Este fim de semana voltou a a confirmar a eficácia do paradigma de Formação adoptado pelo nosso Futebol Feminino.
Esse paradigma passa por formar, desde as mais jovens idades, as nossas atletas em ambientes competitivos acima dos “normais” para as suas idades e com grau máximo possível de exigência e dificuldade; nesse paradigma de formação, o que se pede às atletas é que se auto-superem permanentemente.

Temos, no nosso Futebol das meninas, raparigas e senhoras, atletas desde os 10 aos 31 anos. A equipa principal foi “formada” fora do Sporting, porque o projecto tem ainda menos de 3 anos. Apesar disso, já conta com algumas atletas que, podemos afirmá-lo, se formaram ou completaram a sua formação já “dentro do projecto”. São os casos de Neuza Besugo e Joana Martins que igressaram no Sporting como juniores (embora com idades sub17), de Bárbara Lopes (que iniciou como senior mas com 15 anos), de Inês Pereira (que iniciou a primeira temporada do projecto com 16 anos e terminou esse ano conquistando simultaneamente dois Campeonatos Nacionais e duas Taças de Portugal – em Juniores e Seniores) ou até mesmo de Ana Capeta (a letal avançada alentejana, iniciou o seu trajecto senior no Sporting com 18 anos).

Mas, se olharmos aos escalões de formação, essa “desfasagem” que determina uma maior exigência competitiva é ainda maior.

A média de idades das sub19 é de 17 anos e a maioria das atletas compete simultaneamente no Campeonato Nacional de Juniores sub19 em Futebol de 9 e no Campeonato Nacional senior da 2ª Divisão em Futebol de 11. A média de idades das sub17 é de 15 anos e algumas das jogadoras ainda têm 13 anos ; disputam o Campeonato Distrital Feminino sub17 em Futebol de 7: a Guarda-Redes Catarina Potra, tem agora 14 anos e já disputou jogos de Seniores, na equipa B, na 2ª Divisão.

Isto acontece porque, não existe na Associação de Futebol de Lisboa competição feminina para os escalões abaixo das sub17. O que acontece com a maioria dos clubes é que não forma com essas idades. Alguns clubes vão integrando jogadoras de 15 e 16 anos nas suas equipas de sub17, mas não têm capacidade logística e financeira para sustentar formação a equipas mais jovens que não vão competir.

Para o projecto do Sporting a Chave é a Formação. E desde logo olhámos para esta incompreensível insuficiência Associativa (e Federativa) não como um “handycup” mas sim como uma oportunidade. A ideia foi logo: vamos começar a recrutar e a formar desde os 9, 10 anos e dar competição a todas, fazendo-as competir em escalões a cima da sua idade, promovendo a constante superação e elevando a exigência de treino e de competição.

As infantis, onde tudo começa, praticamente só passaram pelo Sporting. Inicialmente (no primeiro ano) colocou-se a dificuldade de as mais novitas poderem competir: afinal até tínhamos várias pequenitas entusiasmadas e empenhadas, mas não havia outras equipas de meninas para competir. A solução, nesse ano, passou por, particularmente no último trimestre lectivo, organizar mini-torneios com 2 ou 3 equipas leoninas e mais uma ou duas equipas mistas de outros Clubes. E a progrssiva exigência dos treinos preparou-as para um novo salto no patamar de exigência competitiva nos anos seguintes.

Agora as meninas infantis (entre os 10 eos 12 anos) participam no segundo quadro do Campeonato Distrital Masculino sub13 (juniores D). Isso mesmo: a equipa de meninas com média de idades de 11 anos joga a duas voltas contra outras 12 (11 porque uma desistiu) equipas constiuídas integralmente por rapazes de 12 e 13 anos.

E falei-vos, uma vez mais, desta elevação de fasquia na exigência competitiva (e de treino para a mesma), porque os resultados deste fim de semana, confirmam, ou melhor, reconfirmam a eficácia desse paradigma de Formação.

No sábado, dia 13, às 11h, houve derby, no Estádio Universitário de Lisboa, Campo 6, a contar para a 2.ª Jornada da Fase Apuramento de Campeão Distrital em Juvenis Sub17, Futebol de 7. O resultado foi Sporting CP 2 – 1 SL Benfica e os golos leoninos foram marcados por Andreia Bravo (1 golo, meio-campo, 14 anos) e Cristiana Martins (1 golo, avançada, 14 anos).

Também no sábado à mesma hora disputava-se mais uma Jornada (a 18ª) do Campeonato Distrital JunD2 sub13 masculinos da AFL, na qual as infantis do Sporting se deslocaram ao Campo Fernado Perfeito, da ADCOE, para jogar contra o Olivais e Moscavide. As nossas meninas venceram os rapazes do CDOM por expressivos 6-1. Os golos das leoazinhas foram de autoria de Maisa (2 golos), Lara António, Carmo Duarte, Cíntia e Inês Fonseca (1 golo cada). Com este resultado as meninas da listada verde e branca ocupam a 5ª posição, sendo a única equipa feminina a competir com outras 12 de rapazes (agora 11 porque o Encarnação e Olivais desistiu).

