Como fiel seguidor das modalidades, sei bem o que custou a todas as outras o regresso do basquetebol ao Sporting! Eu sou daqueles que achei que tínhamos encontrado uma relação óptima entre número vs qualidade relativamente às modalidades. Estávamos presentes nas modalidades mais praticadas no país, com equipas bastante competitivas para lutar pelos troféus nacionais e troféus europeus ou prestações condignas com o nosso nome, prestígio e grandeza na Europa.

No entanto, quis o destino que esta secção fosse reativada com a eleição da actual direcção. E já que cá está é fazer como diz a canção: “… não é só para te ver, não é só para te ver é para apoiar…”! À equipa de basquetebol, refiro-me à equipa…

A secção foi montada com cabeça, tronco e membros, pensada de forma séria e com um projecto bem estruturado em mente. A escolha do treinador, seus adjuntos e restante equipa técnica, do director e, finalmente, dos jogadores foi feita com um intuito – Ganhar! Já!

Na época passada, quando a época foi interrompida, estávamos na liderança do campeonato, apenas com uma derrota na Luz, com o melhor ataque (o melhor da última década na liga) e a melhor defesa do campeonato, com vitórias sobre o Benfica e a Oliveirense no João Rocha e sobre o Porto no Dragão Arena. Tínhamos acabado de eliminar a Oliveirense na Taça de Portugal, em Oliveira de Azeméis e, nas jornadas que se seguiriam, jogaríamos novamente, em Oliveira de Azeméis, frente à UD Oliveirense e, no João Rocha, frente ao FC Porto. É certo que fomos eliminados nas meias finais da Taça Hugo dos Santos pelos bicampeões Oliveirense no primeiro troféu que tivémos oportunidade de conquistar, mas todos estes dados indicam que seria uma inevitabilidade a conquista de troféus por parte desta equipa. Não digo que fôssemos ganhar tudo, mas algum troféu iríamos conquistar.

E esse troféu surgiu agora, com a conquista desta Taça de Portugal! Mas vamos aos jogos.

É sempre ingrato fazer um resumo passados vários dias após o jogo. Já todos viram o jogo ou resumo, já leram em “n” sítios o que se passou, portanto, vou tentar ser breve, focando os pontos essenciais.

A meia-final frente ao Vitória (vulgo Guimarães), mostrou um Sporting com um maior ritmo competitivo, a mandar no jogo desde cedo e a conseguir fazer funcionar, muito bem, a relação entre o jogo interior e exterior. Depois de um primeiro período, diria quase avassalador (23-12), seguiu-se um segundo, mais morno, mas igualmente bem jogado. Chegámos ao intervalo a vencer por uns esclarecedores 42-26!

Na segunda parte, o jogo muda. Mérito do Vitória, que é bem orientado por Carlos Fechas (treinador para outros vôos no futuro) e com jogadores interessantes, mas, também, por demérito nosso. Houve um natural relaxamento de quem tinha uma vantagem confortável e já estava a pensar na final do dia seguinte frente ao FC Porto. O Vitória surgiu mais forte defensivamente, equilibrou o jogo em várias vertentes e tornou-se dominador ou vencedor noutras. Aos 17 pontos conseguidos em contra-ataques (contra os nossos 4!), juntaram-lhe 35 ressaltos ganhos (contra 34 nossos), 5 roubos de bola (o mesmo que nós), 25 pontos vindos do banco (contra 18 nossos) e melhor percentagem de lançamento de 2 pontos (53% contra os nossos 51%).

Ganharam o 3º período por 20-25 e estiveram perigosamente a 3 pontos de distância, com 65-62 no marcador, a cerca de 6 minutos do final do jogo, mas 4 triplos consecutivos de Ellisor e Travante (2 cada um) mataram o jogo, a meu ver. No final, uma vitória para o Sporting por 85-71, justa, mas suada, como todos os confrontos que já realizámos com o Vitória.
Destaques individuais para Bailey Fields (MVP do jogo com uma eficiência de 35,5) com 24 pontos e 12 ressaltos, Shakir Smith com 11 pontos e 9 assistências e Travante Williams com 19 pontos e 5 triplos.

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Na final, um jogo diferente.

