Carnaval. A minha terra tem grandes tradições destas festividades, as famosas matrafonas são um símbolo dessa tradição, mas existem outras formas de viver o Carnaval como o escárnio e o mal dizer, alias como diz o povo, é Carnaval não tem que parecer mal.

Eu como Torreense nascido e criado nesta dicotomia, de gente séria e trabalhadora mas que durante três dias é capaz de largar tudo e viver intensamente a folia vou encarnar hoje este espirito. Vou aqui hoje deixar aquilo que nas terras do Oeste se designa como o testamento do bacalhau, que nas aldeias se lia na quarta-feira de cinzas e que descrevia de forma satírica o que se passou no ano anterior. Como esta é uma “Aldeia do Sporting” é sobre ela que vou tentar falar.

Já acabou o Carnaval
Já morreu o entrudo
A quem lhe parecer mal
Entre calado e saia mudo

Neste Sporting grandioso
muita merda se passou
Foi um ano pavoroso
Muita gente desandou

Um treinador cheio de guito
Um presidente desbocado
Um plantel sempre aflito
Para se passar pra outro lado

Este maluquinho anafado
Tinha tudo na palma da mão
Transformou um clube afamado
Num manicómio em auto-gestão.

Os sócios não podem ler
Ver TV ou comprar jornais
Manda quem deve saber
Devem seguir todos os leais

Aquilo são rosas meu senhor?
É queda de estrela cadente?
São tochas lançadas com amor
Por vontade do presidente.

Não pensem que irão voltar
A destruir a minha relva
Diz o homem ao olhar
Aquela festa da selva

Depois de Madrid terem jogado
Criticados sem se perceber
Eis que voltam ao relvado
Prá volta olímpica receber

No mesmo jogo, saberão
O homem sentiu-se aleijado
Foi apelidado de cabrão
Saiu do campo ajudado.

Numa marquesa se deitou
Para poder ser observado
Alguém o fotografou
Publicou em todo o lado

Na luta p’lo segundo lugar
Foi final de época atribulada
Na Madeira tudo a cagar
No Aeroporto quase porrada

Na garagem continuou
A guerra que já havia
Dizem que ali se confirmou
O ataque à Academia

A maior vergonha do mundo
Foi então acontecer
O Sporting bateu no fundo
Só não viu quem não quis ver

A final da taça se jogou
Sem nunca se ter treinado
O que este clube passou
Por todos a ser gozado

Veio depois a debandada
E toca tudo a fugir
A malta pˋlo Sporting formada
Foi a primeira a sair

Veio um bombeiro a seguir
Com o seu ar bonacheirão
Todo o mundo quis demitir
Disse que sim, disse que não.

Uma assembleia de todo o dia
Para destituir o anafado
Há quem jure que a maioria
Saiu no saco do supermercado

Grande clube como nenhum
Esta é a fé que nos move
Tem uma minoria de setenta e um
E uma maioria de vinte e nove.

Entra depois a Comissão
Que ira gerir a pobreza
Faz negócios sem permissão
E sem dinheiro sob a mesa

Cintra grande gestor
Da cerveja e da petinga
Comprou jogadores com fervor
No fim bebeu uma pinga

Dost , Bruno e outro voltou
Diaby, dava mais pra corredor
Sturaro, era cocho e vazou
Gudelj, há quem o chame jogador

Pode parecer mentira de ocasião
Mas neste ano de infernos natos
Voltou a haver eleição
Com uma dezena de candidatos

Num ambiente de verdades
Todos se trataram de mão dada
Até se zangarem as comadres
E começar a peixeirada.

Venceu o médico mau falador
Que foi primeiro a apresentar
Perdeu em numero ao jogador
Mas em votos foi ganhar.

