Conforme prometido no último post, a rubrica desta semana (e das próximas) será dedicada ao France 2019.

Após as 2 primeiras jornadas, a impressão sobre a organização só pode ser extremamente positiva. Logo no jogo de abertura, o anterior record de assistências de QUALQUER jogo de Futebol Feminino disputado em França é batido por quase mais 20.000 espectadores (45.261 França-Coreia do Sul versus 25.907 Lyon-PSG). A primeira jornada da fase de Grupos (12 jogos) termina com um total de 210.787 espectadores, o que correspondeu a uma assistência média por jogo de 17.566 espectadores; no fim da segunda ronda da fase de grupos, a média de assistência por jogo já subiu para 18.853 espectadores o que totalizou 452.463 espectadores para os primeiros 24 jogos. É bom lembrar que vários destes jogos envolviam nações de fora da Europa, o que torna estes números ainda mais impressionantes.

Depois, o realce vai para o enorme sucesso financeiro: estamos a falar, por exemplo, de grandes sponsors como VISA, Adidas, Coca-Cola, Wanda, Qatar Airways, Hyundai, KIA que patrocinam a competição e ainda a exclusividade emparelhada da publicidade “estática”, televisiva e de streaming por cada jogo jogo. Outro destaque deve ser dado ao formato que todas as marcas resolveram associar ao seu patrocínio: de desenvolver modelos desportivos, sociais e culturais de atletas e de promover o jogo como uma vertente da afirmação da mulher na sociedade. Esse formato tem conquistado o público que começa a reconhecer as jogadoras dos seus países (e não só: as francesaa Wendie Renard e Amnadine Henry, a canadiana Kadeisha Buchanan, a americana Alex Morgan, a australiana Sam Kerr, a holandesa Shanice Van de Sanden, a veteranas brasileiras Marta e Formiga, para só citar algumas, começam a ultrapassar as barreiras do reconhecimento nacional para passarem a estrelas internacionais). Isso deixa outra “marca” na modalidade: a conquista de um publico que cresce todos os dias também já se faz emocionalmente, e o futebol feminino, cada vez mais, desperta paixões.

Do ponto de vista desportivo, estamos a assistir à predominância do futebol europeu e da América do Norte. Por outro lado podermos assistir à queda (ou ao difícil apuramento) de potências como o Brasil (com uma selecção demasiado envelhecida e claramente a necessitar de renovação), o Japão (cujo futebol em sido decepcionante e sem chama), a China (3ª classificada no seu grupo, vai ter de esperar para saber se ficou entre os 4 melhores 3ºs) ou a Austrália (que surpreendeu no seu jogo inaugural ao perder com a Itália).

Bem agradável e com uma desenvoltura técnico-táctica bem acima das restantes tem sido o futebol praticado por França, E.U.A, Canadá e Alemanha (esta com um futebol mais físico e táctico, mas extremamente compacto e eficaz). Parecem-me ser estas as selecções mais bem apetrechadas para conquistar o troféu, mas, numa segunda linha, há que contar também com as selecções de Holanda, Suécia e Inglaterra ou mesmo com a Noruega. Presenças acima da expectativa têm sido as de Espanha e Itália a jogar um futebol com muitos momentos interessantes mas a que falta ainda a consistência para se perfilarem como reais candidatos.

No reverso da medalha, uma palavra para a comunicação social portuguesa (desportiva ou generalista), para quem algo que se está a tornar num novo fenómeno desportivo de massas, parece não ter qualquer interesse noticioso. As transmissões para Portugal limitam-se ao Streaming da RTP Play e são de uma qualidade atroz, com constantes quebras e a retoma sempre com obrigatoriedade de ter de “mamar” com 1 minuto e 10segundos de 2 anúncios (um da RTP e outro do Mundial) sem hipótese de “skip”; como houve jogos em que tive de suportar 16 (!!) quebras, imaginam quanto tempo de futebol consegui ver.

Finalmente, uma chamada de atenção para a nossa própria televisão (que quando cascamos nos outros também devemos ver o que temos me casa): com tão poucos conteúdos, particularmente e época de defeso de quase todas as modalidades, não teria sido muito difícil fazer um pequeno programa diário com a presença de uma das nossas treinadoras e das nossas atletas, passando curtos resumos dos jogos, comentados por essas convidadas, até mesmo incluindo esclarecimentos de ordem técnica e táctica, de apreciação colectiva e individual e de realce de momentos de cada jogo, até como forma de promover a modalidade. Estou certo que conseguiriam, com alguma facilidade, fazer um programa para estar no top das audiêncais de verão do canal. Ainda vão a tempo de fazer uma rubrica para a fase a eliminar: oitavos de final para a frente. Não faltarão bons jogos e boa matéria noticiosa.

Próximos jogos da fase de Grupos a não perder:
Brasil-Itália, no dia 18, às 20h de Lisboa (que poderá decidir o afastamento de um deles ou até uma decisãocomplicada com um grupo a fecahr com 3 equipas com 6 pontos);
Japão-Inglaterra, no dia 19, às 20h de Lisboa (que poderá determinar o afastamento do Japão ou a sua “repescagem nos 4 melhores terceiros);
Holanda-Canadá, no dia 20, às 17 horas de Lisboa (com ambas as equipas já apuradas, mas não só a decidir quem fica em primeiro do grupo, como a prometer um jogo de encher a vista, dado o futebol atraente que as duas selecções têm desenvolvido);
Suécia-EUA, no dia 20, às 20h de Lisboa (exactamente com os mesmos motivos de atracçaõ do Canadá -Holanda).

Um abraço a todos os tasqueiros com o desejo de bom futebol feminino!

* às segundas, o Álvaro Antunes faz-se ao Atlântico e prepara-nos um petisco temperado ao ritmo do nosso futebol feminino