Quem viu a meia-final com o Benfica e os jogos da época passada, percebeu facilmente a importância de Max Landis na equipa do FC Porto. A equipa técnica do Sporting também.

Ambas as equipas tinham as estratégias bem definidas para este jogo. O Sporting iria carregar no jogo interior e tentar tirar partido disso, através de Fields ou do espaço que se criava no jogo exterior para os seus lançadores (vão ler muitas vezes isto ao longo desta época), mas também do mismatch que é ter Max Landis a marcar individualmente James Ellisor. Já o FC Porto trabalhava bem o seu ataque, com bloqueios sucessivos, de forma a libertarem Landis. Quando o desequilíbrio na defesa estava criado, Landis atirava ou jogavam de forma a encontrarem o homem livre e o melhor lançamento.

Landis termina a primeira parte com 17 pontos marcados e era como uma ferida aberta na nossa defesa. Ofensivamente, não estivémos bem na primeira parte! Ataque muito atabalhoado e pouco organizado, mas fomos conseguindo manter-nos por perto no marcador.

Ao intervalo, ganhámos o jogo. A equipa técnica, liderada por Luís Magalhães, decide colocar Francisco Amiel e Diogo Araújo em campo e mudar a defesa de homem a homem para uma zona mista (algo que foi trabalhado para este jogo, porque não é muito habitual ser usado, sobretudo, no Sporting). E aqui começa a reviravolta no jogo.

O Sporting começa a funcionar defensivamente! Amiel marcava Landis homem a homem e os restante 4 jogadores defendiam numa zona 2-2, com Ellisor e Diogo à frente e os postes atrás. O Porto não estava à espera deste “box and 1” muito móvel e agressivo e não conseguia lidar com isso (porque atacar uma defesa mista requer treino e trabalho), nem libertar Landis como conseguiu na primeira parte. O americano perdeu ritmo de lançamento e terminou a segunda parte com apenas 4 pontos, metade dos quais da linha de lance livre!

O Sporting, que é uma equipa que se alimenta e vive do seu trabalho defensivo, começou a ganhar confiança e, no ataque, com maior critério, organização e jogo de 2×2 que Amiel trouxe do banco, começou a recuperar no marcador. Amiúde alternávamos para defesa a homem, mas, rapidamente na jogada seguinte, regressávamos ao box and 1 ou a uma zona 2-3, de forma a baralhar o ataque do Porto (algo que se faz habitualmente). A anti-vedeta Ellisor começa a surgir ainda mais no encontro. O Sporting, que tinha estado apenas 29 segundos na liderança na primeira parte, consegue agora uma almofada de 9/10 pontos que se foi mantendo quase sempre até ao 87-78 final!

Em termos individuais, Fields voltou a ser o MVP do jogo, com um eficiência de 33 e mais um duplo-duplo (18 pontos e 13 ressaltos), contámos com 24 pontos de um “vintage” Ellisor (foi um líder no 1º,3º e 4º períodos) e com todo um trabalho defensivo colectivo, onde Diogo Araújo e João Fernandes, mas, sobretudo, Francisco Amiel foram determinantes. Este último juntou ainda 10 pontitos, 2 triplos e muito critério no ataque. Há boas prestações que não se refletem na estatística e a do Amiel foi uma delas ou, como eu gosto de dizer, “há o MVP da estatística e, por vezes, há o MVP do jogo jogado!”.

Dominámos no jogo interior (38 pontos na área pintada contra 16 do Porto), fizémos 16 pontos resultantes de turnovers contra os 3 do Porto; cometemos apenas 8 turnovers no jogo (!) contra os 15(!) do Porto), tivemos o dobro dos roubos de bola (8 contra 4) e tivemos uma muito melhor percentagem de lançamento de 2 pontos (57% contra apenas 42% do nosso adversário). Estas são as estatísticas que ajudam a explicar, ainda mais, o que se passou no campo.

O Porto foi um justo vencido e será um dos fortes adversários no campeonato (que se inicia este fim-de-semana) e restantes taças internas, juntamente com Benfica e Oliveirense.

40 anos depois, o Sporting volta a ganhar uma Taça de Portugal no basquetebol. Um caneco anunciado!

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*quando o nosso Basquetebol entra na quadra, o Tigas dispara um petisco a saber a cesto de vitória sobre a sineta