Quando tudo parecia indicar que iria cair no precipício, o Leão fincou as quatro patas no chão e rugiu. Do treinador aos jogadores, todos pareceram regressar à vida e a pergunta que fica é: terá sido pontual ou terá vindo para ficar?

Breathe in, breathe out, breathe in, breathe out, Breathe in
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A música não me saía da cabeça há dois dias. Estado de espírito. Memórias com mais de 20 anos. Viagem a 1997, ano em que José Roquete dizia entender-se com Octávio Machado por intermédio de sinais de fumo, em que Beto, Marco Aurélio, Oceano e Yordanov tentavam segurar uma equipa de Gimenez e Ivos Damas. Em que uns tipos chamados Bush vinham a Portugal, trazendo na bagagem comparações com os Nirvana e um álbum como jamais conseguiriam voltar a fazer.

Breathe in, breathe out, breathe in, breathe out, Breathe in
Breathe in, breathe out, breathe in, breathe out, Breathe in

Um dos melhores inícios de canção de sempre. Guitarras em arranque épico, convidando-te a seres o que quiseres ser, desafiando-te a resistir, obrigando-te a entrares no turbilhão e te recusares a não sair de lá vencedor. Um Coliseu dos Recreios à pinha, um José Alvalade com tantos lugares por preencher. Descrença? Revolta? Medo da chuva? Estamos quem estamos e quem cá está que afine as gargantas, na esperança de quem lá está em baixo nos faça continuar a cantar quando a voz faltar.

Breathe in, breathe out, breathe in, breathe out, Breathe in
Breathe in, breathe out, breathe in, breathe out, Breathe in

Um início diferente. Em tudo. Desde logo por termos a bola para nós, por estarmos concentrados, por parecermos perceber que o jogo começa quando começa. Depois, porque Marcel Keizer voltou a pôr em sentido quando já nele havia perdido a esperança, comendo de cebolada um adversário que defrontou há bem pouco tempo, deixando Abel completamente atarantado no banco sem saber o que fazer aquela espécie de 3-4-3 que o Sporting apresentava quando tinha a bola. Coates era completamente patrão, ao centro da defesa, com Borja a jogar mais pode dentro e a convidar Ilori a abrir à direita. Acuña e Ristovsky embalavam pela alas, Gudelj lá andava pelo meio, desta vez com Wendel a dizer-lhe “não te preocupes com essa coisa de sair a jogar com bola que eu estou aqui”, enquanto Bruno Fernandes tinha mais liberdade e Dost tinha ordens para arrastar a defesa e permitir as correrias loucas de Dyabi nos espaços que se abriam.

Breathe in, breathe out, breathe in, breathe out, Breathe in
Breathe in, breathe out, breathe in, breathe out, Breathe in

E depressa o Braga foi metido no bolso. Ameaçou o 28, ameaçou o 8 e ameaçou o 37, tudo isto entre os 15 e os 20 minutos de jogo, até que aos 33 Bruno Fernandes disse 1,2,3 toma lá outra vez e sacou o terceiro livre directo consecutivo para fazer Alvalade explodir de alegria ao ver a equipa materializar os quase 70% de posse de bola.

Abel tentou inventar qualquer coisa para fazer frente à equipa cujo nome tenta não pronunciar, mas depressa se voltou a sentar no banco: arrancada de Diaby, só parado em falta dentro da área, mesmo a pedir a marcação de uma grande penalidade que Dost transformaria no 2-0. E já depois do trauliteiro Raul Silva ter começado a agredir jogadores do Sporting e do camisola 28 voltar a cheirar o golo, chegaria o 3-0, novamente com a assinatura do trovão holandês que festejou como se se tivesse lembrado daquela loura de olhos verdes no concerto, ele vestido à surfista, ela com pinta de skater, unidos por um moche que sabe o que faz.

Resta saber se Keizer e seu Sporting continuarão a saber o que fazer. E se este pequeno moche futebolístico nos oferecerá uma tour ou se se resumirá a um granda concerto.

Tied to a wheel fingers got to feel
Bleeding through a tar-decay smile
I spin on a whim, I slide to the right
I felt you like electric light
For our love, for our fear
For our rise against the years and years and years