Durou pouco o sorriso no rosto dos adeptos leoninos e depois dos sinais de melhoria o Sporting voltou a cair perdendo em casa, com três penaltis insólitos, frente a um Rio Ave que deixou a nu todos os problemas de uma equipa completamente perdida e dirigida por um treinador que não faz a mais pequena ideia sobre o que está a fazer

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É demencial. Não há palavras que consigam dizer o horror

Na ressaca daquele que tinha tudo para ter sido um fantástico final de tarde em Alvalade (jogo a começar a horas decentes, calor, sol a cair com estilo, belíssima assistência, várias famílias presentes), podemos disparar em várias direcções.

Podemos mandar Coates para a fogueira, apontando-lhe o dedo por ter cometido três penaltis, mesmo que um deles, o segundo, não o seja de forma alguma. É verdade que o uruguaio está completamente fora de forma, fruto de uma pré-época tardia e quase inexistente, e que vem acumulando erros, tal como o seu parceiro do lado, Mathieu, embora o francês tenha sido, muito provavelmente, o mais consistente jogador leonino ao longo da partida de ontem. Mas não é menos verdade que, actualmente, qualquer defesa do Sporting está sujeito a ser figura pela negativa, tal a inexistência de um processo defensivo e tal o passador que o nosso meio-campo se revela.

Em segundo lugar podemos (e devemos) apontar o dedo ao sr. Pinheiro. O sr. Pinheiro é um árbitro que está envolvido no esquema dos emails, das missas e dos padres. Um corrupto, portanto. E, ontem, fez em Alvalade aquilo que jamais fará na luz ou no dragão: assinalou três penaltis contra o Sporting, o primeiro discutível, o segundo inexistente, o terceiro claro. Pelo meio, não quis assinalar uma falta clara sobre Raphinha na área vilacondense e utilizou aquele critério que vai enervando tudo e todos em lume brando. Claro que o VAR não fica impune (na falta sobre Raphinha assobiou para o lado) e não deixa de ser curioso que nem num dos lances o sr. Pinheiro tenha tido necessidade de ir espreitar as imagens. São coisas que só acontecem em Alvalade, estádio onde nas bancadas há quem mais facilmente invada uma Academia para bater nos jogadores do que utilize essa amostra de masculinidade para colocar em sentido que nos prejudica há décadas.

Mas o que mais me incomoda nesta ressaca é o facto de estarmos a insistir num erro chamado Keizer.

Vi um pobre homem agarrado ao que restava da sua mulher
Errando pela baixa
Os olhos fixos num horizonte perdido
Sem uma palavra Sem um som

Keizer está em Portugal há dez meses. E ao fim de dez meses o Sporting não tem fio de jogo, não tem processo defensivo, não tem processo ofensivo. É uma equipa perdida, anárquica (quantas vezes Wendel e Doumbia se atropelaram, quantas vezes os alas quase chocavam com os médios que faziam o movimento de dentro para fora?), à imagem de um treinador que não percebeu o clube e não percebeu o campeonato onde está, mesmo depois de um estágio intensivo de seis meses.

A forma como o Sporting reage às incidências do jogo é sintomático da mentalidade de Keizer algo que, obviamente, influencia a equipa: assim que se apanha em vantagem, a opção do treinador é recuar linhas, oferecer a posse de bola e começar a meter defesas ou médio defensivos lá para dentro. Foi assim com o Braga, onde a equipa ganhou, mas, como aconteceu ontem, podia ter perdido em casa tendo mesmo terminado a despachar bolas para onde fosse possível. Foi assim em Portimão, com a felicidade de Bruno e Raphinha terem tirado o coelho da cartola e matado o jogo com o terceiro golo.

E foi assim ontem. O Sporting tinha entrado mal na segunda parte, à semelhança do que tinha acontecido na primeira (inexplicável como treinador e presidente comentam o sorteio da Liga Europa assumindo que o importante é o campeonato e a equipa surge tolhida, sem chama, incapaz de assumir esse desejo de chegar em primeiro o fim da maratona), Renan tinha defendido a única grande oportunidade do Rio Ave para lá dos três penaltis, mas aparecia Luiz Phellype a fuzilar uma bola perdida dentro da área. A cerca de 40 minutos do final da partida o Sporting virava o marcador e tinha caminho aberto para os tão desejados três pontos.

Acontece que a partir desse momento deixou de haver Sporting. Tirando as loucas correrias de Raphinha, a pressão com o coração feita por Vietto e por Bruno Fernandes ou o esforço de Acuña para estar em todo o lado na canhota o que se via era uma equipa à toa. Junto ao banco, Mister Klementina brincava ao homem estátua. E quando a equipa estava no limite do encolhido e do atarantado e quando todos os que estavam a ver o jogo já tinham percebido que, assim que pudesse, o Pinheiro nos ia enfiar um enorme ramo no cu, ele decidiu tirar Vietto, o gajo que estava a ser mais esclarecido com a bola nos pés (e diz o holandês que o problema foi não termos segurado a bola), e colocar Borja.

Ah, a doce sensação de trancar a janela em dia de ameaço de vendaval. Que se lixe se nessa altura (80 minutos) o Rio Ave tinha mais posse de bola (53%-47%), maior eficácia de passe (81%-78%), mais passes efectuados (427-378) e mais duelos ganhos (46-36). Todas as fichas estavam no espírito guerreiro dos jogadores, que se esta merda resultou em duas taças há-de resultar num campeonato. Só que não. E desta vez nem Renan foi capaz de defender um dos remates da marca de grande penalidade.

As pessoas apressavam-se por causa do cair da noite
E o pobre homem seguia um destino sem rumo
Arrastando o seu cadáver
E o pobre homem
Seguia um destino sem rumo
Arrastando o seu cadáver
Ninguém dizia nada
O silêncio
Acompanhava o olhar vazio. A dor

Ficha de jogo
Sporting-Rio Ave, 2-3

4.ª jornada da Primeira Liga
Estádio de Alvalade, em Lisboa
Árbitro: João Pinheiro (AF Braga)

Sporting: Renan, Thierry, Coates, Mathieu, Acuña (Gonzalo Plata, 90+1′), Doumbia, Wendel, Bruno Fernandes, Raphinha, Vietto (Borja, 79′), Luiz Phellype
Suplentes não utilizados: Luís Maximiano, Neto, Eduardo, Rafael Camacho, Diaby
Treinador: Marcel Keizer

Rio Ave: Kieszek, Nelson Monte, Borevkovic, Aderlan Santos, Matheus Reis, Tarantini (Jambor, 74′), Filipe Augusto, Nuno Santos (Carlos Mané, 68′), Diego Lopes, Mehdi Taremi, Bruno Moreira (Ronan, 79′)
Suplentes não utilizados: Paulo Vítor, Pedro Amaral, Messias Jr, Gabrielzinho
Treinador: Carlos Carvalhal

Golos: Filipe Augusto (gp, 6′ e 90+1′), Bruno Fernandes (20′), Luiz Phellype (53′), Ronan (gp, 86′)

Ação disciplinar: cartão amarelo a Coates (4′ e 89′), Filipe Augusto (18′), Matheus Reis (57′); cartão vermelho por acumulação a Coates (89′)