Estive pouco tempo no Conselho Leonino, mas o suficiente para perceber algumas coisas sobre a relação entre o Presidente do Conselho Directivo e o Presidente da Mesa da Assembleia Geral do Sporting Clube de Portugal. Ou seja, entre Bruno de Carvalho e Jaime Marta Soares.

O momento que infelizmente atravessa o Clube do meu coração leva à necessidade de uma reflexão profunda sobre estas questões e ao esclarecimento de algumas situações a bem da verdade e da transparência. Num altura em que a família sportinguista se revela profundamente dividida, seria bom que todos nos guiássemos pela razão e não pela emoção.

Numa nota prévia, importa esclarecer o seguinte: o Presidente da Mesa da Assembleia Geral (MAG) é, por inerência, Presidente do Conselho Leonino (CL). Ou seja, Jaime Marta Soares é o actual Presidente dos dois Órgãos. Ao invés, o Presidente do Conselho Directivo tem assento no Conselho Leonino, tal como os restantes membros dos outros Órgãos Sociais, mas não tem por exemplo poder de voto. Poder de voto no Conselho Leonino têm os 50 membros eleitos e são eles que deliberam sobre os assuntos aí discutidos e levados a votação. Isto é importante para se perceber o que contarei mais à frente. Ora, desde a primeira reunião deste Conselho Leonino (requerida pelos 11 membros eleitos pela Lista C, a lista independente encabeçada pelo Gonçalo Nascimento Rodrigues e pela qual fui eleito), que ficou claro quem realmente comandava os trabalhos daquele Órgão Social. E não era Marta Soares.

Bruno de Carvalho, como qualquer outro membro deste Órgão, deveria sentar-se na plateia do Auditório Joaquim Agostinho onde se realizam as reuniões do CL. Mas não. Em todas as reuniões em que esteve presente, sentava-se na Mesa do Conselho Leonino, no palanque, como se de um Membro dessa Mesa se tratasse, num claro abuso de poder e em total desrespeito não só pelos Membros dessa Mesa como dos restantes Conselheiros Leoninos, a quem nunca teve, sequer, a cortesia de perguntar se alguém se opunha.

E isto, podendo parecer um pormenor sem importância, fazia toda a diferença na forma como os trabalhos se desenrolavam. Porque não tenhamos a menor ilusão: Bruno de Carvalho manipula, exerce influência, intimida, grita, mente e vence pelo cansaço e pela sua retórica quem de si discorda ou ousa fazer-lhe frente.

O comportamento e as intervenções dos outros Conselheiro Leoninos, principalmente os eleitos pela sua Lista (aqueles que apareciam nas reuniões), eram sempre claramente condicionados pela presença do Presidente do Conselho Directivo (CD). Tal como era o do Presidente do CL, que relembro, é o Presidente da MAG, Jaime Marta Soares. Este tinha, relativamente a Bruno de Carvalho, um comportamento demasiado permissivo, muitas vezes em atropelo pelos Regulamentos e Estatutos. Autorizava, permitia, fechava os olhos, condescendia, não negava, não se impunha, dava o dito por não dito, voltava atrás e não se impunha perante o presidente do CD, quando tinha tudo (e até o dever) para o fazer.

Sobre a forma de actuação típica de Bruno de Carvalho deixo aqui um claro exemplo: O Programa Eleitoral da Lista C passava claramente pela reformulação do Conselho Leonino e para isso apresentámos várias medidas. Medidas essas que fizemos questão de apresentar e colocar a votação logo na primeira reunião do CL. Por questões meramente formais não deixaram que essas propostas fossem sequer votadas. E ainda fomos acusados de tentativas de “golpe de Estado” e outros epítetos. Voltámos noutra reunião a apresentar as mesmas propostas, de organização interna do CL, seguindo desta vez os necessários formalismos. Mas nessa reunião foi-nos pedido para retirar essas propostas e o presidente do CD quis falar connosco aparte, dizendo que iria ele apresentar uma proposta no mesmo sentido mas feita à maneira dele e na forma como ele entendia que lhe podia ser mais útil.

Acedemos e retirámos as propostas, para servir os interesses do Sporting e do seu presidente. Poucas semanas depois, fomos surpreendidos pelo anúncio de uma Assembleia Geral Extraordinária onde se iria discutir, entre outras coisas, uma alteração estatutária que abolia o Conselho Leonino enquanto Órgão Social do Clube. E aqui se deu o primeiro passo rumo ao precipício.

Essa AGE, de má memória, acabou de forma caótica, na sequência de uma condução dos trabalhos absolutamente desastrosa e incompetente por parte de Marta Soares que não conseguiu, uma vez mais, impor-se no seu papel e abrindo um fosso na relação com Bruno de Carvalho, o CD e até membros da sua MAG. A partir daí, foi sempre a piorar.

