Chegou, mais uma vez, a altura mais temida por todos os adeptos de futebol pelo mundo, que por estes dias têm pouco mais a discutir para além de equipamentos, o golo do Éder e quem deveria ser o lateral esquerdo da seleção. Manifestamente pouco para quem apoia clubes que têm objetivos para cumprir (como é o nosso caso) e demasiado penoso para quem sabe que serão disputados apenas simples amigáveis de preparação. Teremos de assistir aos confrontos com a Holanda e Egipto com um bocejo ou com o entusiasmo de William Carvalho em qualquer fotografia.

Por estar tudo parado, e nem os mais novos cumprem calendário nas suas competições, é tempo de apresentar algumas das vantagens e desvantagens (na minha opinião) que teremos com a mudança de paradigma, substituindo a equipa B pela equipa de reservas.

Equipa B
Não é segredo nenhum que, desportivamente, pouco proveito temos tirado desta equipa. É difícil vencer a Segunda Liga, é complicado que o nível do futebol colectivo seja espetacular e é impossível definir objetivos claros no princípio da temporada. Nenhum responsável leonino pode apontar a títulos ou a qualquer parte da tabela, sabendo que durante o ano a equipa estará sempre em completa mutação. A ideia é sempre a de ganhar o máximo de jogos possíveis, definitivamente não descer e fazer crescer alguns jogadores dos nossos quadros. Mais do que isto é impossível de prever.

Depois, para complementar algumas posições que a formação não consegue oferecer no imediato, a equipa B tem recebido uma avalanche de jogadores que pouco ou nada acrescentam, que nunca jogarão na equipa principal e que são mais vistos como moedas de troca para o futuro do que activos. Por tudo isto, o projecto parece estar a perder interesse, os resultados continuam manifestamente maus e a única coisa que salva esta equipa profissional é que, de facto, tem contribuído com a equipa A, fornecendo quase sempre jogadores para posições carenciadas.

Estaria Rafael Leão a jogar sem a equipa B? Teríamos subido logo Gelson sem a equipa B? Teríamos um terceiro guarda-redes a competir todas as semanas sem a equipa B? Provavelmente não.
Mas, e se são muitos os casos de sucesso de jogadores que por ali passaram e acabaram por chegar à equipa principal, a verdade é que as diferenças de qualidade entre Primeira e Segunda Ligas são tantas, que muitos jogadores que por ali se destacam acabam por ter de rodar mais um ano no escalão principal ou acabam por se perder. E aqui atrasamos mais um ano a sua integração, porque a maioria não conhece os meandros dos grandes palcos, nem o confronto com outros grandes jogadores.

Mesmo com todas estas questões, é sempre de destacar que, desde que iniciou o projecto, o Sporting já conseguiu a promoção de dezenas de jogadores, como Bruma, Ilori, Eric, João Mário, Ricardo Esgaio, Tobias, Rúben Semedo, Matheus, Gelson, Podence, Palhinha ou Rafael Leão. Alguns trouxeram retorno desportivo, outros apenas financeiro, mas somos inegavelmente quem mais proveito tirou da juventude da equipa secundária.

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Equipa de Reservas
A ideia seria competir apenas com equipas de reservas da Primeira Liga. Um calendário mais liberto, um plantel mais fechado e a possibilidade de continuar a formação num ambiente em que se pratica melhor futebol e em que o espectáculo é mais valorizado. À partida, uma competição que protege mais os jovens que saem da formação, mas que não nos dá mais garantias de adaptação à exigência do futebol profissional.

O plantel estaria automaticamente inscrito na Primeira Liga, tal como em Inglaterra, e os jogadores da equipa principal que necessitem de minutos ou recuperem de lesão também poderão jogar na Liga de Reservas.

Em termos de vantagens, parece-me óbvio que ganhamos um objectivo claro para aquela equipa: vencer a competição. Parece-me igualmente claro que não iremos contratar 6 ou 7 jogadores todas as temporadas para preencher posições, uma vez que teremos muito menos jogos e muitos jogadores nos quadros e que estão a sair dos escalões jovens. De igual forma tenho a sensação que o futebol praticado poderá ter mais espaço para o talento individual de cada um, para o espectáculo e para o crescimento dos atletas. Mas tenho sérias preocupação sobre a capacidade daquela competição em preparar no imediato um jovem de 19 ou 20 anos para competir na equipa principal do seu clube, sem a exigência física e dura da Segunda Liga, que por si só já está tantos degraus abaixo do exigido.

Ingressar nesta competição fará todo o sentido, se os caminhos da equipa principal forem mais estreitos, se a comunicação entre as duas equipas for constante, se o modelo de jogo e a táctica forem iguais (algo que não acontece de momento) e se o treinador da equipa principal e reservas partilharem as suas ideias para o crescimento dos jogadores. Sem essa aproximação das duas equipas, a mudança pode atrasar ainda mais a integração e dificultar a chamada de jogadores quando Jorge Jesus se vir em apuros e sem banco.

No fundo, preocupações sérias para todo o departamento de futebol, que espera tirar mais proveito da sua equipa secundária e (provavelmente) poupar alguns gastos desnecessários que se têm verificado ao longo destes anos. Da minha parte, vejo a mudança com bons olhos mas apenas com as condições acima referidas.

Por fim, deixo uma ideia que tenho há muito. Seria excelente que o Sporting fizesse o seu próximo jogo de apresentação aos sócios com a presença da equipa principal, reservas e equipa feminina. Misturando jogadores e treinadores nos dois lados do campo e apresentando aos seus adeptos e associados toda a secção profissional de futebol de uma vez só. Uma forma de dar um brinde aos jovens, potenciar o futebol feminino e humanizar os jogadores da equipa principal.

*às quintas, a Maria Ribeiro mostra que há petiscos que ficam mais apurados quando preparados por uma Leoa