Este clube é tão difícil, que corta
O homem sai da cama, após a eleição
E o que é que vê ao pé da porta
Cinquenta gajos a exigir a demissão

Na Tasca muito afamada
Que tem um dono bacano
Desatou tudo à lambada
Por causa do Coreano

Nesta tasca tudo se diz
Tudo se chama e insulta
Desde manso a meretriz
Até já li filho da puta

Desde junho q’aqui se vende
A mesma Ideia toda a semana
Quem o Varandas defende
É logo apelidado de banana

E quem ao Bruno pertencer
Pode contar contestação
Vê logo escadinha a descer
Nem é preciso muita atenção

O Bloco de notas é uma vergonha
Comentários que nos fazem corar
Diz-se mal até de quem sonha
Poder algum dia vir a jogar

Leva o presidente e o treinador
Leva o defesa e o avançado
O Guarda-redes é um horror
Qualquer médio é desgraçado

Todos são maus, porcarias
Sem emoções nem carinho
Julgo até que nestes dias
Nem escapa o Paulinho

Digam lá meus senhores agora
Se é de sportinguista com emoções
Desejar a derrota em casa e fora
Só para defender as convicções

Não é mentira, a verdade clama
Tal arrepiante sensação
De que vale dizer que se ama
Quando se bate com outra mão

Gostava agora de aqui lembrar
D’algumas personagens reais
Pelo Cherba irei começar
E outros que me lembrar mais

O Cherba com a suas crónicas
Agora com tema musical
Envolve-nos nas harmónicas
Dá-nos o panorama total

Sente-se, vê-se pode-se ler
Tudo isto dá muito trabalho
Muita paciência tem que ter
Pra não mandar todos pro “carvalho”

Mas fosse só pra bem dizer
Nem sequer abria a consola
Este quer vender mas não dá preço
A quem quer comprar a camisola

Maria, com pipis de eleição
Tem no seu nome Ribeiro
Conhece melhor a formação
Com ela, sabemos primeiro

O Álvaro Antunes dos Açores
Tem um faro de canino
Mostra-nos com todas as cores
O Futebol no feminino

O raguebi tem um carinho
De um adepto especial
O seu nome escondidinho
Dedicação sensacional

O Max, jovem que se adivinha
Na Tasca apaziguador natural
Já trazia era uma ginjinha
Ou um abafado do seu quintal.

Na Tasca tenho saudade, já.
Do tempo que lá andava
O Bacalhau do mestre Sá
Em que do Sporting se falava

Sir Robson sabe porquê!
Fala verdade, ou talvez não.
Tem um amigo do PSV
Que é do Ajax de Amsterdão.

Com o seu ícone conhecido
O Miguel é amarelo limão
Responde a todos convencido
Que tem sempre razão

A Maria é esperta e distante
Tudo lê pouco comenta
Quando entra de rompante
Deixa todos de resposta lenta

O Pavel Horváth dentro estava
Antes do outro dar de baixa
Acertava pouco ou quase nada
Agora não dá uma para a caixa

Se na Direção se quer pôr culpa
Entra o grupo da luta armada
O Leónidas, Koki, Up e Xupa
Vai começar a coboiada.

Do outro lado da questão
Pouco tempo têm pra pensar
Riga, Brunovl, a Rute então
Nem lhes dão hipótese de falar

O Sakê, que é do Buçaco
E faz bebidas de feijão
Deve ter caído num buraco
Nunca mais deu opinião

O mesmo se passa com pessoas
Que neste ano deram alta
Que as saúdes estejam boas
Pois que todos fazem falta

De muitos não falei,
a modos, que não é esquecimento normal
É impossível falar de todos
Mesmo quando é pra dizer mal

Este narrador pede perdão
Se alguém estiver a ofender
Mas como a Tasca não é salão
Quem não gostar que se vá foder

Assim termino este testamento
Do bacalhau que já morreu
Pró ano cá virei no momento
Pra contar o que ocorreu.

ESTE POST É DA AUTORIA DE… Leorodri
*às quartas, a cozinha da Tasca abre-se a todos os que a frequentam. Para te candidatares a servir estes Leões, basta estares preparado para as palmas ou para as cuspidelas. E enviares um e-mail com o teu texto para [email protected]