Pode não ser o prato de digestão mais rápida e suave para os dias de calor que se prometem, mas é sem dúvida a melhor forma de misturar os aromas todos que rondam o olfato por esta altura.

Entrecosto
É hoje notícia d’O Jogo que todos os ex-CD’s serão suspensos por um ano. Estará por horas a confirmação ou não de um furo jornalístico tão absurdo, como fácil de detectar a origem. Verdade ou não, entendemos todos a lógica da CG /MAG de retirar toda a margem de risco de vitória a candidatos que eles próprios fizeram questão de afrontar, derrotar e reverter decisões. Mas, mais uma vez, foi colocado um interesse particular à frente do interesse do Sporting.

Como é óbvio a sombra de um BdC (talvez não tanto de Carlos Vieira) pairará sobre qualquer da lista vencedora, um vulto pesado que podendo abrigar-se debaixo do manto da perseguição e ilegalidade das decisões disciplinares terá uma força e uma postura que era completamente evitável. Não vejo nenhuma razão para que os ex-dirigentes sejam impedidos de ir a votos e muito menos acho a suspensão um acto razoável. Não seguiram à letra os regulamentos? Não cumpriram os estatutos à risca? Porventura podemos acusar todas as direções e todos os dirigentes do passado do Sporting de terem feito o mesmo e até o PMAG e derivantes comissões talvez tenham atropelado também alguma coisa no caminho.

Escolhendo legalidades minuciosas para alterar o curso do Sporting é não respeitar também o poder decisório dos sócios, o que depois de uma AG de destituição tão desequilibrada na votação é no mínimo um zelo excessivo e uma opção que nos arrastará para mais umas semanas ou meses de providências cautelares e outras contendas jurídicas. O próprio acto eleitoral fica imediatamente manchado, pois grande percentagem de votos ficará sem representação, votos que continuarão a servir de gasolina para impugnar as próprias eleições.

Sejamos claros, no período pré-AG de dia 23 de junho todos usaram de todos os meios e estratégias e tanto a MAG como o CD fizeram a sua interpretação dos estatutos. Todos cometeram “liberdades” jurídicas seguindo as leituras que mais lhes convinham. As providências cautelares da MAG tiveram mais colhimento nos tribunais e de certa forma saíram vencedoras. Atingiram os seus objectivos. A AG de Destituição teve mesmo lugar. Fazer estender esse “mandato” para impedir os rivais de irem a eleições é fazer a interpretação de quem quis a destituição de BdC quis também a sua não ida às urnas e suspensão de sócio. Parece-me perigoso e excessiva a leitura e veremos as consequências da mesma.

Picanha
Poiares Maduro, Rodrigo Roquette, Jaime Mourão Ferreira, Nuno Martins, Philipe Mendonça e Samuel Almeida fizeram a comunicação de um manifesto peculiar. Entre algumas opiniões úteis e válidas sugeriram a convergência de listas, o adiamento das eleições e a constituição de um Conselho Estratégico. Quanto à convergência entre listas candidatas às eleições, parece-me algo que terá de acontecer de forma natural e caso alguma se consiga ou queira rever numa congénere e é completamente questionável se favorece ou não quer o decurso da campanha, quer o resultado eleitoral. A expressão “saco de gatos” ainda me está fresca na memória.

Sobre o adiamento do acto eleitoral, parece-me absurdo. Sobretudo porque uma CG não é um cenário desejável. É até o menos desejável. Governar é um acto que requer responsabilização pelas decisões tomadas, uma CG dificilmente terá esse contra-peso e não terá também a preocupação da gestão a longo prazo, adiar o término do seu mandato por inabilidade da Comissão de Fiscalização em processar castigos disciplinares é reparar um erro, com outro erro com consequências ainda mais nefastas.

Sobre o tal Conselho Estratégico, tenho a dizer que desconfio se a tal “estratégia” convém mais a um clube a abarrotar de conselheiros que não servem para nada ou a um grupo de sumidades que quer estar por dentro da vida e das decisões do clube, sem a chatice de ter de ir a eleições ou abandonar as suas atividades profissionais. Quid pro quo, caros Maduros. Quid pro quo.

Entremeada
As listas prosseguem as suas campanhas, ou melhor, as suas pré-campanhas. E, na minha opinião, prossegue também um longo calvário de fraca capacidade de apresentar uma ideia de Sporting original e definida. A falta de tempo útil dedicado ao desenho do clube que se quer construir ou projectar é mais que evidente. A preocupação continua a ser debitar frases sonantes, estabelecer um perfil mediático, apresentar nomes que tragam familiaridade com as listas. Muitos argumentam que o debate sobre as ideias-chave só se iniciará assim que as listas sejam confirmadas. Eu tenho quase a certeza que se esperamos por essa realidade, muitas das perguntas e das dúvidas continuarão por esclarecer.

