Antes da Lei Bosman (1995) era habitual os grandes clubes de Portugal elaborarem listas de dispensas em cada final de temporada. Por um lado, nem custos de aquisição nem salários eram muito elevados, logo era fácil o acordo clube-jogador para se colocar termo à relação; por outro, raramente se transferiam futebolistas para o estrangeiro dada a limitação que iria desaparecer a meio da década de 1990. Era um tempo em que imperava o amadorismo, mas, repito, como os custos associados às operações não eram muito significativos, era assim que se procedia.

Lembrei-me deste tempo de amadorismo quando ontem fui confrontado com a ‘lista de dispensas’ do Sporting, escarrapachada em todos os jornais desportivos, por força de uma exclusão de partes face aos convocados para seguirem para o estágio em Lagos. Há uma semana tinha dado uma pequena achega a este tema e em dado momento escrevi: “ Os possíveis interessados sabem agora estar a negociar excedentes, pelo que podem comprar em baixa, não pagando sequer verbas equivalentes às gastas pelo Sporting, ou podem negociar empréstimos vantajosos, sem obrigação de compra e até exigir alguma repartição de salários.”

Escrevi isto mas no fundo queria acreditar que a administração da SAD sabia mais, conseguia e iria fazer melhor. Sim, foi ingenuidade minha. De repente o quadro fica ainda pior e as consequências são evidentes: o Alavés só quer Battaglia por empréstimo, não estando sequer interessado em pagar uma taxa de cedência que se veja. Fica com a opção de comprar em junho de 2021 um médio de 29 anos (a um mês de fazer 30) por 5 milhões. Sabem quando tal opção será exercida por esse valor? Nunca.

Por outro lado, há ainda que encontrar solução para Eduardo, que custou 3 milhões; para Camacho, que custou 5,6 milhões; para Rosier, que custou 5,26 milhões (mais o valor – 1,5 milhões – que o Sporting recusou em proposta concreta para vender o passe de Mama Baldé); para Ilori que custou 2,4 milhões. Só aqui, em contas sérias e não naquelas de brincar que o garoto Bernardo faz nos editoriais do Jornal Sporting, estão 17,76 milhões de euros! Estes jogadores foram contratados pela SAD hoje gerida por três cachopos que, com o dinheiro que não é deles, fazem experiências de investimentos , as quais só haviam testado há poucos anos, no Monopólio e no Football Manager.

Aceitando a ‘exigência´ de um treinador que vive a sua primeira experiência de montar um plantel, a SAD permite que Acuña e Palhinha sejam colocados a treinar à parte do grupo, porque Amorim só queria ter nesta fase os jogadores com que contará para a temporada 20/21, diz a explicação oficial. Lá está, o Sporting está a negociar a venda dos passes destes dois futebolistas mostrando o jogo aos possíveis interessados: quanto pagam por estes que não queremos? Isso seria apenas ridículo, não se tratasse de mais uma evidente demonstração do que é uma gestão danosa.

Cabe aqui perguntar qual o nível de responsabilidade atribuído a quem, no departamento de scouting, validou as aquisições de Rosier, Camacho, Eduardo e Ilori? Porque não falamos de aquisições ‘custo zero’. Estamos, sim, perante operações onerosas, algumas das quais ainda nem sequer liquidadas na sua totalidade. Podem dizer-me que num passado recente erros destes ou de tamanho ainda superior também foram cometidos. É verdade, mas quem estava à frente do scouting em 16/17 deixou de ser levado em conta daí em diante, precisamente por ter validado, entre outros, Alan Ruiz ou Spalvis. Vão dizer-me que a responsabilidade destas aquisições de Varandas foi de Raúl José, elemento que por acaso deixou de trabalhar para o Sporting? Ou foi de quem estava, e continua a estar, à frente do departamento?

Quem atira dinheiro para o ‘lixo’ desta forma não tem qualquer moral para se queixar da falta de recursos financeiros para dotar a equipa de melhores jogadores. Os recursos existem sempre, em maior ou menor quantidade, têm é de ser geridos com rigor, palavra desconhecida a quem administra atualmente a SAD.

É muito fácil atirar areia para os olhos de Sócios e adeptos escrevendo que entre Setembro de 2018 e o dia de hoje o plantel do Sporting custa menos 18 milhões por ano. Claro. Saíram Nani, Gudelj, Bas Dost, Bruno Fernandes, Raphinha e Mathieu, entre outros. Por isso o Sporting passou de vencedor de duas taças para 4º classificado. Se o garoto Bernardo experimentar fazer as contas depois das saídas de Acuña e Battaglia até aumenta esse valor para mais de 20 milhões. Seria um Sporting campeão do ajustamento salarial não se desse o caso de continuar a custar cerca de 50 milhões, sem que se vislumbrem valores futebolísticos que justifiquem tamanha folha de pagamento.

E o problema é que o propósito do Sporting é ser campeão nacional, não o campeão da redução orçamental. Quer dizer, o propósito para os Sócios e adeptos é o de ser campeão, porque para a administração o objectivo é ‘fazer melhor que na época passada”, e isso até deve ser fácil uma vez que a equipa nunca perdeu tantas vezes como em 19/20, e somar menos de 60 pontos é tarefa quase impossível.

Texto escrito por José Ribeiro in Leonino
*“outros rugidos” é a forma da Tasca destacar o que de bom ou de polémico se vai escrevendo na internet verde e branca