Ainda no sábado, mas pelas 15 horas hove jogo das seniores A. Para a 18.ª jornada da Liga BPI, jogou-se no Estádio Municipal António Augusto Martins Pereira (Albergaria-a-Velha) o Clube Albergaria 0 – 2 Sporting CP. Ambos os golos leoninos foram marcados por Ana Capeta, já na segunda parte do encontro. O Sporting mantém, assim a 2ª posição a 2 pontos da equipa do Braga que foi ao campo do Boavista vencer por 0-8.

Já no Domingo, entrou em acção a equipa do Sporting B, criada este ano para enquadrar melhor a transição de junior sub19 (que jogam futebol de 9) para o patamar competitivo senior (mais intenso e onde se joga futebol de 11). Não se pense, todavia, que esta equipa é formada por atletas com idade senior, que deixaram o escalão junior recentemente, mas que não se conseguem ainda impor para integrar o plantel principal.

alicia

No plantel que integra regularmente a equipa B, apenas 2 jogadoras já têm idade senior (a Rita Barreto com 21 anos e a Diana Bogarim com 20 anos. A média de idade é de 17 anos e, excepção feita das duas atletas já citadas, apenas a Bárbara Lopes (com 17 anos) já integra o plantel de seniores. Todas as outras jogadoras competem simultaneamente, no escalão sénior (Futebol de 11) e no escalão junior sub19 (Futebol de 9); 6 dessas outras 20 jogadoras têm ainda 16 anos e 2 apenas 15 (estas 2 ainda poderiam estar a competir em sub 15).

Muitas semanas, há jogadoras que competem ao sábado e ao domingo nas duas diferentes competições. Só para dar um exemplo (de que já falei na última semana), a Marta Ferreira é totalista nas duas competições e já marcou 21 golos nas juniores e 41 nas seniores: é uma das meninas que ainda tem 16 anos. As 2 jovens mais novas, de 15 anos, também são chamadas recorrentemente às duas competições: chamam-se Alícia Correia e Núria Monteiro, ambas já internacionais sub16, e vão ser também dois nomes a seguir com muita atenção.

Sobre o derby da equipa B com o Benfica A, o resultado foi de 0-3, favorável às lampiãs, que contam no seu plantel com 13 estrangeiras, uma média de idades de 25 anos e um orçamento a rondar 1 M€ quase o dobro do orçamento anual de todo o projecto do Sporting que inclui 5 equipas.

Serve esta resenha para demonstrar que o caminho traçado pelo Sporting no Futebol Feminino é o mais correcto, o mais assertivo e, a prazo, o mais eficaz. Alguns dos que aqui têm sido críticos, escusam-se na “separação” entre Formação e equipa profissional. Ao contrário do que defendem, neste projecto, não existe essa dicotomia. A maior evidência disso é a Equipa B, que podia integrar, (pelo menos nos jogos contra o rival, Benfica A) mais jogadoras não utilizadas na equipa principal, mas não o faz, porque não é esse o objectivo da constituição da equipa B. O objectivo não é usar jogadoras que já estão na realidade profissional, mas antes acelerar as condições de mais e melhores jovens vindas da formação nessa mesma realidade.

Mas o mais sublime e caricato, é poder apreciar os comentários dos mesmos tasqueiros, ao que deve ser o futuro da equipa principal feminina (contratar mais estrangeiras altas e poderosas fisicamente, gastando mais) e qual deve ser o futuro da equipa principal masculina (utilizar como base do plantel jogadores da formação, vender estrangeiros e reduzir custos). Poder-me-ão (e com razão) dizer que as duas realidades são diferentes que o patamar de custos do plantel masculino é demasiado excessívo e que o patamar de custos do plantel feminino é demasiado curto. E que, assim sendo, as suas visões quanto ao futuro das duas equipas não são contraditórias.

A única “contradição” que eu aí vejo é na primazia que se dá, ou não à formação. A contratação das tais jogadoras estrangeiras altas e fortes, até poderia ser feita para substituição dos “lugares” ocupados por estrangeiras qu já fazem parte do plantel. Mas, não se estaria a contrariar o modelo de jogo para o qual estão talhadas a s nossas jogadoras (desde a formação, porque o físico que elas têm é característica morfológica da jogadora portuguesa)?

Volto a dar um exemplo que entendo corresponde ao paradigma da Formação adoptado no nosso Clube. O Slavia de Praga está já entre as 5 melhores equipas europeias e tem um plantel sem estrangeiras e com um média de alturas e pesos igual ao nosso. Não “contrariou” as características morfológicas das suas atletas, não procurou orçamentar equipas acima das suas possibilidades e do seu mercado, apostou na formação local … e deu-se bem. Talvez seja um exemplo a meditar.

* às segundas, o Álvaro Antunes faz-se ao Atlântico e prepara-nos um petisco temperado ao ritmo do nosso futebol feminino