Há quem tenha visto evolução em mais uma derrota, eu vi uma derrota onde o Sporting teve uma oportunidade de bola corrida, duas de bola parada e acabou a substituir o único ponta de lança do plantel, numa partida onde o padre Veríssimo esteve em grande e onde, imagine-se, foi promovido o regresso do losango. Resultado? Estamos a 10 pontos do líder

silas-tondela

O Tondela voltou a derrotar o Sporting, o Sporting voltou a perder pontos com o Tondela e isto diz muito do que tem sido o Sporting das últimas épocas. Ontem, então, voltou a ficar claríssimo o quão pouco a equipa beirã joga se não tiver oportunidade de lançar as duas ou três lambretas que tem para o contra ataque, mas ficou também claro o quão pouco o Sporting tem de criatividade ofensiva.

Sem Mathieu, que ficou a descansar para não dar o berro, Tiago Ilori surgiu a fazer dupla com Coates no centro da defesa. Na frente, Jesé Rodríguez deu lugar a Bolasie e, ao meio, Miguel Luís entrou para o lugar de Eduardo. Com estas mudanças, Silas não só fez gestão de um plantel que voltará a jogar na quinta-feira e no domingo, como recuperou aquele desenho táctico que aina nos provoca suores frios, o losango, onde Bruno Fernandes era médio interior esquerdo e Vietto aparecia na posição 10.

Não sei quais os objectivos que nortearam tal desenho táctico, mas sei que a equipa teve total controlo de jogo, não permitiu transições rápidas ao adversário e foi tentando construir a meio-campo com esporádicas tentativas dos laterais se integrarem e criarem desequilíbrios. O problema foi o resto. Chegado ao último terço do terreno, um total deserto de ideias. E uma única situação de perigo, logo a seguir à meia hora, com Miguel Luís a desperdiçar inacreditavelmente uma bola que cheirava a golo na linha da pequena área. O remate saiu por cima e o Sporting foi para o descanso sem ter realizado um único remate enquadrado.

Mas antes do apito para o intervalo, o senhor que nele sopra resolveu fazer das suas. Fábio Veríssimo viu, e bem, uma entrada para vermelho de Filipe Ferreira sobre Doumbia. Mostrou-lhe o cartão e, depois, escutou o VAR. Foi ao ecrã, viu os pitons uma e outra vez a projectarem-se à perna de Doumbia, mas, vá lá saber-se porquê, decidiu transformar o vermelho em amarelo, escrevendo mais uma página de vergonha nesta verdadeira enciclopédia do futebol português.

Na segunda parte, mais do mesmo, com a surpresa extra de Silas retirar de campo o único ponta de lança com que conta e o único homem capaz de dar luta aos centrais dentro da área. Luiz Phellype saiu (foda-se, ó Silas, se o estás a poupar para a Noruega vai à merda, que o Pedro Mendes não jogou pelos sub23 e tens homem para ser titular na quinta) e entrou Jezé, vá lá saber-se para jogar onde. Depois viria Camacho, para o lugar de Bolasie, e o Sporting entretinha-se no carrossel da bola de pé para pé, sem que houvesse um capaz de dispará-la à baliza a não ser em dois livres, ambos apontados por Bruno Fernandes, rapaz que chegou aos 85 minutos como rei das estatísticas com 3 remates enquadrados, 2 passes p/ finalização, 7 passes longos eficazes, 2 dribles eficazes e, ainda, 8 acções defensivas.

Dá que pensar, olhando para esta verdadeira manta de retalhos que quem é responsável pelo futebol profissional montou para atacar esta época, o que teria acontecido se a direcção tivesse conseguido cumprir o objectivo de vender o camisola 8 para suprir necessidades financeiras. E dá que pensar que raio de milagre terá que acontecer para uma equipa que, segundo o treinador que chegou há mês e meio, privilegia o estancar dos erros defensivos, consiga parar de sofrer golos, neste caso no único remate que o adversário fez à nossa baliza.

É que se vês que isso é impossível, ó Silas, se calhar vale mais assumires isso como um facto e virares agulhas para a nossa quase incapacidade de fazer mossa nas balizas adversárias, nem que tenhas que meter o Coates lá à frente logo de início. Era capaz de ser coisa para agitar os adeptos que, ontem, praticamente já nem assobiaram mais uma derrota, num sinal de total descrença que devia ser levado muito a sério.

Ficha de jogo
Tondela-Sporting, 1-0
10.ª jornada da Primeira Liga

Estádio João Cardoso, em Tondela
Árbitro: Fábio Veríssimo (AF Leiria)

Tondela: Cláudio Ramos; Yohan Tavares, Bruno Wilson, Philipe Sampaio; Moufi, João Pedro (Jaquité, 74′), Pepelu, Filipe Ferreira; Murillo, Xavier (Richard Rodrigues, 46′) e Tomislav Strkalj (Jonathan Toro, 59′)
Suplentes não utilizados: Niasse, João Reis, Ricardo Alves e Castillo
Treinador: Natxo González

Sporting: Renan Ribeiro; Ristovski, Ilori, Coates, Acuña; Doumbia (Eduardo, 69′), Miguel Luís, Bruno Fernandes; Vietto, Bolasie (Rafael Camacho, 79′) e Luiz Phellype (Jesé Rodríguez, 63′)
Suplentes não utilizados: Luís Maximiano, Neto, Borja e Rodrigo Fernandes
Treinador: Jorge Silas

Golo: Bruno Wilson (88′)
Ação disciplinar: cartão amarelo a Xavier (5′), Doumbia (11′), Filipe Ferreira (45+4′), Cláudio Ramos (49′), Eduardo (71′), João Pedro (73′) e Vietto (90+5′)