Acabo de chegar. Saio da estação de comboios em passo lento e imediatamente uma brisa fresca me vem cumprimentar. Olho em volta e não reconheço nada. É normal. Estou pela primeira vez em Monza.
À primeira vista parece uma cidade agradável e bonita. Nota-se que aqui há qualidade de vida pela quantidade de famílias que se passeiam a uma quarta-feira à tarde. Como estou com algum tempo, começo a caminhar e mergulho pelas ruas.
Tantos miúdos no parque! Isto, afinal, é maior do que eu pensava. Não se compara à vizinha cidade de Milão, nem tem apenas um autódromo de fórmula 1. Monza é uma lufada de serenidade italiana.
Sinto-me observado. Começo a receber sorrisos e piscar de olhos. Fico meio confuso porque não sou bonito e é incomum ser abordado na rua. Claro, claro, claro! Por instantes, tinha-me esquecido que trazia a camisola do Sporting vestida. Quando o fazemos perdemos quase toda a identidade pessoal e renascemos numa identidade coletiva. Sou, agora, um adepto do Sporting Clube de Portugal que está em Monza para assistir às meias finais da Taça Challenge. Os locais conhecem-me e sabem ao que venho.
Olha as horas! Vamos lá despachar que o jogo não espera. Perdi-me em passeios e conversas, a consequência é dar uma corrida até ao pavilhão.
Chego ao pavilhão pelas 18h30 e ainda faltam 2 horas para o jogo. Estou na Candy Arena bem no horário que queria. A caminho do jogo desconfiei que a simpatia que senti na minha chegada se fosse atenuando. Curiosamente, os sorrisos continuaram uma contante.
“Benvenuto e vinci il meglio”. Gente estranha, esta. Deviam odiar-me!
Procuro a minha porta rapidamente porque estou com muita vontade de ver este grande jogo de voleibol. Sigo em direção à bancada e ouço já um barulho familiar. O som da bola a bater, no contacto com a mão. Para um amante de voleibol, aquilo é quase uma melodia de Beethoven. Apesar de ainda não estar a ver nada, a cada “pmm”, a adrenalina sobe. “Pmm”, “Pmm”, “Pmm”. As minhas mãos estão a suar. “Pmm”, “pmm”, “pmm”. Sento-me, então, no meu lugar e assisto ao resto do aquecimento.
Este primeiro set foi duro e disputado. Grande momento de voleibol. Perdemos, é certo, contudo vendemos cara a derrota. O reforço Bojic com 5 pontos e o Wallace com 6 pontos foram os nossos destaques no set. Saímos derrotados, contudo percebeu-se que não melhores que nós. Temos jogo!
Começou o 2o set e acabou o 2o set. Afinal podem ser bem melhores que nós. Que raio se passou aqui?! Fizemos uns miseráveis 12 pontos e, agora o pavilhão está de pé, eufórico. Percorre-me pela cabeça o 3-0, num pensamento derrotista. Aponto os olhos para a equipa e o comportamento deles é o oposto ao meu. Aprendo instantaneamente a lição, levanto-me e aplaudo-os. Continuamos juntos, malta! O professor Hugo Silva coloca 2 jogadores a aquecer mais intensamente. Vai mexer. Apesar de estar longe, reparo no Denis e no Marshall. Vem aí a armada cubana!
O equilíbrio do 1o set voltou. Fico descansado por perceber. O problema é que no voleibol, um jogo equilibrado é sinónimo de nervos e ansiedade. Sa f***, estamos para ganhar, custe o que custar. E pronto, vencemos o set e entrámos no jogo. O Denis jogou muito bem com os seus 6 pontos e mostrou que se sente como peixe na água nestas terras italianas. Viveu quase toda a sua vida por cá.
Tu queres ver?! 2-2 é o resultado. Os 7 pontos do Marshall rebentaram com o Vero Volley Monza e empatamos o jogo. Estes pontos foram importantes, mas é impossível abstrair-me da força que a equipa está a demonstrar, como um coletivo, desde o 2º set. O Hélio e o Brown implacáveis no centro da rede, o João Simões está imperturbável na receção e no ataque, o Hérnan está confiante e seguro no passe e os líberos estão estrondosos. Para além do Hugo Ribeiro e do João Fidalgo estarem a jogar muito bem, estão a vibrar efusivamente com cada ponto. Estes dois são o segredo.
Espreito o Twitter para sentir como estão os nossos a vibrar por Portugal. Reparo nas centenas de Tweets que foram publicados. Está toda a gente colada nos sites de apostas a vibrar cegamente porque o jogo não foi transmitido na televisão. Escrevo por lá aquilo que todos no voleibol já sabem. Quem perde os dois primeiros sets e depois empata o jogo, vencendo os seguintes 2 sets, normalmente vence o jogo.