Na AGE que se seguiu, semanas depois, Bruno de Carvalho não só aprovou as alterações estatutárias (parece-me que a grande maioria dos sócios ainda nem percebeu bem as consequências de daí advirão…), como saiu reforçado, com quase 90% dos votos a favor da sua continuidade. Isto é importante para se perceber que a guerra a que hoje se assiste entre Bruno de Carvalho e Marta Soares, entre o CD e a MAG, é apenas o culminar de uma série de situações e o reflexo de uma dinâmica de poder que de repente se viu ameaçada.

É que é na sequência dos eventos que se sucederam à eliminatória com o Atl. Madrid que pela primeira vez o Presidente da MAG começa a manifestar alguma intenção de fazer valer o seu poder enquanto figura número do 1 do Clube e a querer fazer frente a Bruno de Carvalho. Este não gostou e começou a espiral que infelizmente conhecemos.

Que não restem dúvidas: o Presidente da MAG é a figura principal do Clube e Bruno de Carvalho e o CD não têm poder para o destituir, retirar poder, impedir acesso a instalações ou seja lá o que for. Tal como não têm poder nem legitimidade nenhuma para instituir uma treta qualquer provisória que assume os direitos e deveres da MAG e convoca AGs. Isso não existe, não tem qualquer fundamento e não está de forma alguma previsto nos Regulamentos ou Estatutos do Sporting Clube de Portugal. São os sócios do Sporting Clube de Portugal que votam e escolhem os seus representantes nos Órgãos Sociais do Clube. Qualquer votação ou decisão que seja tomada nessas AGs são irregulares e serão nulas.

É fundamental que se perceba o que aqui está em jogo e é fundamental que os sócios tenham conhecimento daquilo que se está a passar. Consta numa dessas “convocatórias” uma (mais uma) suposta alteração estatutária que põe de vez o Sporting Clube de Portugal nas mãos e sujeito às vontades do Presidente do CD. E isso não é admissível no Sporting Clube de Portugal, nem com este Presidente nem com nenhum outro!

Os graves e infelizes acontecimentos das últimas semanas com a equipa de futebol profissional e as notícias que têm saído na comunicação social envergonham-nos a todos. Envergonham-nos e envergonham o nosso Clube. Isto não é o Sporting Clube de Portugal. Mas saibamos neste momento perceber o que é essencial. Isto não é um Bruno de Carvalho vs Marta Soares. Ou CD vs MAG. Ou Direcção vs Jogadores. Ou Direcção vs Treinador. Nem Jogadores vs Adeptos. Nem sequer importa saber de que lado está a razão.

Qual razão? No meio de tanta trapalhada, de todos os lados, todos terão a sua razão e todos estarão longe de a ter.

A única coisa que aqui importa é a defesa dos superiores interesses do Sporting Clube de Portugal. Eu compreendo aqueles que atacam Bruno de Carvalho, como compreendo os que o defendem. Compreendo os que defendem os jogadores que rescindiram como compreendo quem os acusa de traição. Há razões de ambos os lados, há mesmo. E é tudo demasiado complexo e nada é preto
ou branco. Mas o que é claro como tudo, e creio que nisso todos estamos de acordo, é que isto não é o Sporting Clube de Portugal e isto não pode continuar.

Esta guerra interna a que assistimos no nosso Clube divide-nos e desvia-nos de questões mais importantes e desvia a atenção da Com. Social de questões mais importante que envolvem outros clubes. Estamos a destruir o duro trabalho que foi feito nos últimos 5 anos. E antes que isso seja irreversível, Bruno de Carvalho tem de sair, ou arrisca-se a ser o presidente que acabou com o Sporting em vez de ser o Presidente que salvou o Sporting.

Que venham as providências cautelares, as impugnações, venham os tribunais, venha quem vier e o que tiver de vir. Mas que venham rápida e decididamente. Estes Órgãos Sociais não têm condições para continuar e nem sequer para se recandidatar. Que venham as eleições, rápida e decididamente.

Que se abra uma nova página na história do nosso grande Clube, e não tenham medo nem dúvidas, as caras e os nomes irão aparecer. Temos de deixar de viver no medo. O Sporting é muito Grande. E nunca, mas nunca, vai acabar. E que daqui por uns tempos possamos olhar para trás e dizer “Bruno de Carvalho foi um grande Presidente e salvou o nosso Clube”. Seria muito bom sinal. Por todas as razões.

AG-rocha

ESTE POST É DA AUTORIA DE… Luis Miguel
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