“Acho que ele pode jogar em duas posições. Logo atrás do avançado ou mais recuado, depois da defesa. As duas posições são boas para ele”. As palavras são de Marcel Keizer, o terceiro treinador de Wendel no Sporting e o único que nos explicou afinal qual era o seu plano para a jovem promessa brasileira.

Wendel treina bem, segundo o nosso holandês, mostra compromisso e por isso está a jogar. No campo, surge confiante, disponível, parece ter percebido perfeitamente aquilo que o treinador pretende e qual a sua relação com Bruno Fernandes ao longo dos 90 minutos de jogo. O resultado são 4 assistências e um golo em apenas duas partidas (pese embora os adversários de menor peso).

Afinal, Wendel não era preguiçoso nem lidava mal com a autoridade. Afinal, não precisava de uma adaptação ao futebol europeu sentado no banco ou longe dos convocados. Afinal, Wendel é um bom jogador que, tal como todos os outros, apenas precisava de um treinador que lhe desse confiança e muitos minutos em campo.

Como jovem de 21 anos, ainda no seu período de afirmação e longe de ser um absoluto indispensável no Sporting, o jovem médio brasileiro terá momentos de excelente forma mas também desconcentrações, desacertos e baixas de rendimento. Tudo isso faz parte do risco quando se decide comprar um jogador acabado de sair da adolescência e que foi destaque apenas no longínquo campeonato brasileiro. Mas a forma como todo o seu processo foi gerido (claramente não foi escolha do treinador anterior e claramente não contava para Peseiro), as ausências de convocatória após convocatória e a falta de explicação sobre quais os reais planos para um jogador com tanta margem de progressão fizeram-me temer que já o tínhamos perdido. E não me admiraria se tivesse pedido para sair, a fim de ter minutos de jogo e continuar a evoluir na sua ainda curta carreira, certamente mais do que parado entre Alcochete e o banco de suplentes.

Para já, sabemos que Wendel tem talento. Sabe o que fazer com e sem bola (ainda que tenha de subir os níveis de agressividade), tem capacidade de passe e visão de jogo. E depois tem a alegria e a disponibilidade (nem sempre no momento certo) de um jovem de 21 anos que ainda se está a impor. Traz consigo a imprevisibilidade do jogador que é. E são esses jogadores que oferecem algo de novo ao jogo, que mudam um resultado em segundos apenas e que precisam de crescer numa equipa estável e que pratique bom futebol.

Se o seu entendimento com Bruno Fernandes continuar a verificar-se, têm tudo para beneficiar os dois desta nossa nova forma de jogar, compensando-se um ao outro e dando-se mais liberdade para criar.

Para já, é com todo o prazer que verificamos esta sua nova fase de afirmação e com alegria que constatamos que existe muita qualidade e juventude disponível para trabalhar. Assumindo este modelo, o Sporting tem boas soluções a precisarem de ser moldadas por um treinador experiente (casos de Miguel ou Bragança) e um menino perdido na Alemanha que adoraria poder fazer parte deste novo ar que se respira em Alvalade.

*às quintas, a Maria Ribeiro mostra que há petiscos que ficam mais apurados quando preparados por uma Leoa