A totalidade das listas continua a marcar o debate por uma profunda convicção de que os sócios do Sporting não têm capacidade para articular entendimentos complexos, compreender modelos estratégicos e raciocinar sobre opções financeiras ou políticas. E assim vamos, de chavão em chavão, de ex-jogador em ex-qualquer coisa, de promessa de títulos em promessa de títulos. Desanima-me tanto o que nos dão para podermos optar, como a desconfiança que os seus projectos também não tenham muito mais profundidade do que aparentam. Alegorias fáceis como dizer que se quer um clube à imagem do Bayern de Munique, apenas porque na base estarão dirigentes com experiência de atletas é risível, embora tenha que dizer que ao menos os autores desta imagem tenham sido os únicos que propõem uma visão global de gestão, por mais mal exemplificada que tenha sido. As outras listas, nem a esse ponto conseguiram chegar.

A fórmula de definir medidas a pulso e espetar tudo num PDF por capítulos, encabeçar o documento com um Mission Statement e terminá-lo com outro é regressar aos anos 90, chamar àquilo programa da candidatura é um insulto a uma visão de futuro global do Sporting e exibe-se com abundância a despreocupação com o fundamental na própria candidatura: Porque se candidatam? Para onde nos propõem levar? Como o vão fazer?

Salsichas
Paralelamente às eleições, o Sporting está prestes a iniciar várias épocas desportivas. Se a base de arranque nas várias modalidades de alta competição era boa, a auto-suficiência dos departamentos fez o que pôde para melhorar os plantéis e equipas técnicas. No futebol, outros galos cantam. O futebol não herdou equipa técnica e herdou sim um caos desportivo, refletido num plantel totalmente retalhado e cheio de decisões para tomar.

Não vou ser hipócrita, a recuperação dos passes de Dost, Bruno Fernandes e Battaglia é uma excelente notícia em termos desportivos. Não vou ser ingénuo, tal concretização vai porém ter custos financeiros e rezo aos deuses do futebol para que seja mais fácil de justificar no futuro com bons resultados e valorização dos atletas.

Ainda assim, o plantel parece estar a demorar demais a ser definido. A administração provisória da SAD revela-se pouco incisiva e negócios como Badejl exibem muita (demasiada?) especulação na hora de tomar decisões rápidas e firmes. Desde que começou a trabalhar, Sousa Cintra e restante equipa, dedicaram-se exclusivamente a dois dossiers: a recuperação dos jogadores que rescindiram e a constituição do plantel para a equipa principal de futebol. Num deles o trabalho é medianamente meritório (só poderei aferir do brilhantismo propagado quando olhar à evolução dos custos que as negociações tiveram), no outro dossier confesso-me bastante preocupado. Em mais de um mês, apenas Nani foi contratado e mesmo esse, sabe-se que era um processo bastante adiantado antes mesmo da AG de dia 23 de Junho.

Admito que não seja fácil, admito até que esteja a ser tentado com afinco e total dedicação a construção de um plantel competitivo para a época 18/19, mas convém que a boa vontade seja substituída por mais assertividade e sobretudo mais convicção. A sensação que dá é que há poucos processos em curso e demasiada ponderação na decisão dos mesmos. Entramos em Agosto, a poucos dias da competição a sério e para quem prometeu uma equipa candidata ao título, há demasiadas incertezas e demasiada calma em geri-las de forma estarmos prontos, em Moreira de Cónegos para mostrar o nosso melhor Sporting.

Frango
Parabéns aos sub19 portugueses. Foi um título meritório e mais um passo de um conjunto de jogadores que tem, caso os clubes que detêm os seus passes os ajudem, grande futuro quer individualmente quer coletivamente. Parabéns reforçados aos nossos três atletas que fizeram parte desta conquista. Elves Baldé, Thierry Correia e Miguel Luís. Três atletas que o Sporting deve cuidar e gerir com especial atenção, muito mais até do que está a ser dada a Rafael Leão. E aqui, mais uma vez, um sério aviso à navegação da nossa Academia. Esta foi a Selecção Nacional vencedora de uma competição em escalão de formação menos participada por atletas do Sporting. E não é um acaso ou uma coincidência. É uma tendência. Explica-se de duas formas:

1/ O trabalho de influência, sobretudo do Benfica, sobre a escolha das convocatória dos vários seleccionadores é algo que é hoje impossível de ser desconsiderado. E mais não vou dizer, quem lá anda, sabe o que a “casa gasta”. Olho para Mesaque Dju e depois para Elves Baldé e faço um face palm do tamanho das inconsistências de Hélio Sousa.

2/ Hoje em dia quer o Olival, quer o Seixal produzem jogadores tão bons ou melhores que Alcochete. Produzem até em maior quantidade. Isso deve-se a dois factores também: maior investimento em toda a estrutura de formação dos rivais e enorme estagnação e conformismo da nosso próprio modelo formativo e de quem o implementa.

A obsessão por títulos da equipa principal deixou a Academia entregue a uma visão parada no tempo. O tempo passou e a Academia entrou, logicamente em declínio, sem liderança, sem estratégia, sem investimento, sem alma. Os resultados estão à vista e não me parece que alguma das candidaturas tenha ainda entendido a importância que o debate de soluções para este reduto, altamente identitário do Sporting, merecia nestas eleições.

*às quartas, o Zero Seis passa-se da marmita e vira do avesso a cozinha da Tasca