Verdadeira noite de terror para os adeptos leoninos, que foi muito além de uma derrota estúpida num jogo onde apenas se salvaram Picinni, Rui Patrício e Bryan Ruiz

madrid91

«Há noites em que vale mais um gajo ficar em casa de caganeira…». O pensamento não é bonito, mas tenho a certeza que terá sido dos mais simpáticos que passaram pela cabeça de Coates e de Mathieu, depois de oferecerem os golos que valeram a vitória ao Atletico Madrid na primeira mão dos quartos de final da Liga Europa: um a abrir o jogo, aos 22 segundos(!!!), outro a fechar a primeira parte, aos 40 minutos.

Aliás, chega-se ao final da partida e damos conta que o Atlético de Madrid teve cinco oportunidades de golo e que quatro delas foram oferecidas (quatro por Coates, uma por Mathieu, duas na primeira parte, duas na segunda), sobrando uma quinta num cabeceamento de Godin ao segundo poste, dois minutos após aquele maldito primeiro golo, num lance que Patrício resolveria como resolveu os outros dois, frente a Diego Costa.

Por incrível que pareça, este «Sporting à italiana 17/18», claudicava por onde menos se esperava e logo num jogo em que o treinador tinha dado como receita para o sucesso a organização defensiva e a capacidade de sair em transição, algo que aconteceu uma vez, quando um bom movimento entre Dost e Bruno Fernandes permitiu ao médio lançar a diagonal de Gelson, ontem uma espécie de vagabundo, para uma correria que terminaria com uma má finalização na cara do redes adversário (uma biqueirada nessa merda, ó Martins!). Antes, aos 13′, Picinni foi por ali fora e ganhou a linha, cruzando para Dost ganhar de cabeça e criar a primeira situação de perigo.

E foi isto a primeira parte, até porque, entretanto, o Sporting que tinha equilibrado as acções a meio-campo por força do crescimento da acção de William, foi vendo o médio perder fulgor até ser substituído, em algo que, em primeira análise, deverá ter sido o ressentir de uma lesão que o impediu de jogar em Braga. Entrou Acuña e Bryan Ruiz passou, não só, a ser o 8, como um dos jogadores com mais critério na ocupação do espaço. O problema é que, sem William, o Sporting perdia capacidade de sair a jogar e, pese o esforço de Battaglia, Bruno Fernandes recuava e recuava e recuava para vir buscar jogo. Resultado? Zero, um enorme zero em termos de produtividade atacante, aqui e ali com um espasmo de Gelson, quase sempre com cruzamentos à toa, esperando que aparecesse Bas Dost naquele estilo de jogo viciado que nos leva ao desespero.

A propósito de desespero, seria importante analisar o porquê de num jogo destes, quatro dos mais experientes jogadores surgirem em campo com a cabeça feita num nó, tendo falhas nada habituais e vendo cartões que os afastam de uma segunda mão que obriga a uma noite perfeita. No meio de tudo isto e à medida que os minutos passavam, acredito que muitos outros Sportinguistas pensavam para si mesmos “a falta que faz um capitão a esta equipa…”, quando colocados perante um grupo de homens à espera de uma voz de comando, de uma caralhada, de um dá cá a bola e venham atrás de mim buscar a eliminatória que estes gajos estão ao nosso alcance! Nada. Zero, ou quase, porque aquele rapazinho chamado Picinni tentou ser essa voz algumas vezes, fingindo ser extremo, ser médio interior e ainda sair a jogar cá de trás e tentando dar uma ajuda ao Gelson quando ele se via entre 6 adversários sem um colega que lhe oferecesse linha de passe.

Viriam os minutos de desconto e viria aquele momento Sporting em que esses minutos cheiram a golo. E cheirou. Tanto, que cheirou mal, quando Bryan Ruiz saca um pontapé de ressaca, Oblack defende e Montero, na pequena área, atira por cima com a baliza aberta. Tudo de mãos na cabeça, tudo a lançar impropérios, tudo com a noite estragada quando a noite ainda era uma criança.

Estás a gozar, ó Cherba? Antes estivesse, antes estivesse… porque resolvi ouvir o que o mister tinha para dizer e levei com um «Fomos uma equipa com qualidade de jogo, ideias, com consciência plena, com bola, do que tem de fazer.». Só se o que temos que fazer é mandar charutadas para a cabeça do Dost, ó Jorge! Uma jogada, caralho, uma jogada de transição em 90 minutos! E estava eu a andar feito parvo para trás e para a frente no corredor cá de casa, quando o telefone toca. Não o meu, mas o da CMTV, com o meu presidente, Bruno de Carvalho, a entrar em directo para tentar justificar de forma ridícula um post onde resolveu rasgar alguns jogadores de alto a baixo, dando mais uma lição de como não comunicar e daquilo que um líder deve fazer nestas situações (uma coisa é uma rabecada colectiva, outra é um descontrolo completo e um apontar de dedo individualizado em público). Pior, dizendo-nos que, afinal, depois de ter-nos pedido para não ver estes programas de paineleiros, ele passa o serão a vê-los…

Depois de tudo isto, quando me fui deitar, sentia-me aquele puto do teledisco dos Metallica, a ver sombras, fantasmas e papões e tudo o mais que o escuro nos convida a imaginar nesta noite de terror onde o reino do Leão foi teleportado para uma never-never land…

Somethings wrong, shut the light, Heavy thoughts tonight, And they aren’t of Snow White…