosos para nós! Recordo-lhe os jogos frente ao Beira Mar, ao V. Setúbal e ao Campomaiorense. Não pudemos jogar. Foi um antijogo constante. E a arbitragem, em lugar de defender quem pretende jogar futebol, não, defendia quem praticava o antijogo! E dentro do campo, um jogador acaba por perder a calma porque sente que está a ser roubado!