ACONTECEU! VENCEMOS EM ITÁLIA! GANHAMOS! GANHAMOS! GANHAMOS! Começo a cantar sozinho. “E cada vez eu gosto mais, la la la la, SPORTING GOSTO TANTO, SPORTING GOSTO TANTO, SPORTING GOSTO TANTOO”. É tempo de festejar, é tempo de vibrar.
De repente tocam-me no ombro, abraço essa pessoa pensando que era mais um leão em festa. Não era. Um senhor italiano, afasta-me cuidadosamente e diz-me:
“Calmati, ragazzo. Vinceremo in Portogallo”.
Sorrio-lhe e durante 2 segundos dou-lhe razão quando fala em calma. Não ganhamos nada, foi apenas um jogo? Ele estava enganado. A história já estava a ser escrita e as vitórias devem ser festejadas. Não é o meu modelo de vida, mas quando falamos do Sporting será sempre melhor dizer CARPE DIEM. Nunca se sabe o amanhã. Que grande vitória por 3-2 (26-24; 25-12; 25-22; 25-22; 15-8).
Despeço-me da nossa equipa, olho para o adversário e deixo um aplauso respeitoso aos dois craques da equipa. O checo Donovan Dzavoronok que fez 22 pontos e o oposto iraniano Amir Ghafour que pontuou por 19 vezes. Serão certamente uma dor de cabeça em Portugal.
Sigo ligeiro para o centro da cidade. Volto para a estação, depois aeroporto e entro no avião. Não demoro 5 minutos a adormecer. Foi um dia em cheio. Acordo passado muito pouco tempo e olho em volta. Estou no meu sofá, em minha casa, no Porto e em Portugal. Nunca daqui saí. Não fui a Itália, não estive em Monza e não vi o jogo, mas vibrei, entusiasmei-me, enervei-me, empolguei-me e senti uma felicidade imensa. Cantei, bati palmas, levantei-me a festejar e até disse uma palavras em italiano. Sorrio e recordo-me de Mark Twain quando disse: “Never let the truth get in the way of a good story” (nunca deixes a verdade atrapalhar uma boa história”.
Adormeço novamente. Feliz. Porque ganhámos. Estranhamente volto a acordar pouquíssimo tempo depois, já sem sono e vestido a rigor. Também já não estou no meu sofá, nem em casa, nem no Porto, mas continuo em Portugal, parece-me.
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Acabo de chegar. Saio da estação de metro em passo lento e imediatamente uma brisa fresca me vem cumprimentar. Olho em volta e não reconheço nada. É normal. Estou pela primeira vez no Pavilhão João Rocha.
*às terças, o Adrien S. puxa a bola bem alto e prega-lhe uma sapatada para ponto directo (ou, se preferires, é a crónica semanal sobre o nosso Voleibol)
6 Março, 2019 at 17:52
Marshall, não te desconcentres com o TO.
6 Março, 2019 at 17:52
Bom serviço, mas perdemos o ponto.
15-14
6 Março, 2019 at 17:52
15-15
6 Março, 2019 at 17:53
16-15
6 Março, 2019 at 17:54
Arranjei uma password.
Grande ambiente, muita vontade de lá estar.
Angelo Girão a assistir.
Quem me dera lá estar
6 Março, 2019 at 17:54
17-15
6 Março, 2019 at 17:54
17-16
6 Março, 2019 at 17:55
Foda-se
6 Março, 2019 at 17:55
17-17
6 Março, 2019 at 17:56
18-17, Denis
6 Março, 2019 at 17:56
Boi do apito!!!
Até no volei é gamar!
6 Março, 2019 at 17:57
Fiscal dá bola dentro mas o boi dá ponto ao Monza…
18-18
6 Março, 2019 at 17:57
18-19
6 Março, 2019 at 17:57
TO Sporting.
6 Março, 2019 at 17:58
Também Francisco Geraldes na bancada
6 Março, 2019 at 17:58
Francisco Geraldes na bancada.
6 Março, 2019 at 17:59
19-19
6 Março, 2019 at 18:00
19-20.
6 Março, 2019 at 18:00
Publico do PJR a empurrar a equipa e a pressionar os italianos
6 Março, 2019 at 18:01
Epá, vençam lá este set… vá lá…
6 Março, 2019 at 18:01
Tem de ser…
6 Março, 2019 at 18:01
20-20, serviço a pisar a linha.
6 Março, 2019 at 18:02
20-21, que bola…
6 Março, 2019 at 18:02
21-21, Dennis
6 Março, 2019 at 18:02
Vocês conseguem…
6 Março, 2019 at 18:02
21-22
6 Março, 2019 at 18:03
TO Sporting…
6 Março, 2019 at 18:04
Temo que o servicinho do boi tenha sido feito aos 18-18, em vez dos 19-17…
6 Março, 2019 at 18:04
22-22, Dennis
6 Março, 2019 at 18:05
TO Monza, os bancos a jogarem…
6 Março, 2019 at 18:05
Isto está a ficar negro….